Ouvem-se violinos?
Não seria elegante da minha parte criticar o país onde me encontro convidada e certamente não o farei. Mas, agora que já consigo postar as minhas impressões ao fim de quase uma semana de forçada ausência, não resisto a dizer que as dificuldades – pelo menos algumas! - não são um exclusivo de Timor-Leste! É triste consolação, eu sei, mas soube-me bem dizê-lo, escrevê-lo!
O quarto confortável do elegante complexo hoteleiro onde estive hospedada estava bem apetrechado. Bem visível, à minha frente o dispositivo – dir-se-á assim? - para “dial-up Internet” parecia não oferecer nenhuma dificuldade, pelo que me propus estabelecer rapidamente a ligação. Não tive sorte nenhuma pelo que desci a dois e dois as escadas para pedir ajuda ao penteadíssimo recepcionista.
Sou um zero à esquerda em informática no que me senti bem acompanhada pelo penteado, que não me deu ajuda nenhuma e, mesmo tendo olhado para todos os lados tipo homem do assobio, de quem-não –tem-nada-a-ver-com-o-assunto, não conseguiu disfarçar que sabe ainda menos que eu. É uma vez mais triste consolação, eu sei mas, uma vez mais, soube-me bem dizê-lo, escrevê-lo!
Depois de nova tentativa no dia seguinte, fiquei ciente de que, para o superpenteado, Internet devia ser uma alma de outro mundo… Desisti, após mais umas tentativas sem sucesso.
Sei do que se passa em Timor-Leste através dos telefonemas da família. Note-se, telefonemas de Timor para a Austrália! Porque daqui para Timor, as chamadas são tão caras que 30 dólares australianos não permitem mais do que meia dizia de mensagens e chamadas daquelas muito breves, “Tudo bem por aqui. E por aí?”, com resposta adivinhada, pois claro, que para isso serve empatia e telepatia entre pessoas que se conhecem bem!
O sítio, conhecida estância turística que foi em tempos uma colónia penal inglesa, é francamente bonito, agradável, arrumado e plantado ao pé do mar, onde se vêem alguns surfistas sobre as ondas, outros amantes da vida ao ar livre ginasticando, estendendo as pernas, correndo… Está frio e chove. Dizem que não é normal. Talvez por isso haja pouca gente nas ruas.
Timor-Leste continua a suscitar a curiosidade de muitos, interessados no que se passa no novíssimo país do 3º milénio. Por exemplo, falarei eu português com os meus compatriotas? E tétum, dominarei a língua? Poderá Timor ser considerado parte integrante do Pacífico? E, claro, não poderia faltar: porque haverá tanta instabilidade, porque não nos entenderemos depois de tanto sofrimento?
Bem, como facilmente se adivinhará, se não quero ser deselegante com quem me convidou, menos me apetece perder a elegância focando o que de mau acontece no meu país timorense. A questão fica facilmente arrumada tal como se satisfaz a curiosidade - que, aliás, me parece genuína – explicando que em Timor-Leste, há algumas ondas, claro, mas tudo é compreensível, são coisas normais, simples questões de pormenor num país sofrido que ainda agora se tornou independente. Até porque todos sabem quão difícil é crescer, construir do zero!
Ouvem-se violinos? Será música, estarei a dar música? Talvez…