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quarta-feira, setembro 06, 2006 

Um dia de cada vez



Aqui em Comoro, na rotunda do aeroporto, os apedrejamentos acontecem quando menos se espera e sem causa aparente. E, se olharmos com alguma atenção, vemos pequenos grupos de pessoas de um e de outro lado da estrada em distraída pose, uns vendendo cartões de telefone, outros olhando o movimento de carros e pessoas, outros ainda numa venda improvisada de legumes mas, todos prontos para o ataque. Surgindo a primeira resposta a uma série de provocações, é certo e sabido que temos batalha campal. Pedras, muitas pedras que, depois da batalha, jazem na via pública à espera de reutilização. Tal é a frequência dos apedrejamentos que um amigo meu dos tempos do liceu chama a esta estrada “Gaza Street”. Outro amigo que vive no Farol e trabalha no aeroporto - tendo por isso de passar pela zona de fogo pelo menos quatro vezes por dia - recebeu da sua preocupada mulher o conselho avisado para andar de capacete de motorista, mesmo sabendo que ele se faz transportar de carro e tem sempre os vidros fechados! E quem teve o azar de ficar com os vidros partidos, deixou de mandar colocar novos vidros que, a maior parte das vezes, deixou de existir no mercado e tem de ser importado. Não vale a pena e sempre sai mais barato pôr um plástico em substituição do vidro.
Há os que fazem meia volta, outros que param o carro e ficam pacientemente à espera …
Andar pela cidade é uma verdadeira aventura. Anteontem, para ir a Taibessi, depois de uma chamada telefónica avisando-me que deveria evitar a zona do antigo Mercado Municipal de Díli, atravessei a cidade até Bidau, passei pela zona quente do Hospital e fui dar a Audian e a Santa Cruz. É como estar em Benfica, querer ir a Paço de Arcos, dando a volta por Sintra! Perde-se tempo e paciência. Não é de admirar que haja quem tenha desistido de sair de casa!
Ontem, depois de uma primeira onda de pequenas escaramuças da parte da manhã, reacendeu-se a luta durante a tarde. De tal forma que as forças internacionais chamadas para repor a ordem, tiveram de dar uns dois tiros para o ar.
E quem teve de se deslocar à cidade pelas vinte horas foi surpreendido por uma cidade deserta, fantasma, sem vivalma! Claro que é mais seguro ficar fechado entre quatro paredes. Não se correm riscos de levar uma pedrada… pode-se é morrer de estupidez.
Quem tem de sair de casa, fá-lo com fundado receio de que o ataque surja do escuro e, por isso, para os que têm carro, o melhor é acelerar um bocado, o que aqui em Díli significa andar a 60, 70 Km/hora!
Entretanto, reze-se para chegar são e salvo ao destino. Alcançado este propósito, convém que se telefone ou se envie em curta mensagem um aliviante “cheguei bem!”
E assim se sucedem os dias e as noites em Timor-Leste… Porquê, toda esta desordem. Para quê? Até quando? Quase apetece perguntar. Quase de certeza também não haverá quem saiba dar uma resposta. Então, o melhor é permanecermos em prudente silêncio e vivermos o melhor que pudermos e soubermos, cumprindo à risca o lema um dia de cada vez… Pela nossa sanidade mental e pela nossa sobrevivência. Fixe-se, um dia de cada vez!