Música e poesia nos campos de refugiados
A vida não é fácil nos campos onde os refugiados vivem em condições precárias.
São cerca de 150.000 pessoas deslocadas, refugiadas, com medo de voltar para casa.
Há risco de doenças e de fome.
O Programa Alimentar Mundial alertou já para o facto de estar a ficar sem reservas alimentares, que se esgotarão em semanas, correndo o país o risco de passar por uma situação prolongada de fome. É ainda o PAM que diz que a alimentação distribuída aos refugiados começou a ser racionada.
Nos colégios, seminários e igrejas, os refugiados ocupam todo o espaço disponível. Dormem em espaços abertos, amontoados, numa confusão que certamente não queriam e que tem provocado alguns desaguisados que só mesmo um resto de bom senso dos próprios refugiados e a intervenção de quem lhes dá guarida tem conseguido deter.
Em alguns campos, são as tendas que lhes servem de tecto. Aí, talvez tenham mais privacidade. À frente de cada uma delas, pode ver-se uma cozinha improvisada, garrafões de água, um conjunto de cadeiras de plástico e mesa respectiva a ocupar a parte frontal da tenda.
Mulheres na azáfama diária do que pode caricaturar-se como a limpeza da casa, muitas crianças e um mercado de rua, completam o quadro dos campos de refugiados de Díli.
Totalmente superlotados de quem não têm nada que fazer há dias, meses a fio, os campos são autênticos viveiros de problemas.
Um grupo de jovens activistas, poetas, pintores, licenciados, todos eles tendo vivido e experimentado situações difíceis - ou trabalhando junto dos refugiados em 1999, ou convivendo com a morte de familiares, ou com uma intervenção política mais activa durante o tempo da ocupação dentro e fora do país – compreendeu bem a dimensão do problema e entendeu ser altura de voltar ao campo de trabalho, prestando assistência a quem precisa.
Durante a semana trabalham. Por isso, é aos sábados e domingos que actuam. Seleccionam de entre os campos os que devem ser visitados em cada dois dias de fim-de-semana. Têm pouco tempo para preparar o desempenho.
São um grupo sem nome. Estão interessados unicamente em minorar a aflição dos que vivem em tão precária situação há tempo demais, defendem. Uniram-se num único objectivo que absorve todo o tempo que têm livre e, integralmente empenhados, embrenham-se no trabalho a que se propuseram.
A Cris, o Abé, o Yah-Yah, o Budi, o Gil e o France procuram levar algo diferente que distraia adultos e crianças. Alguma alegria que os afaste da tristeza em que se sucedem os seus dias. Conversam, dizem poesia, cantam, ensinam a pintar. Brincam com as crianças. Distribuem sorrisos. E simpatia. E convidam, envolvem quem visita generosamente os refugiados a juntar-se-lhes. Desafiam-nos às gentes de nacionalidades diferentes a dizer poesia ou a cantar numa língua que não é a sua.
Ali se canta, se lê, se diz poesia, se ri, se contam histórias. Cumpre-se a função! Fins de tarde, fins-de-semana nos campos dos refugiados de Díli.