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terça-feira, agosto 22, 2006 

Que Deus nos acuda!


Para quem vive do lado de cá da cidade, antes da ribeira de Comoro, ir ao centro de Díli representa uma aventura. Quer se vá pela praia, quer se siga pela estrada do interior ou ainda quer se faça o trajecto via bairro Pité há o risco de ser apanhado no meio de uma briga em qualquer uma das dezenas de zonas de conflito.
Aqui em Comoro, todos os dias a cena repete-se. Os malaios guardam o local nos seus carros blindados enquanto os jovens do campo de refugiados próximo do aeroporto fazem de conta que estão muito atarefados tentando vender cartões de telemóvel aos automobilistas, tarefa a que se dedicam diariamente enquanto não chega a hora da troca de pedras que acontece mal os internacionais viram costas.

Atira-se uma pedra em direcção ao outro lado da rua onde moram outros jovens que, escondidos para não serem atingidos, esperam um bocado e respondem da mesma forma. Parece um jogo do gato e do rato! Quem precisa de se deslocar de carro ou espera que chegue o intervalo da luta, ou acelera… E a pé, não se anda. Mais vale ficar fechado em casa.
Hoje, na rotunda do aeroporto, ainda a manhã ia a meio e já a via estava cheia de pedras dos desacatos de fim de noite e do princípio da manhã. Contudo, parece que a sessão não foi suficiente e o tempo de descanso deve ter servido para preparar o ataque da tarde que, desta vez, visou os australianos. Diz a Lusa que os atacantes eram 30 jovens.
Ao fim da tarde fomos surpreendidos com alguns tiros (ficámos depois a saber que tinha sido a GNR para assustar
os delinquentes) quase em simultâneo com o ruído das sirenes. E logo a seguir o helicóptero voando baixo, procurando os transgressores. A área foi encerrada ao trânsito pela tropa australiana.
A essa hora já tinha terminado a reunião do Conselho de Estado. Não vai haver prorrogação das medidas de emergência. Não que a situação tenha melhorado. Acontece porém que enquanto a emergência durou, nunca desapareceram
os focos de violência. Ninguém respeita ninguém. E isto diz tudo.
Também por essa altura já eu tinha lido na primeira página do Suara Timor Lorosae que o líder parlamentar da FRETILIN propusera ao Parlamento a “constituição de uma comissão parlamentar de inquérito que investigue a veracidade relativamente a rumores de alegada posse de armas por alguns deputados, bem como sobre o seu envolvimento directo em assaltos ou na ordenação a populares do assalto a armazéns do Estado para além do envolvimento no caso da distribuição pela população civil para alargar a crise no país.”
Não está explícito na citação de que distribuição se trata mas tão grave isto me parece que o melhor é parar por aqui. Até porque, se a loucura tomou conta do país, então só nos resta mesmo esperar que Deus nos acuda!

olá angela,com muito gosto li a tua crónica mas com muita tristeza li esta triste realidade. eu como timorense sinto-me triste do que está a acontecer por aí.Sinto-me impotente de não poder ir ajudar a resolver o desaparecimento deste momento mau.......mas gostaria que quem de direito consegui-se resolver....pois não é esta imagem que o mundo tinha e ainda tem do povo de Timor.Quantas pessoas de várias idologias que não conheciam Timor passaram noites e dias a gritar pela independência de Timor?E agora porquê isto tudo?
Um abraço
jaime saldanha

Onde está Deus?

De manhã bem cedo, passeando pela praia deserta, reparei que deixava vestígios da minha presença, na areia imaculadamente lisa, com a certeza que outros saberiam que uma alma humana ali tinha estado e deixado indícios da sua passagem.
Olhando à volta observava a imensidão do oceano, comungando com a beleza do nascer do sol dourado que aquecia o meu corpo frágil, enquanto oferecia toda uma vida generosa àquela terra em que habitava. Aves, voando com elegância, tocavam uma sinfonia de ritmos, em perfeita sintonia com as espigas douradas, que ondulavam mais cima, nas dunas de areia branca. Aproximei-me do mar e as suas ondas dançavam alegres beijando-me os pés, docemente. Senti ao meu lado a presença do meu Anjo da Guarda e disse-lhe:
_ Se ao menos tivéssemos uma só prova que Deus existe.
_ Não temos uma, mas muitas – explicou-me ele. - Se fosses invisível o que provava, neste preciso momento, a tua existência na terra?
_ Se eu fosse invisível, aqui e agora, só as minhas pegadas o faziam pois fui eu que fiz este caminho.
_ Olha à tua volta! Quem seria capaz de tão maravilhosa obra?
_ Só um Ser Divino, um Ser Perfeito poderia ser responsável por algo tão maravilhoso.
Sorrindo, compreendi que a Natureza estava repleta de “pegadas” que provavam a existência de Deus. Aprendi também que, a maior parte das vezes, temos as respostas mesmo à nossa frente, mas não paramos para as encontrar. Já o Mestre nos disse: “Quem tem olhos para ver que veja e ouvidos para ouvir que ouça pois há muitos que têm olhos e não vêm e ouvidos para ouvir e não ouvem.”

Angela, acredito que Deus só é responsável pelas maravilhas que presenciamos, tudo o resto é posto no nosso caminho para que com a nossa acção o possamos mudar ao provar com a nossa Fé que há entre o bem e o mal uma infinidade de tonalidades que teremos de conquistar.
Quero poder ajudar. No passado pertencíamos a um grupo em que electronicamente lutávamos pela independência de Timor. Neste momento, só mesmo a minha Fé me faz continuar. Sei que a si também! Peço a todos os Timorenses que não desistam de conquistar plena independência e libertação. De quê? Da violência em que se habituaram a caminhar, da sua escravatura a tudo o que clama pela excitação de fazer sangue.

Cristina Brandão Lavender
22 de Agosto de 2006

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