Querídissima RTP!
Faço parte do grupo de pessoas que vê a RTP-Internacional, em particular os programas que passam no horário nobre de Timor-Leste, entenda-se, à hora do jantar. Mas, também acompanho a emissão um bocado antes e um bocado depois do jornal das 13 horas que aqui passa ora às 21H00, ora às 22H00, conforme a mudança da hora em Portugal.
Quase sou levada a acreditar que deve ser especialmente para mim - que gosto de cozinhar e sou apreciadora da gastronomia portuguesa - , que se repetem os programas de culinária num só dia, a horas diferentes! E tantas e tão repetidas vezes vi e ouvi - às vezes até com intervalos bem curtos! - que não vou esquecer tão depressa que a mãe da Sofia Aparício é médica e daí tê-la habituado a alimentar-se bem, já aprendi que se comem flores, que é melhor retirar a casca às favas, que o vinho branco a acompanhar determinados pratos voltou a estar na moda; também sei que Capote tem um cão que ladra durante a gravação do programa e pode ir a qualquer parte do Mundo ensinar cozinha portuguesa, como e quando se junta a cebolinha, a batatinha, o alhinho, limpar as mãozinhas, etc., etc... Sei isso tudo!
Estou quase a ficar agricultora! E já aprendi muito! Seria útil, claro, se os produtos de que fala a menina apresentadora de cabelo preto e liso e de olhos verdes se dessem nesta zona dos trópicos.
Aos sábados e domingos à noite não há febre, nem música nem dança! Há descanso, mais Alma da Gente para além do que passa durante a semana e Parlamento.
Sim, aqui deste lado do Mundo, o que mais nos interessa é saber as pequenas coisas do Parlamento, quanto mais não seja porque todos queremos ser políticos!
E porque é preciso conhecer de fio e pavio a Alma da Gente, dos sítios de Portugal e dos portugueses dados a conhecer pelo Prof. Saraiva, nada como acompanhar o programa em duas edições do mesmo passadas no mesmo dia com intervalo de duas horas, mostrando o historiador vestido com o mesmo sobretudo e cachecol cinzento!
Ia-me esquecendo de dizer que reconheço à légua algumas caras, campos de refugiados, campos de milho... e até sou capaz de repetir o tom de voz da locutora!, tantas e tão repetidas vezes têm surgido no intervalo do noticiário das 13 horas em programa propagandístico das benfeitorias da ONU pelo Mundo!
É verdade que há algumas excepções. Mas, são tão poucas que uma mão chegaria para as contabilizar! A título de exemplo, o “Conta-me como foi” perdeu o lugar de programa nobre à hora certa, em dias certos. Mas, vá lá, do mal o menos, pelo menos continua no ar uma vez por semana! Estamos, pois, com alguma sorte!
E também é verdade e é claro que eu podia sintonizar outra estação. Podia ver a cubana, por exemplo. Ou a espanhola. Ou a chinesa ou outras tantas mais. Mas, sou teimosa, e quando não vejo a RTP, vejo a RTTL timorense que, dado ao excelente trabalho e ao empenho de José Alberto de Sousa no apoio à divulgação da língua portuguesa conseguiu que fossem substituídos os programas em inglês e indonésio pelos programas portugueses. Isto significa que a televisão nacional dos timorenses está quase sempre conectada à RTP-Internacional. O que seria muito bom, não fosse a qualidade e o desinteressante da quase totalidade dos programas, para além da repetição dos mesmos!
Não gostaria de concluir que haja quem entenda que quem vive fora do país ou que os falantes estrangeiros da língua portuguesa têm dificuldades de aprendizagem ou que andam desmemoriados. E menos ainda que alguém pense que tudo serve para nos entreter, até porque “para quem é, bacalhau basta!”
É claro que a culpa é da diferença horária! Porque haveria Timor-Leste de estar situado nos antípodas de Portugal? É claríssimo que a culpa também pode ser nossa. Afinal, quem nos manda termos insuficiente e pobre produção própria? Ou ainda, porque teremos escolhido a língua portuguesa como um de dois idiomas oficiais? Ou ainda, ou ainda, ou ainda...
... Bom, já sei! Se eu quiser acompanhar um bom programa de informação ou de entretenimento emitido pela RTP-Internacional, terei de me manter acordada noite adentro. Sim, eu sei: não deverei dormir!