quarta-feira, janeiro 06, 2010 

Morreu o Major Ular

Morreu o Major Ular, oficial das F-FDTL, um dos históricos da Resistência e antigo comandante da Região 4 nos tempos da guerrilha contra a Indonésia.
O major Ular era um oficial de estirpe; sempre discreto, conciliador, afável, sempre com um sorriso tímido nos lábios; amigo de uma boa conversa, quando, em roda de amigos de outros tempos, esta se soltava, gostava de contar histórias interessantes da guerrilha, da profunda ligação entre as populações e os guerrilheiros, do sofrimento das gentes sempre prontas para defender os “seus” guerrilheiros das garras do ocupante e na busca da melhor forma de o enganar... Mas, raramente falava do seu próprio sofrimento... Nunca se referia ao facto de ter perdido, durante os tempos da ocupação, os irmãos e a sua primeira mulher que, grávida, foi, em Craras, barbaramente assassinada (com requintes de malvadez) pelos indonésios.
O seu amor pela terra reflecte-se no pequeno jardim cuidado ao pormenor e cultivado com esmero defronte da sua casa no Quartel-General das F-FDTL em Taci Tolu.
O seu carácter afável e conciliador fazia dele um mediador nato e, por iso mesmo, era sempre enviado para resolver os problemas difíceis de que é exemplo recente a intervenção junto de Gastão Salsinha – um dos homens de Alfredo Reinado - de que resultou a entrega deste ao Comando Conjunto.
De seu nome cristão Vergílio dos Anjos, o Major Ular (nome de guerrilha) era natural de Viqueque e um exemplo de que os timorenses sabem superar as suas diferenças e surgir unidos quando está em causa a defesa do seu país. É que o major Ular era um simpatizante da UDT e do Movimento de Onze de Agosto que, em 1975, opôs a UDT (União Democrática Timorense) à FRETILIN (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente). Logo a seguir à invasão indonésia, refugiou-se nas matas e integrou-se “sem problemas”, como gostava de frisar, nas FALINTIL, quando estas forças constituíam o braço armado da FRETILIN. Isto porque, como dizia, “estava em causa a sobrevivência da Nação. Era importante esquecer as simpatias partidárias”.
Que grande lição de nacionalismo!
Rendo-lhe a minha sentida homenagem.