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sábado, novembro 28, 2015 

A identidade nacional de Timor-Leste





A identidade nacional da República Democrática de Timor-Leste teve como vetor o regime colonial português que durou quase meio milénio pelo que é natural que desse convívio secular, a par de muitas e conhecidas dissensões, se tenham firmado afetos em consequência da história, da religião e da língua comuns. Por outro lado, como resultado da miscigenação e dessa convivência secular surgiu uma realidade cultural própria que inclui aspetos comuns às culturas em longa interação.
Acrescente-se que a relação entre os timorenses e portugueses se revela muito peculiar; como afirma Miguel Galvão Teles "A situação de Timor-Leste exprimiu ainda o paradoxo ou a ironia do empenho na defesa da autodeterminação e dos direitos do povo colonizado pela antiga potência colonial”.
O que dizemos constitui certamente uma das exceções nas relações entre Estado colonizador e território colonizado e é impossível não realçar o que consiste numa particularidade na história dos povos.
Os primeiros portugueses, missionários, que aportaram a Lifau, em Oecussi, em 1515, trouxeram para Timor não só a religião e a língua como também a escrita e deixaram para a História o marco da convivência entre duas civilizações distintas e o início de uma nova era timorense. É precisamente devido a esse evento que a celebração dos 500 anos de história comum entre timorenses e portugueses se reveste de especial importância. Em Lifau, o berço da nossa nacionalidade e da interiorização da consciência identitária timorense, em dia igualmente relevante para a História recente de Timor-Leste, do 40º aniversário da proclamação da independência em 28 de Novembro de 1975, comemorou-se hoje essa data com a dignidade que a circunstância exige.
É evidente, todos o sabemos,  que os primeiros portugueses vieram para comerciar e não para criar uma Nação, mas é uma realidade incontornável que a presença secular portuguesa em terras do sândalo ajudou à criação da identidade nacional, cultural e social timorense. A génese do Estado de Timor-Leste reside na existência de características que o distinguem dos povos das ilhas vizinhas e emergem da vivência comum e da interação com um povo oriundo literalmente do outro lado do Mundo que transformaram o território numa comunidade singular nesta região do globo.
Timor-Leste é portador de uma identidade própria que foi cultivando e construindo em simultaneidade com a compreensão da importância da sua diferença: paulatinamente, à cultura ancestral, acrescentou os novos valores trazidos pelos navegadores portugueses e se foram enraizando como traços de uma identidade criadora do nacionalismo timorense, que abriu caminho para a necessária perceção de que os timorenses são um só povo de uma só pátria que comunga o sentimento de pertença a uma nação que o Estado materializa; o timorense apreendeu que “pertencer significa simultaneamente ser incluído numa comunidade e estar separado e diferenciado de  outra”.
Importa sobremaneira sublinhar que, a par do aprofundamento e da consciencialização da sua identidade, se impõe ao novo Estado de Timor-Leste devida atenção aos vários desafios destes novos tempos.
Efetivamente, com  o surgimento de nova ordem mundial, sem identidade própria, um Estado não sobrevive ou sobrevive mal quando se deixa absorver por uma entidade mais forte; é fundamental que os Estados pequenos e frágeis como Timor-Leste concebam formas de sobrevivência e de defesa da sua soberania entendendo e consolidando a identidade nacional, sustentada por uma cultura nacional unificadora.
Apesar de ser um Estado pequeno, novo e frágil, Timor-Leste é  diferente na história, na cultura, na religião e na língua que lhe conferem  identidade própria e é detentor de uma identidade forte, antiga, de cinco séculos, baseada na religião católica e na língua portuguesa, para além de possuir uma língua nacional que igualmente contribui para a consolidação da identidade nacional e une os timorenses que se destacam dos demais porque são  diferentes. Por outro lado, o Estado de Timor-Leste está consciente de que ninguém sobrevive sozinho e está atento à crescente interdependência dos Estados. A língua e um passado histórico comum são a razão da sua integração  na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa quando “a política global está a ser reconfigurada segundo linhas culturais e os povos e os países com culturas análogas se aproximam enquanto os que têm culturas diferentes se afastam.