Jovens universitários, duas histórias exemplares
É inteligente e poderia
ser excelente aluno! O jovem, alto, de cabelo revolto, olhar vivo, a quem
chamarei Manuel - , espera que os seus colegas saiam da sala de aula. Aproxima-se
de mim e diz-me “ estou farto, professora!” Explica-me em voz em voz baixa, num
tom cansado, fugindo de me olhar a
direito talvez porque sabia que a força
das suas palavras me ia deixar incomodada e envergonhada.
- Estou cansado! Eu
sou de um distrito. Estou em casa de familiares. Agora, vou para casa agora,
vou cozinhar, lavo a loiça, arrumo a cozinha, passo a ferro, limpo a casa e,
quando dou por isso, é noite. Então, ou já estou demasiado cansado ou falta a
luz e não estudo!
Marco, de seu nome
fictício, sabe que pode ir mais longe e é o que me diz num discurso curto e
directo:
- Eu sei que podia
ter melhores notas. Não consigo porque, em casa não tenho condições para
estudar. Vivo em casa de uma irmã. Vim de um distrito.
Em Timor-Leste
fala-se muito de direitos. Direitos das mulheres, das crianças e dos mais
velhos - em particular quando são veteranos ou viúvas de guerrilheiros. Até de direitos dos
ex-titulares. Há, pelo meio, uma classe etária que está no limbo, esquecida. Deles
se diz volta e meia que são os construtores do novo Timor. Por isso se aposta
no Ensino e na Educação. Uma aposta que
peca pela pouca importância dada aos
jovens.
Pergunto-me muitas
vezes, quando me deparo com histórias como estas de que serve falarmos tanto do
Ensino, da Educação, dos futuros “líderes da Nação” se não trabalhamos na
totalidade dos aspectos importantes para que eles, os jovens, os tais futuros “líderes
da Nação” tenham condições de vida razoáveis que lhes permitam fazer o que
deles se exige que é estudar?
Os jovens provindos dos distritos deviam ter condições
de vida razoáveis que lhes permitissem estudar. Mas não. São pequenos escravos
em casa de familiares que usa e abusa do facto de os ter acolhido em suas casas.
É verdade que
podem estar o dia todo na Universidade e ficar a estudar na Biblioteca. Mas eles,
esses jovens dos distrito – Não lhes
deve ser fácil viver longe dos seus familiares e do seus ambiente! - , também têm direito a querer estar em casa, comer em
casa, estudar em casa, para além do direito
a gozar de merecido descanso em casa.
É verdade que a
família em Díli lhes dá casa. Mas será isso razão para lhes exigir que
trabalhem tanto?
E o Estado de
Timor-Leste que precisa deles para a construção e a consolidação da Nação vai
continuar distraído?
No comment