quarta-feira, maio 31, 2006 

As declarações de Kirsty Sword-Gusmão

Como são lidas pelos timorenses as declarações de Kirsty Sword-Gusmão ao diário "The Australian", referidas na edição de hoje do PÚBLICO?
Num país europeu seriam vistas como uma ingerência inadmissível na esfera governativa, um factor de perturbação numa situação complexa a pedir ponderação. Este tipo de intervenção é frequente (em Portugal penso ser a segunda vez que algo do género é noticiado)? É visto como normal? Kirsty Sword-Gusmão é vista como representando o pensamento do presidente Xanana Gusmão?

 

Afinal , o que nos espera amanhã?

Parece que tudo está mais calmo. O fumo, sinal revelador de incêndios, diminuiu. Mas não desapareceu totalmente e, do lado de lá da ribeira de Comoro, ainda se vê uma coluna de fumo. Deve ser da casa de alguém que desagradou ao vizinho ou ao parente, ontem como há dez anos. Tanto faz. Estamos em época de extravasar ódio e vingança. Tem sido assim ciclicamente, com períodos de tréguas, uns mais longos que outros. Tréguas talvez para recarregar baterias para novo acertar de contas…

Não se ouve o som da sineta que alerta para a aproximação de perigo no bairro, mas encostados aos muros, sentados no chão, catana ao lado, por vezes ao som da guitarra, os jovens que tomaram em suas mãos a defesa de suas casas, continuam de guarda. Do lado menos habitado, mais junto à montanha, podem surgir estranhos, vindos de Manleuana, os mesmos que incendiaram 10 casitas entretanto abandonadas por um grupo de famílias da zona leste do país.

O bairro onde moro tinha cor, vida. Havia vendedores de fruta e de legumes; centenas de crianças no seu vaivém diário para a escola ou em jogos de futebol no campo pelado defronte da Igreja de D. Bosco, contribuíam para a animação das ruas das aldeias do suco de Malinamoc. Em 30 de Agosto, 4 de Setembro, Terra Santa, havia animação e vivia-se em paz.

Havia sempre um sorriso e um bom dia, boa tarde ou boa noite a acompanhar um qualquer fugaz encontro de rua.

Agora, reina apenas o silêncio, entrecortado pelo ruído dos helicópteros militares que cruzam os céus. Não há ninguém. Espera-se. Há desconfiança e medo. Porque, afinal, ninguém sabe o que nos espera amanhã.

 

Vozes de Timor

Este novo blog do PUBLICO.PT foi criado para ajudar a fazer ouvir as vozes de Timor.
Para as fazer ouvir em Portugal, certamente, mas também para as fazer ouvir no seu próprio país e para ajudar a produzir o diálogo que é o cimento indispensável à construção da democracia. Para ajudar os portugueses a saber e a compreender o que se passa em Timor, mas também para ajudar os timorenses a encontrar sentido nos acontecimentos do seu país e a formar as opiniões que irão moldar a sua evolução.

Convidámos para escrever nestas páginas timorenses de vários sectores e com diferentes responsabilidades e perspectivas, portugueses que se encontram em Timor e outros que, sem lá estar, mantêm com o país um laço especial. Entre estes últimos estão, nomeadamente, jornalistas que no PÚBLICO cobriram acontecimentos naquele país nos últimos anos.

A razão próxima para a criação deste blog foram os acontecimentos recentes que espalharam a violência no país, desde Abril de 2006. No entanto esse não é o único tópico que se pretende abordar aqui. Estas páginas irão certamente receber textos de análise política ou de intervenção cívica, relatos noticiosos e textos de opinião, mas também registos pessoais sobre o quotidiano de um país que dá os seus primeiros passos na construção de um projecto colectivo.
Esperamos que as informações, as razões e os sentimentos aqui vertidos ajudem os leitores dos dois lados do mundo a compreender melhor o mundo em que vivem e a construir aquele que desejam.