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terça-feira, outubro 24, 2006 

Nostalgia, ansiedade..



De repente, ouvem-se as sirenes e, logo a seguir, os gritos de uma multidão em correria; ao mesmo tempo, o toque de alarme da sineta, o aviso de ataque iminente.
Encho-me de coragem e, do portão, dou uma espreitadela. Em país de rumores, ei-los que surgem rápidos como o vento; cada um conta a sua história. Tudo gira em torno da violência. Aliás, este foi mais um dia marcado pela violência. Assiste-se ao agravamento da situação com a instabilidade, a tensão e a violência a aumentarem de tom desde que foram conhecidas as datas das próximas eleições presidenciais e legislativas.
Repete-se até à exaustão a pergunta: aonde iremos parar?
Ninguém parece ter resposta e as soluções tardam.
Cheguei esta manhã de Darwin. O passeio que separa os parques de estacionamento do aeroporto está cheio de tendas; substituiu uma grande extensão do campo de refugiados que ficou em muitas más condições aquando da primeira chuvada da época.
Junto ao terminal das malas, vêem-se muitos garotos e suas mães displicentemente sentados, distraídos, observando, acompanhando o movimento do aeroporto. Sentem-se em sua casa. Mexem-se bem. Estão à vontade.
As crianças do campo, tal como faziam outras crianças desde o tempo da UNTAET, oferecem-se em bando para fazer segurança ao carro, transportar as malas ou levar de volta o carrinho de transporte de bagagem, desejosos da gorjeta; tornam-se mais atrevidos quando percebem que o passageiro é estrangeiro, fazem cara feia mas ficam ligeiramente envergonhados quando se lhes diz em tétum que as crianças devem andar na escola e brincar em vez de trabalhar!

Tão depressa como surgiu, desaparece o alvoroço e tudo retorna ao silêncio.
Reconquistada alguma tranquilidade, oiço no espaço musical da RTTL um jovem entoando em tétum “Silvie, hau nia nurak”, uma versão de “Silvie, mon amour”.
Foram uns instantes breves, tive a ilusão de que a vida decorria calma e serena em Timor-Leste, senti-me transportada aos dias calmos da minha adolescência. Em simultâneo com a nostalgia desses tempos de paz, de mim se apodera alguma ansiedade e, de mim para mim, refaço a pergunta mil vezes feita, mil vezes abandonada, mil vezes sem resposta: aonde iremos parar?

Vamos parar onde os partidos políticos quiserem. Está na hora de eles mostrarem o que valem ou o que querem. Existem Forças Armadas, onde estão? Existe polícia timorense, onde está? Existem líderes de partidos, onde estão? Existem deputados, o que fazem?
A sua chegada foi muito pacífica, teve sorte. Há dois dias que há confrontos junto do aeroporto.

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