segunda-feira, julho 30, 2007 

Impressões de um novo dia

Das palavras de Fernando de Araújo Lasama, o novo Presidente do Parlamento Nacional, retive o empenho na continuidade das relações “históricas” com Portugal. Gostei. Tanto mais que havia muito quem, de entre os cooperantes portugueses, à boca pequena, falasse do perigo que corriam as relações de Timor com Portugal se houvesse mudança na Nação timorense, com isto dando voz ao receio de ver diminuído a presença portuguesa se os comandos mudassem de mãos. Ilusão, engano, desconhecimento?
Apeteceu-me ir buscar um pedaço de algodão e limpar o ecrã da televisão, com isso tornando a imagem mais nítida. As imagens da RTTL não enganam. É dia de festa – mais uma - da democracia. Mas, o ambiente é de crispação a condizer com o semblante carregado de muitos deputados, alguns deles mastigando furiosamente o que pode ser pastilha elástica...
No momento da certeza de vitória de Lasama irromperam palmas no hemiciclo em honra do eleito. Com 41 votos contra os 24 de Aniceto Guterres, Fernando de Araújo Lasama fez questão de marcar o primeiro acto pós-eleição com um cumprimento, um grande abraço,ao seu adversário.
De comum, entre estes dois homens, o terem feito ambos parte da RENETIL - a organização de resistência formada por estudantes que se batiam pela independência enquanto estudavam na Indonésia -, a mesma postura calma, o ar dialogante, simples, humano.
Palmas, cumprimento, mais palmas e discurso do Presidente eleito. Fernando Lasama apelou ao diálogo, à concórdia entre os deputados e realçou a necessidade de boas relações entre os vários partidos no Parlamento.
E depois de também abraçado Lu Olo e sentado Lasama, o novo Presidente acabadinho de eleger pela maioria dos representantes da Nação, manteve-se o ex-Presidente sentado na mesa da presidência, apenas mudando para o lado esquerdo do eleito. Fiquei na dúvida: seria uma inovação protocolar, seria mesmo essa a exigência do protocolo ou seria antes a força do hábito a dificultar a saída de cena de ex-presidente Lu Olo?
Escusada, esta nodoazinha no comportamento de Francisco Guterres Lu Olo que, nestes cinco anos, pautou o seu mandato com uma atitude bem discreta, em nada transparecendo qualquer fascinação pelas luzes da ribalta!
Talvez fosse apenas mau serviço protocolar, aliás, notório com a indelicadeza de tratamento dado ao Presidente da República pelos “donos da casa” que quase o ignoraram à chegada ao Parlamento, esquecendo-se de que se tratava da primeira figura da Nação…
O protocolo não esteve nada bem e até se esqueceu de organizar os cumprimentos ao Presidente do Parlamento eleito. Depois de muitos longos minutos de desorganização, Fernando Lasama, sozinho, um bocado perdido, lá recebeu, finalmente, os cumprimentos de deputados e convidados.
A sensação que ficou da última sessão da I legislatura e da primeira da II legislatura é que havia alguma relutância dos da I em ceder o lugar de superioridade aos da II… E isso era escusado, especialmente quando andamos a apregoar à boca cheia que a alternância é normal em democracia, bla, bla, bla. Na prática, foi o que se viu.
Em dia de tomada de posse do novo Parlamento, o povo kiik da rua manifesta à RTTL a vontade de que os novos deputados dêem atenção aos seus problemas, que os partidos e os líderes deixem de se digladiar, que precisam de paz para poderem estudar, que o país tem de ser desenvolvido e bem governado…
Entretanto, num almoço de despedida de mulheres parlamentares - por sinal todas da antiga maioria, a da I legislatura -, sugeria uma das que não fora eleita que as da II poderiam contar com a sua ajuda. Aliás, a senhora espera mesmo que lhes peçam ajuda. Ela sabe do que fala pois aprendeu uma coisas e sempre pode dar umas dicas a quem quer que delas precise nas comissões…
E com um dia tão cheio de pequenas-grandes coisas quase acreditei que tudo ia bem na terra de “Timor-Lorosae” como disse alto e sem medo o novo presidente do novo Parlamento.. Engano meu! Ao fim da tarde, jaziam espalhados na rotunda do aeroporto pedregulhos atirados ao carro de um líder político que passava escoltado pela polícia internacional…

quinta-feira, julho 26, 2007 

A "situação"

As palavras do senhor Presidente da República ditas ontem em comunicado ao país via RTTL, não me saíam do pensamento.
Achei-o com ar circunspecto, grave, sem o meio sorriso a que já nos habituou. A “situação” (ah, que palavra esta!) deve ser grave para que o Dr. Ramos Horta tenha falado sobre a morte dos seus três irmãos – um deles, o Guilherme, era um jovem de quinze anos, creio - durante os tempos da ocupação indonésia e sobre isso dizendo que nunca se deixara pressionar pelos ocupantes.
O Presidente deixou claro que não se deixaria pressionar, que não valia a pena tentarem pressioná-lo.
Perdi a conta dos carneirinhos contados a ver se adormecia porque em cada cem carneirinhos, lá se me fugia o pensamento para o resultado resultante de qualquer tipo de “pressão” ...

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Ainda a madrugada não se tinha ido embora; O Sol talvez ainda só estivesse a despontar para os lados de Darwin, na Austrália. Os pássaros ainda não haviam sacudido a modorra da noite com os seus trinados matinais. A população, madrugadora embora, dormia a sono solto.
Nos céus de Díli, sem azul nem brilho da manhã, os pássaros de asas, cobertos de penas, de trinado agradável a anunciar o nascimento de mais um dia, deram lugar a um pássaro maior cujo ronco desagrádavel ecoou no espaço...
Lá fora, apesar do prateado do grande pássaro, a cidade manteve-se escuro-claro, mas o ronco acordou os dorminhocos e neles se fez luz com a associação a um facto importante: Sua Execelência o Senhor Primeiro-Ministro da Austrália, John Howard, visita Díli!
Ouvi a alguém que vem festejar o seu aniversário junto das forças do seu país. De caminho, aproveita para ser recebido pelo PR e pelo PM timorenses.
A sua generosidade sensibiliza o mais comum dos mortais! E que sentido de oportunidade! É que Julho é já um mês fresco, os dias estão agradáveis e sopra sempre leve brisa...
Bom vizinho e bom chefe de Governo! Vizinho de Timor-Leste e Chefe do Governo da Austrália, bem entendido!


terça-feira, julho 24, 2007 

A importância da informação

A RTTL transmite as suas emissões por satélite, o que quer dizer que os timorenses que vivem no estrangeiro podem seguir o noticiário da televisão.
Uma família timorense radicada na Austrália há bastantes anos, saudosa de Timor e interessada no que se passa no seu país, pegou nas suas poupanças e comprou uma parabólica. Ao fim do dia, lá se sentam religiosamente em frente do aparelho de televisão para ouvir e ver as "últimas". Ora as "últimas" podem ter mais de um dia, dependendo da hora de finalização da reportagem. E se o acontecimento tiver sido a uma sexta-feira depois do almoço, ao sábado ou ao domingo, só na noite de segunda-feira a notícia chega a nossas casas, muito depois da trasmissão via rádio.
Acontece que nem sempre há noticiário e nem sempre se noticia o que se passa. Assim foi, por exemplo, na quinta-feira passada quando uma avaria técnica serviu de justificação para a falta de informação. Assim foi também com os acontecimentos de domingo à noite. Naturalmente não houve reportagem, porque, a desoras e em dia de folga, os profissionais da rádio e da televisão estão a descansar. São poucos, não recebem horas extraordinárias, têm um vínculo de trabalho precário, pelo que trabalham - com dificuldades, convém que se diga - os dias normais de trabalho.
Podia ter-se dado a notícia, ainda que sem imagens. Não se fez e a família emigrada na Austrália soube dos acontecimentos via RTP-Internacional e vocifera contra o mau serviço de televisão ao mesmo tempo que "chora" o dinheiro despendido na parabólica porque, mesmo gostando muito de música timorense e dos progamas sobre a cultura do profundíssimo Timor, também já está um bocado farta de ver sempre os mesmos programas, os mesmos cantores, as mesmas histórias, repetidas dezenas de vezes...
O mais velho da família acha, e com razão, que a informação é importante e deve ser valorizada, transmitida, seja ela a favor ou contra o poder e a "situasi", seja ela boa ou má. Diz aquele chefe de família que gostaria de ver outro tipo de notícias, não só sobre política e, dentro desta, apenas sobre o Governo e as suas "obras" - estejamos ou não em época de eleições - , em primeiro lugar, seguido do Presidente da República e depois do "resto", quando sobra espaço e se o conteúdo não for demasiado crítico.
Timor tem mais para dar a conhecer e certamente a informação não se esgota nos corredores da política, acrescenta o chefe de família.
Pondo de lado o facto de que quase sempre só se transmite o que é bom - talvez para dar a ideia de que tudo vai bem no país - e preferencialmente se dão notícias de eventos com muita figura pública, muito governante e de outra gente da área do Poder, sobre a ausência de algumas notícias, digo do lado de cá que talvez não queiram assustar a população...
Para tão fraco argumento, surgiu forte resposta: notícia é notícia!
É verdade. Tão verdade como os profissionais de comunicação social terem boas condições de trabalho, o que implica desde logo que o vínculo laboral não seja tão precário, que conheçam e defendam os seus direitos, que não se sintam dependentes nem pressionados, que não sejam obrigados a escolher entre as boas - sempre a favor do Poder - e as más notícias - sempre contra o Poder.
Tão verdade também quanto o respeito que o seu trabalho deveria merecer do Poder, do Governo, do Estado, sendo necessário que todos soubessem que só por ser um serviço público, estatal não terá necessariamente de ser subserviente...





domingo, julho 22, 2007 

Violência, uma vez mais...

São sete horas. O Sol ainda há pouco desapareceu. E, sem mais nem porquê, a mensagem propaga-se rápida como o vento: Vai haver problemas. E em Ermera já começaram ontem, transmite-se.
É bom que estejamos em casa antes das oito da noite.
Que ninguém saia de casa!
Eu já tinha saído duas horas antes.
Ao jantar, escuto um tiro lá para os lados do heliporto, o antigo aeroporto de Díli onde vai nascer o Palácio Presidencial. Diz-se que há desacatos em vários bairros da cidade. Espero que termine o jornal da RTP e regresso a casa.
De longe percebe-se que também ali, no Delta Comoro, deve estar a acontecer alguma coisa tantas são as luzes, os carros da polícia e os agentes armados na berma da estrada.
Depois da ponte, a calma é absoluta. E eu respiro fundo quando entro na rua onde moro!
... A montanha pedregosa é atravessada por uma linha de fogo – normal nesta época do ano como preparação do terreno para as sementeiras - feito por alguém que acredita ser possível retirar milho de pedras. Três estrangeiros que moram no bairro fotografam a cena. A presença de internacionais na rua às 22 horas é um sinal de calma, de tranquilidade. E eu , até sei, vejo que aqui está tudo calmo. Mesmo assim, entendo dever perguntar-lhes se há algum problema. "Não, aqui está tudo calmo. Os problemas são em...", responde-me um deles..
Pergunto-me, porquê mais violência? Será, como dizem uns devido ao problema de Reinado? Ou será, como defendem outros, fruto da indefinição politica relativa à formação do Governo?
Pouco importa a razão! O que importa é que a violência já faz parte da rotina!
Por cá d
aquela palha, queima-se, insulta-se, apedreja-se, ameaça-se…
Cansa, oh, se cansa!

quinta-feira, julho 19, 2007 

Da independência unilateral à restauração da independência


Serão sinais de desanuviamento o reconhecimento pelo Parlamento Nacional de Francisco Xavier do Amaral como primeiro Presidente da República de Timor-Leste, aprovado que foi por unanimidade o projecto de resolução proposto pela FRETLIN, o partido de que Xavier do Amaral é fundador, tal como é da ASDT que a precedeu?
Quero crer que sim. Se não, nem Mari Alkatiri nem Francisco Lu Olo Guterres se teriam deslocado a casa do Proclamador da República.
Só que a atitude anterior da FRETILIN que sempre marginalizou Xavier do Amaral, menosprezando a sua intervenção no acto da independência unilateralmente proclamada em 1975, mereceu do visado uma reacção de educado mas crítico agradecimento.

NA RTTL, Xavier do Amaral, com ar de avô, tranquilo e displicente destacou que o reconhecimento peca por tardio.

E, para além de outras considerações sobre a coincidência curiosa entre algumas particularidades da situação política actual e a aprovação da medida, Xavier deixou no ar algumas dúvidas sobre a oportunidade do reconhecimento; tanto mais que, de acordo com citações da Lusa se tratou de “uma concessão do partido maioritário, a FRETILIN, que "impedia o reconhecimento até hoje" e “a aprovação se deveu a pressões de Ramos Horta e Xanana Gusmão.”

Com o reconhecimento do estatuto de ex-chefe de Estado a Francisco Xavier do Amaral como a pessoa que em nome do Comité Central da FRETILIN proclamou em 28 de Novembro de 1975, a Independência da República Democrática de Timor-Leste e se tornou depois o seu primeiro Presidente da República, Xavier do Amaral passará em conformidade com a Lei aprovada a ter todos os direitos, honras e regalias de ex-Presidente da República, esclarece a Lusa.

Ainda bem que, mesmo tarde, se repôs a verdade! Francisco Xavier do Amaral merece!

Com este reconhecimento e quando também foram aprovadas pelo Parlamento Nacional a lei dos titulares de cargos públicos, ficamos a saber que – finalmente! – os deputados vão poder usufruir das benesses que o Estado timorense lhes ficou a dever por cinco anos de árduo e empenhado trabalho!

Mas, agora que Xavier já foi reconhecido como o Proclamador, alguém irá mexer na lei dos titulares de cargos públicos? É que, coincidência ou talvez não, as duas medidas foram aprovadas em conjunto... Pelo que está semeada a dúvida sobre o cumprimento das promessas eleitorais de revogar tão injusta lei (a da pensão vitalícia aos deputados).

Mas isso será tarefa do novo Parlamento.

Agora que foi reposta a verdade sobre o papel de Xavier, só é preciso (re)coligir, (re)corrigir, refazer e reescrever os dados históricos. Baralhar e dar de novo.

De acordo com a Constituição, 28 de Novembro de 1975 é a data da independência. Vinte de Maio de 2002, é só a da restauração ou a do reconhecimento internacional da independência.

Às dúvidas que tinha sobre o significado da palavra “presidente” apenso a Nicolau Lobato que empresta nome ao aeoporto internacinal e a uma longa avenida de Díli, tanto podendo ser uma homenagem ao presidente da FRETILIN como ao presidente da República Democrática, somam-se agora outras.

Se Xavier do Amaral é reconhecidamente o primeiro presidente da RDTL, então Nicolau Lobato (que o subsituiu no cargo presidencial, da RDTL e do partido) foi o segundo titular, Xanana Gusmão, o terceiro e Ramos Horta, o quarto. Será assim?

Ou será, Xavier do Amaral o primeiro da independência de 28 de Novembro de 1975, Nicolau Lobato, o primeiro depois da marginalização de Xavier, Xanana Gusmão, o primeiro da restauração da independência internacionalmente aceite e Ramos Horta, o primeiro presidente da mudança?

Assim, ninguém ficaria atrás de ninguém. Estariam todos na primeira linha e com lugar assegurado na História, amplamente merecido pela sua intervenção política antes e pós-independência e independentemente de terem sido ou não eleitos!

Finalmente, poderão ser Xavier e Nicolau o primeiro e o segundo da primeira República e Xanana e Horta, o primeiro e o segundo da segunda República?

Estas dúvidas assaltam aqueles que, como eu, se profissionalizaram na recolha, classificação e organização de informação, seguindo criteriosamente o caminho do rigor e da verdade. Deformação profissional de documentalista? Talvez!

domingo, julho 15, 2007 

Ao correr da pena…



Ainda não temos Governo. Mas, como disse anteontem o Presidente da República, há tempo!
Vamos, pois, confiar que o tempo ajude a descobrir uma solução e que o novo Governo venha para ficar até 2012!
Enquanto se espera que o tempo nos traga o remédio e os líderes dos partidos políticos concluam e ponham em prática o que vão reflectindo dia-a-dia, reunião a reunião e com a instabilidade arredada da cidade – ou, pelo menos, em pausa de fim-de-semana – hoje, domingo, as praias encheram-se de gente. Muitos carros da ONU, outros tantos do governo e muitos outros de particulares. O areal das praias da Areia Branca e do Cristo-Rei estava repleto de banhistas! Famílias inteiras ao piquenique, empregados dos dois bares da praia atarefados, vendedores de tangerinas, enfim, a Areia Branca respirava normalidade!
O fato-de-banho não faz parte do vestuário dos timorenses, particularmente das mulheres. E se as crianças se banham nuas, sem vergonha de expor a sua nudez, as mulheres metem-se na água vestidas como se fossem à missa ou, quanto muito, com calções até quase ao joelho, não vá a visão concupiscente das suas pernas ou do seus seios criar algum dissabor provocado pelo olhar de alguém mais atrevido! A roupa molhada cola-se ao corpo e, para se evitar que se adivinhe o que está por baixo, nada como transportar uma lipa ou um sarong bem largo que esconda o fruto do pecado!
A propósito de crianças: há tantas crianças em Timor-leste que, no Dia Mundial da População, o nosso presidente sugeriu que se diminuísse a taxa de natalidade e os casais se limitassem a dois ou três filhos.
Gostei da sugestão que me parece bem corajosa. É que, com tanta criança e com o desenvolvimento a passo de caracol, a situação irá certamente deteriorar-se. O Estado não se tem preocupado muito em melhorar a qualidade de vida dos pais de maneira a garantir que a vida dos filhos - os tais que são o “futuro de Timor-Leste”- seja mais saudável.
Ainda esta semana contactei com um grupo de jovens que, depois de dois meses de estágio em várias instituições públicas e privadas regressou ao seu colégio em Lospalos onde iria apresentar o relatório de estágio, de fim de curso.
Dizia uma delas que, depois, “é fazer de novo as malas e voltar para Díli à procura de emprego…” Ora sabendo-se que o desemprego está acima dos 90%, onde vão as jovens trabalhar? Quantas delas arranjarão trabalho?
Todos os anos saem dos estabelecimentos de ensino milhares de jovens. Com o mercado de trabalho quase a zero, que vai ser da juventude de Timor-Leste?

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O blog é um excelente ponto de encontro. É verdade que, às vezes, também dá origem a alguns comentários menos agradáveis. Mas, com esses, não vale a pena perder tempo, especialmente quando se “conhecem” pessoas que se tornam nossas amigas e se preocupam com as dificuldades dos “irmãos” timorenses.
O Augusto Lança, professor, que já esteve várias vezes em Timor, enviou-me dois sobrescritos carregados de livros juvenis que já foram distribuídos; um outro sobrescrito trazia o “ Banqueiro dos Pobres”, livro enviado por Manuel António Rebelo, acompanhado de um simpático postal através do qual fiquei a saber que é um jovem.
O Augusto Lança até escreveu em tétum!
A dada da emissão dos CTT portugueses é de Janeiro deste ano e as encomendas chegaram no princípio de Julho.
Levou tempo, é certo, mas o importante é que chegaram ao destino! O que me leva a sugerir a um outro amigo, dos Açores, que envie para a minha morada os tais livros que há muito tem guardados à espera de destinatário...
Entretanto lembrei-me de que uma senhora me pediu livros (primária e secundária) para a sua escola.
Espero é que, tal como infelizmente aconteceu com outros bens básicos enviados por via marítima, não haja nenhuma sumidade a “armazenar” indefinidamente na Alfândega à espera que sejam pagas taxas – sem o pagamento das quais o tesouro do país ficará definitivamente mais pobre… - , quando, afinal, o material enviado apenas tem como objectivo contribuir para o saber, enriquecimento cultural e desenvolvimento dos timorenses.

sábado, julho 14, 2007 

Mais conflitos!

E, subitamente, estalaram novos conflitos em vários bairros da cidade. Pneus queimados na via pública, casas incendiadas e apedrejamentos eram notícia que corria célere nos SMS.
A dúvida é se a eclosão deste novo surto de incidentes tem a ver com o atraso na formação de novo governo ou se se prenderá com as notícias sobre o cerco a Reinado feito em alas pelas forças internacionais.
Hoje, Mariano Sabino, secretário-geral do PD, não terá ganho para o susto quando, na marginal, foi vítima do lançamento de uma bomba artesanal e de apedrejamentos.
Estes incidentes vêm acordar-nos para a triste realidade deste país: a de que a paz é apenas uma miragem. Quando muito, é uma impressão fugaz, tão fugaz que basta um leve sopro para provocar o seu desaparecimento...
Talvez fosse conveniente (digo eu que faço parte dessa mole imensa que é o povo kiik de Timor-Leste) que se atentasse nestes “pequenos” sinais. Por não se ter levado a sério ou por se ter menosprezado os sinais de antes de Abril de 2006 é que a violência eclodiu da forma que sabemos...

quinta-feira, julho 12, 2007 

Cigarros de marca

Fim de tarde.
O trânsito é de hora de ponta. Uma motoreta conduzida por um homem bem vestido, transportando com ele um saco, pára junto ao passeio.
Reparo num grupo de crianças que corre ao seu encontro.
Passa-me ao de leve a ideia de que deve ser um anjo bom dos que trazem algumas guloseimas a adoçar a boca amarga das crianças...
Que ideia mais tola!

Os miúdos entregam o fruto do seu trabalho. O “maun” da motoreta conta rapidamente o dinheiro, guarda-o, distribui a moeda da jorna, entrega novos pacotes de tabaco e afasta-se depressa, ziguezagueando por entre os carros...
Amanhã será outro dia igual para os miúdos – o futuro de Timor-Leste - que, bem cedo, “brincam” ao trabalho de vendedores de cigarros de marca.

terça-feira, julho 10, 2007 



Com tanta incerteza sobre o futuro e a certeza de que o silêncio é de ouro, mais vale deixarmos os olhos postos no azul do mar entre a ponta leste da ilha de Timor e o ilhéu do Jaco…

Que tranquilidade!

sábado, julho 07, 2007 

É ou não importante preservar o meio ambiente?

Os dias estão mais frescos, é verdade. Mas, apesar disso, o Sol aquece e as árvores não só embelezam a cidade, como a tornam mais verde.
Uma boa sombra é sempre pretexto para dois dedos de conversa enquanto se descansa da torreira do Sol. E para além dos humanos , os pássaros também tiram partido da ramagem.
Em tempos idos, as ruas da cidade de Díli eram ladeadas por árvores bem frondosas. Dessas, ainda se pode ver um restinho defronte do Parlamento Nacional, do edifício da ACAIT e da Uma Fukun, na marginal.
Diz-se que nos tempos da ocupação se encolhia deliberadamente os ombros ao corte indiscriminado de árvores com uma intenção precisa. Era preciso “abrir” o espaço e aumentar a visibilidade de forma a dificultar a vinda dos guerrilheiros para as zonas urbanas.
Depois da independência, o Ministério da Agricultura espalhou uns quantos avisos sobre a importância das árvores nossas amigas enquanto se proibia o seu corte, o que não quer dizer rigorosamente nada, porque nem todos acreditam na utilidade das árvores; elas são cortadas quando menos se espera e sem qualquer motivo aceitável.
No passeio junto à zona asfaltada em frente ao aeroporto de Díli havia umas árvores enormes, frondejantes. Felizmente ainda sobram algumas! Mas, há uns quatro anos e num só dia, foram cortadas umas quantas árvores porque as raízes estavam a levantar o asfalto!
Díli é uma cidade que não prima nem pela limpeza nem pela organização, pelo que se louvam as iniciativas no sentido de a tornar mais agradável.
Há programas de limpeza ao abrigo dos quais - e mediante o pagamento diário de dois dólares - a população local se organiza para limpar as vias públicas da zona onde vivem. O apoio vem da OIT sedeada em Díli e do Ministério da Reinserção Comunitária do Trabalho e da Solidariedade.
Ontem, via-se uma grande multidão de homens, mulheres e jovens limpando a avenida do aeroporto. Reparei que o Sol entrava mais facilmente e o asfalto cinzento escuro da via rebrilhava bem exposto ao astro rei!
A copa frondosa das árvores que ladeavam a avenida do aeroporto, do lado da montanha, foi desbastada quase totalmente e abriu espaço para que o Sol aquecesse bem o asfalto, para que os pássaros ficassem sem poiso e as pessoas perdessem uma sombra amiga, a tal para dois dedos de saborosa conversa. Desejei que o corte tivesse terminado ali mas também me ocorreu que talvez alguém tivesse reparado nesse corte indiscriminado e suspendesse o trabalho.
Nada disso. Hoje reparei que foram cortadas mais umas quantas árvores e as primeiras das quais ontem ainda sobrava o tronco ficaram reduzidas a um coto saído do chão.
Enquanto a população “limpa” as ruas, discute-se política de “alto nível”, cozinham-se novas amizades, trocam-se argumentos, prepara-se o governo a ser apresentado ao Povo.
Calculo que os políticos estejam todos muito ocupados.
Mas tem de haver alguém que tome conta da cidade, da preservação do meio ambiente e esteja consciente da sua importância. Se não, por este andar, um dia destes, quando dermos conta, estamos a viver num país árido e sem graça!
E não valerá sequer a pena atribuir a culpa a gente carenciada que precisa de ganhar uns dólares e de lenha para cozinhar, se ninguém se preocupa com a sua educação cívica e menos ainda em melhorar a sua qualidade de vida.

quinta-feira, julho 05, 2007 

Ao borracho, pôs-lhe Januário a mão ...


O passarito, acabadinho de sair do ovo, deve ter-se mexido demais no ninho. Deu um valente trambolhão e estatelou-se sobre a mesa.
A mãe-pássara voava raso veloz, aflita, talvez arrependida de ter construído tão alto e tão superficialmente o ninho; mas não se atrevia a aproximar-se do filhote que soltava fraquito mas aflitivo piu piu... e foi assim que o passarito conseguiu captar a atenção do Januário que, condoído com a sua má sorte e o evidente sofrimento da mãe-pássara, foi buscar um escadote e colocou a cria no remanso do ninho. Terá sobrevivido?

***

E agora que já se conhecem os resultados finais das eleições das quais todos saíram vencedores e não houve vencidos - como, aliás, convém numa festa de autêntica democracia -, e já que o povo sabiamente não fez de ninguém um vencedor absoluto, só nos resta esperar que os líderes se entendam e façam de Timor-Leste um país calmo, seguro, desenvolvido, democrático, onde todos os timorenses se sintam iguais!

terça-feira, julho 03, 2007 

O presente e o futuro de Timor-Leste




Dizem-se no fim da Vida! E que Vida, Santo Deus!
São muitas as desventuras contadas por cada um dos dias das suas longas vidas, reconhecem estes dois “velhotes”.
Mas serão realmente vidas longas, ou será que as condições precárias das suas vidas pobres - de quem se contenta apenas em não dormir ao relento, em ter uma maçaroca de milho ou um pau de mandioca que lhe mate a fome ou a ter uma encardida peça de vestuário que lhe cubra a nudez - fazem deste dois seres humanos da ponta leste da ilha de Timor mais velhos do que são na realidade? Terão cinquenta anos?
Mas, não obstante as contrariedades e a falta de tudo quanto é fundamental para uma vida digna de qualquer ser humano, eles sorriem, olham em frente! Apesar de tudo…e mesmo sabendo que o leite e o mel não serão por eles experimentados… Esse tempo já não será o deles!
E destas crianças, das gentes do futuro de Timor-Leste. Serão os seus dias mais risonhos, mais luminosos? Haverá menos fome, menos pobreza, mais emprego? Haverá habitação, educação, emprego, justiça e saúde para todos? E a Paz, voltará?