Inocência
Há muitos sítios no mundo onde a culpa morre solteira, em Timor morre solteira, “virgem” e alegadamente sem nunca ter sido vista sequer a andar de mãos dadas com quem quer que fosse.
Continuamos em crise. O clima de insegurança mantém-se. Os rumores não desaparecem. Multiplicam-se as versões para uma só história dramática, daquelas que deitam muito, imenso sangue! Melhor dizendo, há versões para todos os gostos. O bandido como o herói tem várias caras.
E “diz-se” muita coisa. Mas ainda que muita coisa se diga, tudo ronda à volta da crise, da situação, da insegurança…
Crise, insegurança, medo, armas, rama ambom, FDTL, Polícia, australianos, GNR, heróis, bandidos, líderes, golpes, partidos, pedradas, pedras, refugiados, campos, golpes, dinheiro, bebida, rumor, boato, morte, sangue… são palavras repetidas até à exaustão, todos os dias, a qualquer hora.
Ouvem-se histórias parecidas sobre a vitória acidental de alguém que escapou a uma pedrada, sobre a desgraça de outro alguém que passou na hora errada pelo lugar errado; relato de alguém que emudeceu repentinamente com receio de que a pronúncia o/a denunciasse. Choros, lágrimas, revolta, dor silenciada de quem perdeu um familiar quando menos o esperava e pressa na homenagem a quem partiu desta Vida, porque o perigo está à espreita…
Todos estão certos de que o vizinho com quem não se simpatiza é o bandido, ninguém ignora que o político de quem não se gosta faz parte do grupo de golpistas, tal como também ninguém desconhece que o seu herói não passa de um vulgar bandido…
Assiste-se a uma completa desvergonha, a uma absoluta inversão de valores. Aceite, apesar de tudo!
Falamos de reconciliação. Mas vamos somando ódios, desconfiança, insultos… Perdemos as referências. E vamo-nos matando…
Estamos numa encruzilhada e teimamos em não escolher o melhor, o único caminho. Queremos paz, tranquilidade, mas nada fazemos porque isso é trabalho de outrem… enquanto outros buscam a paz, nós vamos estando assim. De braços caídos, esperando; ou vamo-nos deixando ficar ao sabor dos nossos humores, de um humor corrosivo, mortífero!
Quereria escrever sobre o que Timor tem de bonito, sobre o lado apetecível deste pais. Quase me sinto culpada por querer escrever sobre a beleza, os hábitos e costumes de Timor! E café em flor, festas, praias, paisagens, paz, calma, segurança, o que quer que me ocorra afigura-se-me fabricado, falso. Como se em Timor nada mais houvesse para além da crise, insegurança, medo, armas, rama ambom…
Até quando?
Um homem de determinada zona foi morto por outro de diferente ponto geográfico.
E porque um campeão não gosta de perder, foi em nome da zona geográfica do executor e da necessidade de marcar mais um ponto no campeonato dos homicídios que novo executor deu asas à sua fúria assassina. E assim surgiu mais um matador. E assim foi morto mais um homem. Na praia. Porque o executor tinha de se mostrar mais campeão, porque o homicida sabe que pode matar impunemente; porque a vingança anda à solta e de braço dado com o desvario que atacou Timor-Leste.
Dizem muitas vozes que o morto da praia implorou que não o matassem, que tinha filhos, que parassem. De joelhos, chorando… Debalde! Os outros não se comoveram e mais uma vida foi ceifada em nome de coisa nenhuma. Ou do ódio, da alienação, da insensatez.
Cada dia que passa tornamo-nos mais bárbaros, mais loucos, mais irracionais. Gente perturbada! Nada nem ninguém se respeita. O país está destruído. A vida perdeu todo o valor. Mata-se, pelo simples gozo de matar.
E, se se cumprir o dito de que na vida é mais frequente a vitória dos maus sobre os bons, o mau que está por detrás deste desvairo colectivo e que vier a ganhar o país para si, sairá – ou sentir-se-á -vitorioso mas herdará uma terra de ninguém.
A zona mais complicada da cidade nestes últimos dias, a esta hora da noite, até parece um mar de calmaria!
Não fossem duas carrinhas brancas da ONU estacionadas junto ao açafate gigante que faz as vezes de monumento na rotunda do aeroporto, a coberto da escuridão e a recordar-nos que aí estão para manter a segurança, e todos pensaríamos que a paz tinha voltado. Pura ilusão!
Está tudo silencioso. Claro, os campeões precisam de descansar que o amanhã exige sempre que estejam cheios de energia, bem dormidos, bem descansados para que não lhes falte a força e a destreza! Para que a pedrada saia com força destruidora, certeira, fatal, melhor que a do adversário do outro lado da rua! Ganha o campeonato aquele que tiver mais perícia a destruir! A matar!
Quando ainda havia paz, no caminho interior (aeroporto-centro de Díli) tal como na marginal, as ruas animavam-se ao fim da tarde e o movimento das pessoas num vaivém constante estendia-se pela noite fora.
Na marginal, os petiscos nas improvisadas barracas junto da praia constavam de espetadas grelhadas, milho ou peixe assado; na via interna, junto à estrada, defronte das barracas em que viviam, vendia-se excelente leitão assado, com a pele tostadinha e molho de “sutate” (um misto de soja, mel e especiarias) com ou sem piripiri. Grelhado a preceito, servido com apuro pela vendedora de luva de plástico calçada, o leitão satisfazia até o gosto dos amantes mais exigentes da boa comida.
Mas, logo a seguir aos incidentes do fim de Maio, incendiaram as barracas daquela zona e as vendedoras que me pareciam vietnamitas desapareceram.
Há pouco mais de um mês, porém, fizeram uma tímida reaparição. Duvido que o negócio esteja a florescer. A zona desertificou-se; as pessoas fecham se em casa mal o sol se esconde; deixou de haver segurança para que alguém cometa a ousadia de tentar fazer vida de noctívago (entenda-se, até às 21h00, 21h30…)
Lá mais para a frente, os vendedores dos veículos “tiga-roda” (três rodas), de lamparina acesa para espantar a escuridão, vendiam bebidas, caldo quentinho, fritos variados e algumas especialidades com sabor mais indiano e indonésio que timorense. Aqui e além, viam-se grupos de jovens, sentados à beira da estrada conversando, sem cuidar de saber da passagem tangente dos carros …
Nem foi assim há tanto tempo. Em Abril ainda era assim. Agora, esfumou-se tudo. Tudo agora são recordações de um outro dia em que ainda era possível ter a veleidade de pensar que Timor-leste havia sabido ultrapassar com competência os traumas do penoso período da ocupação.
Hoje… bem, hoje é tudo muito diferente. Hoje estamos nas bocas do Mundo porque somos anormalmente violentos, auto-destrutivos.
Hoje, as pedras espalhadas no meio da via pública estão ali a recordar-nos a cada instante que a paz está longe e elas podem ser lançadas sempre que os campeões quiserem…
Hoje, estamos noutra! Hoje, mata-se em cada esquina, em qualquer hora, por qualquer ou sem motivo nenhum.
As memórias desse outro tempo provocam-nos alguma desesperança. E desgaste também.
Cansa e não é fácil ter de estar assim, de braços caídos, assistindo a este desnorte colectivo, impotente, simplesmente, apenas à espera que a loucura dê lugar ao discernimento!
De manhã, entendi o porquê de tanto alvoroço.
Eram oito horas quando saí de casa. A meio da rua encontrei o Jonhny que me pôs ao corrente da situação:
- A noite foi má… Nem dormimos! Há meia hora, houve confusão e muitas pedradas, mas as forças internacionais chegaram e todos sossegaram. Vá com cuidado. Mantenha os olhos bem abertos!
Realmente, ali na rotunda do aeroporto, o ambiente era desolador. As pedras, enormes!, enchiam a via, umas casitas, pequenas, estavam destruídas. E à entrada para o aeroporto estavam estacionadas as forças australianas, parecendo atentas ao movimento na zona. Aparentemente, havia segurança. Só não havia funcionários nem veio avião…
Lá mais para a frente, mesmo à entrada da ponte, estavam as forças malaias. Controlando o movimento do bairro de Bebonuk.
Prossegui o meu caminho e só no local de trabalho soube que hoje, a exemplo de ontem, era feriado. Fim do Ramadão.
De regresso a casa, a agitação e o movimento na rotunda já eram bem grandes, tendo-se alastrado à rua onde moro. Disse-me um transeunte que as coisas continuavam feias…
A via principal foi cortada ao trânsito e, precisando de voltar ao centro da cidade, fui pela ribeira. Durante todo o dia, manteve-se o alvoroço especialmente em Comoro, mas não só aqui.
Balanço de mais um dia de agitação na cidade de Díli:
Barreiras. Controlo do movimento dos carros. Incêndios de casas e tendas. Troca de provocações, pedradas e insultos. Atiraram-se culpas. Um homem morreu. Três elementos das forças internacionais ficaram feridos, com mais ou menos gravidade. E nós perdemos um pouco mais de amor-próprio. E também nos destruímos mais um pedaço.
Todos se mostram cansados. Todos dizem que o povo timorense não merecia isto. Alvitra-se que alguém estará por detrás desta desordem. E deixa-se, permite-se que o desordeiro continue a agir impunemente.
Não sei se poderemos considerar a violência como uma questão cultural, algo que herdámos dos nossos antepassados, avoenga… Se assim é, quanto tempo mais será preciso para extirpar esta característica menos boa da nossa cultura? Ou vamos aceitar que, sendo parte da cultura, é intocável e, sendo intocável, é vulgar, comum, fatal que nos destrua até que não tenhamos nada, até que não sejamos ninguém, até que deixemos de ser Nação?
De repente, ouvem-se as sirenes e, logo a seguir, os gritos de uma multidão em correria; ao mesmo tempo, o toque de alarme da sineta, o aviso de ataque iminente.
Encho-me de coragem e, do portão, dou uma espreitadela. Em país de rumores, ei-los que surgem rápidos como o vento; cada um conta a sua história. Tudo gira em torno da violência. Aliás, este foi mais um dia marcado pela violência. Assiste-se ao agravamento da situação com a instabilidade, a tensão e a violência a aumentarem de tom desde que foram conhecidas as datas das próximas eleições presidenciais e legislativas.
Repete-se até à exaustão a pergunta: aonde iremos parar?
Ninguém parece ter resposta e as soluções tardam.
Cheguei esta manhã de Darwin. O passeio que separa os parques de estacionamento do aeroporto está cheio de tendas; substituiu uma grande extensão do campo de refugiados que ficou em muitas más condições aquando da primeira chuvada da época.
Junto ao terminal das malas, vêem-se muitos garotos e suas mães displicentemente sentados, distraídos, observando, acompanhando o movimento do aeroporto. Sentem-se em sua casa. Mexem-se bem. Estão à vontade.
As crianças do campo, tal como faziam outras crianças desde o tempo da UNTAET, oferecem-se em bando para fazer segurança ao carro, transportar as malas ou levar de volta o carrinho de transporte de bagagem, desejosos da gorjeta; tornam-se mais atrevidos quando percebem que o passageiro é estrangeiro, fazem cara feia mas ficam ligeiramente envergonhados quando se lhes diz em tétum que as crianças devem andar na escola e brincar em vez de trabalhar!
Tão depressa como surgiu, desaparece o alvoroço e tudo retorna ao silêncio.
Reconquistada alguma tranquilidade, oiço no espaço musical da RTTL um jovem entoando em tétum “Silvie, hau nia nurak”, uma versão de “Silvie, mon amour”.
Foram uns instantes breves, tive a ilusão de que a vida decorria calma e serena em Timor-Leste, senti-me transportada aos dias calmos da minha adolescência. Em simultâneo com a nostalgia desses tempos de paz, de mim se apodera alguma ansiedade e, de mim para mim, refaço a pergunta mil vezes feita, mil vezes abandonada, mil vezes sem resposta: aonde iremos parar?
Desconfiei e não levei a sério. Mas estava mesmo por detrás da porta o mafarrico malvado!
Realmente, mais vale viver o dia a dia, sempre à espera do perigo– que o diabo tece-as mesmo! - e não cair na tentação de imaginar que os dias estão mais calmos! Pelo menos não haverá sucessão de desilusões ao ritmo dos acontecimentos desagradáveis que se tornaram o prato do dia na cidade.
Em dois dias, ceifa-se a vida de dois seres humanos! Abatem-se mais depressa homens para gozo pessoal, estilo desporto, do que gado destinado a alimentação.
Vai alguém a enterrar? Pronto, surgiu a desculpa! Já lá vai o tempo em que o cemitério de Santa Cruz era respeitado! Agora, trocam-se pedradas, a ver quem tem melhor pontaria, quem danifica mais, quem mata mais depressa!
Nas ruas os assassinatos a sangue frio acontecem à vista de quem esteja por perto – tudo acontece natural e impunemente! - , os assassinos desaparecem céleres como o vento, não deixam rasto e preparam calmamente o ataque que virá a seguir!
Nos becos, nos bairros populares, os confrontos, os ataques, os roubos e as ameaças acontecem de forma igualmente traiçoeira mas mais dissimulada…
Passa uma mulher e tem o azar de trazer um relógio no pulso ou atende uma chamada no telemóvel? Ah, mas isso representa um insulto para o ladrão, o senhor! E é assim que em resposta ao murmúrio ameaçador “passa-me depressa isso para as mãos, porque senão…” a mulher passa ligeiro o que tem e lhe custou provavelmente um mês de trabalho não vá acontecer-lhe um acidente!
Aproxima-se a microlet e vem cheia de gente? Então é o momento de mandar parar o autocarro! E a pergunta sai em disparo de silenciosa arma, quase num sussurro, sem sorriso: quem está aqui de Lorosae, ou Loromonu (questão colocada de acordo com a origem geográfica do inquiridor em serviço) ?
Pobre de quem responder contra o que o inquiridor pretende! Temos castigo, pois claro!
O homem varre a rua, distraidamente, metido com os seus pensamentos? Talvez o faça como disfarce enquanto espera por uma oportunidade para surripiar o zinco “esquecido” no telhado do vizinho!
Do nosso país se dirá que “aqui vale tudo”!
De nós, timorenses, se ajuizará que somos uns selvagens.
Dos nossos líderes não faltará quem pense que subiram demasiado depressa e se deixaram deslumbrar pelo Poder. Pois é, o Poder cega! Tão cegos e tão impantes de vaidade porque tinham o Mundo a seus pés que se distraíram, tropeçaram e nem perceberam que estavam a conduzir o país para o caos!
Belzebu maldito! Ruim! Bicho nojento! Malvado Mafarrico!
A violência veio para ficar. Um jovem perdeu a vida. O atacante esfumou-se, desapareceu sem que ninguém mais o visse.
A paz tarda e nós estamos todos demasiado cansados. Todos, não. Ainda há alguém sedento de sangue e de vingança, cheio de ódio, enraivecido. Não fora isso, como se explica que alguém, um jovem, um ser humano e em pleno dia, tenha sido assassinado assim a sangue frio?
Em nome de quê e de quem se mata? Porquê?
Que objectivos perseguem os assassinos que, impunemente, actuam neste país?
Estaremos todos loucos? Estamos tão mal que nos esquecemos totalmente de que somos todos parte desta Nação?
Muitos, quase todos estão demasiado cansados, desiludidos, tristes, envergonhados, assustados. Mas encolhemos os ombros! Afinal, aconteceu com o outro… não connosco…Até um dia em que chegará a nossa vez. Se não fizermos nada. Se nos mantivermos de braços caídos à espera que surja um milagre e a paz seja restabelecida em Timor-Leste! E então será talvez tarde de mais. Não restará ninguém para contar. Sem timorenses, deixará de haver Timor-Leste.
É isto que se pretende para Timor-Leste? Quem pode desejá-lo?
Bela, a cerimónia de abertura dos Jogos da Lusofonia! Gostei. Tal como gostei que a televisão timorense a tivesse transmitido em directo.
Talvez que assistindo ao desfile de centenas de atletas de onze países e regiões onde se fala português, os descrentes e desconfiados da bondade da nossa permanência na CPLP tenham compreendido que esta comunidade é constituída por países independentes, soberanos, de todos os continentes, que não correm o risco de perder a independência e não vão ser de novo colonizados; que só há vantagens em integrarmos organizações nas quais haja interesses comuns. E o afecto, como a língua são, comuns aos oito países da CPLP.
Era bom que, de entre os desconfiados e descrentes, houvesse quem tivesse percebido que, em vez de fabricarmos à pressa novas e mal consubstanciadas amizades e alianças baseadas apenas em interesses de grupos e de ocasião, talvez fosse melhor consolidarmos os elos que já existem.
Vivi uns meses em Macau, entre 1982 e 1983; sempre que pude, revisitei a região, antes e depois da sua transferência para a China. Sempre me espantou o ritmo do desenvolvimento macaense! Conseguido por mérito próprio, é bom que se acrescente.
Recordo que, na década de 80, pouca gente falava português. Mas, hoje, é diferente. Macau percebeu que a diferença passava pela língua. E a China vendo que dai não viria mal nenhum, não bloqueou o ensino do português.
Perante aquele espantoso espectáculo de luz e de cor, muitos pensamentos me afluíram à cabeça ao mesmo tempo que fui experimentando sensações contraditórias entre a alegria, a tristeza, o orgulho, a vergonha, a humildade, a incerteza…
Mas hoje importa apenas o lado positivo, até porque “tristezas não pagam dívidas”.
Gostei de ver a minha gente - a do lado de cá, deste lado do Mundo que antigamente era Oceânia e agora passou a Ásia - , de ar alegre, sorridente, vestida de festa! Gostei do ar - entre o emocionado e o orgulhoso - do presidente do comité olímpico de Timor-leste, o meu irmão João, quando o Eládio Clímaco anunciou a entrada da delegação timorense.
Uns minutos antes já me tinha emocionado com a passagem da delegação de Portugal. E claro que gostei igualmente de ver os atletas do meu país de “charme europeu”!
Em momentos como este, nunca sei se sou mais timorense, se sou mais portuguesa. Sinto que sou as duas coisas. E gosto, gosto muito da minha condição de luso-timorense. Gosto muito de ser, adoro ser mestiça!
Ainda que saiba que ao afirmar isto, não faltará quem vocifere contra os mestiços que “não são carne, nem peixe, não são de uma terra nem de outra, não são brancos nem pretos”! Ou que sendo filha de uma mulher de Lorosa´e, não deveria estar em Loromunu, zona geográfica onde, aliás, nasci.
Talvez esteja ainda contagiada pelo ambiente de festa que a transmissão da TV deixava transparecer; talvez a transmissão tenha estimulado a consciência da minha mestiçagem e provavelmente sacudiu-me o suficiente para que me apercebesse de uma verdade incómoda: é que, muitas vezes, deixando-se levar pelas vozes dos fundamentalistas que acreditam que o Mundo é feito apenas de branco e preto, os mestiços sentem-se culpados da sua origem e mal reagem à marginalização. Tanto, que também os há os que se encolhem e os que escolhem uma parte em detrimento de outra! E, no entanto, deveria apenas sobressair o sentimento de profunda satisfação por serem fruto de uma união de dois seres provindos de lugares, educação e cultura diversa!
É por me sentir hoje tão segura e de consciência tão estimulada que concluo dizendo quanto lamento que haja quem se atenha a estas pequenas coisas de raça, de cor, ou de geografia e as utilize como arma de arremesso ou de insulto. Porque, quem assim se deixa ficar, quem assim pensa, quem assim segrega, nunca entenderá que o Mundo é povoado de seres humanos e esses não podem nem devem ser catalogados.