No tempo dos portugueses, a base da alimentação dos timorenses era o milho. Também se comia arroz mas, particularmente nas montanhas, era o milho – a par da mandioca, do inhame, da batata doce - que constituía a parte de leão da dieta dos timorenses.
Com a entrada da Indonésia e a vinda de muitos indonésios - de quem efectivamente o arroz é o prato forte -, e a distribuição do arroz aos funcionários públicos, o milho quase desapareceu da mesa dos timorenses.
Reinam o arroz e o supermie, a massa instantânea. Ao “mata-bicho”, ao almoço, ao jantar…
Sinal dos tempos é que em mesa mais ou menos farta das festas dos timorenses, a par de iguarias de carne ou peixe, abundam as versões de arroz branco, eto fila (arroz salteado em cebola bem frita), arroz de açafrão ou arroz “fugado” (que é como por aqui se chama ao arroz de tomate) ou catupa (arroz de coco cozido em cestas de folhas de palmeira). Mas, do batarda´an, prato de milho, verde ou seco, pilado ou inteiro, confeccionado com papaia verde, amendoim, leite de coco e, na versão mais rica, com carne de porco e chouriço (tipo cachupa de Cabo Verde), nem vê-lo.. ou vê-lo pouco, discretamente... Salvo raras excepções! É que se espalhou a falsa ideia de que o milho é prato de gente atrasada pelo que timorense que queira parecer evoluído, “fino”, dele desdenha, pelo menos em público…
Curioso é o facto de que são os timorenses que regressaram ao país depois da independência após anos vividos no estrangeiro que, atrevidamente, comem, apreciam, saboreiam tanto a versão pobre como a rica do batarda´an, quantas vezes sob olhar atento, curioso por vezes, , outras tantas depreciativo, em desdém pelo menos aparente, dos que se habituaram ao arroz e sem ele se sentem com peixe fora de água.
Disto se fala entre timorenses, assumido que está – entre os que nunca saíram e os que voltaram ao país - o facto de que todos nos deixámos arrastar pela moda, pela aceitação da supremacia do arroz. Disto e de como os tempos mudaram. No tempo português, a produção de arroz em Timor era suficiente para os gastos da população e o governo provincial considerava mesmo a hipótese de se exportar o produto.
No indonésio, diz-se que a importação anual rondava as seis mil toneladas. Hoje, passámos para a importação em quantidades da ordem das dezenas de milhar de toneladas.
A escassez do produto no mercado mundial e o consequente aumento de preço do arroz deixam adivinhar dificuldades nos tempos mais próximos.
Ao deixar de fazer parte da actual dieta alimentar dos timorenses, a população quase deixou de cultivar milho, pelo que não se põe sequer a ideia de que o milho possa suprir as faltas do arroz no mercado.
É urgente e fundamental que se reeduque a população convencendo-a de que o milho é bem mais substancial que o arroz. E, para fazer frente às dificuldades que aí vêm, é tarefa inadiável incentivar o plantio do milho.
Antes que seja tarde demais…