« Página inicial | Nostalgia, ansiedade.. » | Ouvem-se violinos? » | Timor, visto de longe » | Ei-la, a chuva! » | Bicho nojento! Malvado Mafarrico! » | Quando voltaremos a ter paz? » | Consciência estimulada » | Credibilidade, precisa-se! » | Palavras para quê? » | As iscas do Zé do Benfica » 

quarta-feira, outubro 25, 2006 

Heróis

Acabo agora mesmo de voltar de uma tentativa frustrada de ir a casa. A policia internacional, com apoio de alguns agentes da PNTL ja regressados ao activo, bloqueou a estrada na ponte que da acesso ao meu bairro. Estao a decorrer confrontos graves na zona proxima do aeroporto. Isto depois de ter havido barulho de lutas e disparos (talvez das balas de borracha da policia e tambem de gas lacrimogenio) durante toda a noite. Hoje de manha, ao sair do meu bairro, um policia neozelandes pediu-me ajuda como interprete para falar com alguns moradores. O policia queria saber qual era o problema ali, e um senhor local dizia que nao havia nenhum, o policia perguntou entao porque e que 15 minutos antes havia ali 100 pessoas armadas com paus e pedras, e o homem respondeu que eles "estavam so a defender o bairro". Os "defensores dos bairros" sao um dos problemas mais graves que Dili enfrenta, é que muitos deles consideram defesa do bairro agarrar numa catana ou em pedras e ir por exemplo fazer operacoes de bloqueio nas estradas a pedir os cartoes de registo para poderem espancar e impedir a entrada a quem tiver nascido na outra metade do país. Nao ha desportos radicais para a juventude rebelde em Timor, o que mais se aproxima, o que eleva os níveis de adrenalina e dá a oportunidade de ser um às perante os colegas é andar à porrada. Há uns anos atrás já havia batalhas campais destas, mas eram em menor escala e os que nelas participavam eram olhados pela populacao em geral como bandidos e vadios, o que é diferente agora é que os grupos adversários passaram a ser vistos por muita gente como "os nossos" e "os deles" conforme a parte do país em que nasceram. Basta estar sentado um bocado a conversar com um grupo de populares em que todos sejam oriundos da mesma metade de Timor-Leste para ouvir explicacoes para os conflitos que comecam sempre por "a culpa é deles, eles é que provocam os nossos, a cultura deles é mesmo assim violenta, os nossos só se defendem". E assim, em vez de ficarem sentados quietos nas suas casas e chamarem a polícia quando há problemas, muitos cidadaos preferem fazer "justica" pelas suas próprias maos, ou com a sua própria catana, ou faca, ou moca, ou calhaus... Depois, quando sao entrevistados pela televisao ou pelos jornais, todos explicam que "estavam so a ver", e denunciam as accoes dos policias "malvados" que nao batem nos bandidos (que sao "os outros") e agridem ou prendem os "defensores do bairro". A julgar pelas noticias os lutadores timorenses sao verdadeiramente excepcionais - todos os feridos que aparecem "estavam só a ver", nenhum estava envolvido directamente nas lutas.
Alguns malais dizem-me às vezes que isto vai ser mais um país falhado, desses onde há golpes de Estado todos os anos, e onde a populacao se mata sazonalmente por razoes de discriminacao étnica (ou no caso timorense discriminacao geográfica). Eu discordo. Apesar do medo, apesar dos confrontos, apesar dos covardes que nada constroem e baseiam a sua vida na satisfacao de aterrorizar os outros, há muitos timorenses - e eu acho que ainda sao a maioria - que querem construir um futuro. Os meus alunos que, apesar de tudo, arranjam maneira de vir as aulas estao entre esses. Gente como a Mónica, que caminha todas as manhas e tardes uma distancia enorme entre a Faculdade e a sua nova morada (a sua casa foi atacada por gente de Oeste por ela ser natural de Ossu e agora vive com familiares noutra parte da cidade) , e que tem receio de andar de microlete por causa dos controles feitos às vezes nas estradas por jovens ocidentais em busca de gente do Leste. Ou o Gilberto, de Maliana, no Ocidente, que apareceu - sozinho, só ele - para fazer um exame na época em que se vivia uma orgia de loucura e violencia nas ruas da capital e o país esteve à beira de uma guerra civil, o Gilberto que desde essa altura já teve que mudar várias vezes de residencia por causa dos ataques e que veio às aulas há umas semanas no dia seguinte à noite em que a casa em que estava a viver foi queimada.
Há outros Gilbertos e Mónicas em Timor-Leste. Sao estes os meus heróis.

A si já o topamos há muito tempo. A sua esperança é que o Alkatiri volte. Não tem feito comícios em frente do palácio do Governo? Tenha esperança que você também irá apanhar o avião...

Isso e' uma ameaca?? O meu texto e' precisamente sobre as pessoas que continuam a ter esperanca no futuro apesar das pessoas que usam as ameacas e a violencia como forma de tentar resolver os seus problemas.

E' comico que me "acuse" de ser apoiante de Mari Alkatiri, a senhora Josefina Tilman acusa-me aqui: http://timor2006.blogspot.com/2006/06/o-que-h-aqui-uma-grande-falta-de.html
de ser da oposicao...

Na verdade nao estou contra nem a favor de Mari Alkatiri, essa e' uma questao que compete aos tribunais e ao eleitorado timorense, na qual eu nao me meto. Ha muitos anos que estou afastado da politica timorense, nao sou contra ninguem, sou contra a intolerancia e contra a xenofobia e contra a violencia como forma de resolver diferendos de opiniao.
Em relacao aos comicios(?!?) deve estar a confundir a pessoa...

Ao Joao Paulo Esperança

Reunidas as opiniões dos quatro autores deste blogue chegámos à conclusão que efectivamente foi feita confusão com outra pessoa.
Aceite as nossas maiores DESCULPAS.
Um abraço

Enviar um comentário