Brigada de limpeza na cidade
Quem se lembra de Díli do tempo da colonização portuguesa, a seguir à Segunda Guerra Mundial – quando tudo como agora foi destruído - , recorda-a como uma cidade pequena, limpa arrumada.
Com casas pintadas de branco, arborizada, ruas largas, cheia de acácias e gondoeiros, Díli encantava os seus habitantes que até se esqueciam de que as ruas não eram asfaltadas! Aliás, só no início da década de sessenta, as autoridades do governo local decidiram alcatroar três quilómetros de estradas… na cidade, bem entendido!
A década de sessenta, quando se construiu o novo porto, foi, se bem me lembro, o da modernização. Díli era uma cidade de casas de palapa. Aliás, as casas comerciais eram todas assim construídas porque este tipo de construção era bem mais acessível e os comerciantes, de etnia chinesa, não estavam dispostos a despender dinheiro em Timor. Até que o governador Filipe Themudo Barata decidiu impor a obrigatoriedade de edificação de casas em alvenaria. Os comerciantes argumentaram que não tinham dinheiro, mas o governador não se comoveu e eles, mesmo esperneando muito, tiveram de abrir os cordões à bolsa…
Contrariamente, Kupang, a capital de Nusa Tenggara Timur (Timor Ocidental) que era então bem mais populosa que Díli, tinha as ruas estreitas, sujas , mal cheirosas, desarrumada e com as casas encavalitadas umas nas outras. Em Kupang, não havia acesso público para as praias porque as casas dos particulares e respectivos muros estendiam-se até à beira mar.
Tão gritante era a diferença entre Díli e Kupang, que El Tari, o governador indonésio do lado de lá de Timor, dava a cidade timorense como exemplo a seguir pelos responsáveis pela administração local da província indonésia.
Díli guarda ainda umas reminiscências desse tempo de que são alguns exemplos o bairro do Farol, o Palácio do Governo e a zona envolvente, o Liceu Dr. Francisco Machado, a embaixada de Portugal, toda a zona ribeirinha que vai até Lecidere, ou a via que vai até Lahane, à residência do governador e ao Hospital Dr. Carvalho e que passa pelo antigo Mercado Municipal.
É verdade que os actuais cerca de 150 mil habitantes de Díli vivem numa cidade planeada para 20 mil… E também é verdade que se nota bem a diferença entre a cidade delineada pelos portugueses e a que surgiu no tempo da ocupação indonésia, sem qualquer respeito pelo plano de urbanização. Tal como Kupang, com as casas encavalitadas umas nas outras, sem esgotos e com ruas tão estreitas que apenas possibilitam que quem lá entre de carro saia de marcha-atrás, não havendo sequer espaço para outro carro em sentido contrário…
Perderam-se, cortaram-se as acácias vermelhas e os gondoeiros centenários, construiu-se muito e de forma deficiente, os casinhotos mal traçados - alguns deles com paredes de zinco - substituíram as casas típicas de palapa… Díli ganhou outra aparência, ficou diferente… Mais feia, mais suja, mais desarrumada…
Já no tempo da independência, com a descida dos habitantes da montanha para a cidade, as coisas complicaram-se ainda mais. À desarrumação existente, juntou-se a proliferação de mercados de rua numa total barafunda e em bem aceite convivência com porcos, cabritos, vacas…
Depois destes três meses de quase total paralisação dos serviços de administração pública, se as coisas já não andavam bem, pioraram ainda mais…
Mas hoje, verificou-se um movimento desusado, com brigadas de limpeza dispersas pela cidade limpando, varrendo, recolhendo e queimando o lixo e, claro, levantando poeira, imensa poeira!
Ali, no terreno mais nobre do centro da cidade, cedido pelo Governo de Timor-Leste ao governo português, logo ao lado do Palácio do Governo e onde há-de ser um dia a Embaixada de Portugal, – não sei quando, mas um dia terá de ser! – já se notava a diferença!
No jardim onde se vê o monumento aos Descobrimentos, se bem que as buganvílias emprestem ao ambiente um aspecto de jardim, a relva transformou-se em erva, bem alta!
Tive de passar pelas arcadas do Palácio do Governo que deveria ser um excelente cartão de visita de Timor-Leste. Bem, por ali, ainda não passou nenhuma brigada de limpeza. No local, tão vulgar como a presença de tropa internacional é o aspecto negligente do edifício.
Fez-me pena, o abandono a que está votado o palácio onde ainda continuam bem visíveis as provas da violência da manifestação de 28 de Abril, com os vidros das janelas todos partidos, as portas fechadas, e muitas teias de aranha a encher os tectos altos das varandas do Palácio…
Ai, Timor Lorosa´e!
RECOMEÇAR
Mas é preciso recomeçar
E nunca olhar para trás
Porque o mundo é escola que serve
Para aprender o que se faz.
Não desistir é preciso
Pois muitos já o fizeram.
Queremos aumentar o juízo
Daqueles que já se esqueceram.
E mais não digo agora
E já têm muito que pensar.
Lembrem-se que já chegou a HORA
De ir para a seara lavrar
Quando há tanta coisa por fazer
nem saber p’ra onde olhar.
Escolher só uma e aprender
Que só assim é recomeçar,
No meio do turbilhão,
Para encontrar a harmonia
Falta só a decisão
De o fazer com alegria,
Deixando o desespero,
No monte de lixo acumulado
À espera do primeiro gesto
Que inicia o postulado
Esperando do ombro amigo
A energia que tinha acabado.
17 de Julho de 2006
Cristina Brandão Lavender
Posted by Cristina Brandão Lavender 7:08 da tarde
NENHUMA actividade e muito menos as que envolvem o voluntariado devem ser feitas a chorar ou imbuídas de tristeza.
Quando estamos num sítio onde reconhecemos que somos úteis devemos, primeiro que tudo, começar e fazê-lo sem partir do princípio “dos coitadinhos, dos preguiçosos e dos inúteis”. Pelo contrário. Temos de ter A CERTEZA de que todos somos capazes de fazer melhor mas que para isso é fundamental que se sinta NECESSIDADE de implementar essa acção.
O ser humano é assim! Só reconhece a importância das coisas que experimenta e que depois perde ou então orienta a sua acção para outros campos que considera mais importantes, naquele preciso momento, dando prioridades a umas em favor de outras.
Se estiverem duas pessoas comigo: Uma triste e uma alegre, adivinhe lá com quem é que eu gosto de estar mais de 5 minutos?
Se eu tiver uma praia limpa e uma praia suja, para onde é que eu escolho ir?
(Este princípio aplica-se a tudo o que se passa na nossa vida).
Posted by Cristina Brandão Lavender 2:36 da tarde