Boa educação
Ontem quando cheguei à Universidade tive uma surpresa boa. Uma multidão de crianças e jovens voluntários do CJPAV (Centro Juvenil Padre António Vieira) - na qual se incluíam vários alunos meus da UNTL - andava a limpar a rua em frente ao edifício onde se encontra a reitoria e o "centro de operações" da FUP, que tinha ficado num estado absolutamente deplorável devido ao lixo deixado pelos manifestantes. O CJPAV é um dos lugares de Timor onde se faz mais pela educação e formação da juventude, numa perspectiva de abrir janelas para o mundo e de expandir os seus horizontes. Alguns destes jovens são às vezes “olhados de esguelha” pelos mais velhos, que confundem “piercings” e algumas atitudes irreverentes com falta de educação (“No nosso tempo havia respeito, agora é uma vergonha!...”), mas isso valoriza ainda mais a sua coragem em assumir opções comportamentais ou estéticas individuais numa sociedade fortemente conservadora e resistente à mudança.
Há dias estive a ouvir um professor timorense defender que a crise da valores de grande parte da juventude actual é consequência directa de se ter ensinado os direitos das crianças nas escolas primárias (nomeadamente através da revista Lafaek) e de haver agora um discurso público de condenação dos pais e professores que batem nos meninos. Se é verdade que em Timor tem havido uma tendência para falar muito sobre direitos e pouco sobre deveres, também é verdade que há um fosso entre o discurso dos pedagogos e dos activistas da protecção infantil e a prática nas salas de aula das escolas do país, onde muitos alunos ainda são literalmente espancados com rotas (varas de vime), desde a primeira classe até ao fim da escola secundária. Estamos a falar portanto de uma educação que tenta incutir valores através da violência. O resultado é que as pessoas não aprendem a cumprir as regras da convivência em sociedade por elas serem boas para o bem-estar de todos, mas apenas porque têm medo do castigo. Por isso é que no dia seguinte ao ataque das FDTL ao quartel da polícia em Caicôli, quando a polícia desapareceu das ruas, quase toda a gente passou a ignorar os sentidos proibidos ao circular na cidade – tinha deixado de haver uma força com poder para aplicar castigos. Dizia-me no outro dia um amigo que “agora já não há lei, podemos andar como quisermos”.
Os castigos corporais não foram trazidos pelos indonésios, já cá estavam desde o tempo colonial português. O romancista timorense Luís Cardoso descreve de forma bem-humorada no seu “Crónica de uma Travessia” como funcionava a educação no famoso colégio de Soibada. A falta de escolas e de preparação adequada do corpo docente era pior nessa altura, e muito poucos tinham então oportunidade de frequentar o ensino. Destacavam-se, apesar de tudo, alguns seminários ou colégios da Igreja, que formavam elites que constituíram a base da classe política que actualmente dirige o país. Timor não tem ainda na fase actual recursos humanos nem capacidade de gestão para disponibilizar um ensino de qualidade para todas as crianças, mas precisa de formar elites de qualidade para tomarem conta da nação no futuro, e que possam ir estudar numa universidade em Portugal, na Austrália, no Brasil ou na China, e que consigam de facto terminar com sucesso os seus cursos. Creio que seria útil criar quatro ou cinco colégios internos com ensino de excelência espalhados pelo país, com critérios de admissão rigorosos baseados no mérito dos alunos. Não deveria ser difícil encontrar apoios internacionais para isso.
Há dias estive a ouvir um professor timorense defender que a crise da valores de grande parte da juventude actual é consequência directa de se ter ensinado os direitos das crianças nas escolas primárias (nomeadamente através da revista Lafaek) e de haver agora um discurso público de condenação dos pais e professores que batem nos meninos. Se é verdade que em Timor tem havido uma tendência para falar muito sobre direitos e pouco sobre deveres, também é verdade que há um fosso entre o discurso dos pedagogos e dos activistas da protecção infantil e a prática nas salas de aula das escolas do país, onde muitos alunos ainda são literalmente espancados com rotas (varas de vime), desde a primeira classe até ao fim da escola secundária. Estamos a falar portanto de uma educação que tenta incutir valores através da violência. O resultado é que as pessoas não aprendem a cumprir as regras da convivência em sociedade por elas serem boas para o bem-estar de todos, mas apenas porque têm medo do castigo. Por isso é que no dia seguinte ao ataque das FDTL ao quartel da polícia em Caicôli, quando a polícia desapareceu das ruas, quase toda a gente passou a ignorar os sentidos proibidos ao circular na cidade – tinha deixado de haver uma força com poder para aplicar castigos. Dizia-me no outro dia um amigo que “agora já não há lei, podemos andar como quisermos”.
Os castigos corporais não foram trazidos pelos indonésios, já cá estavam desde o tempo colonial português. O romancista timorense Luís Cardoso descreve de forma bem-humorada no seu “Crónica de uma Travessia” como funcionava a educação no famoso colégio de Soibada. A falta de escolas e de preparação adequada do corpo docente era pior nessa altura, e muito poucos tinham então oportunidade de frequentar o ensino. Destacavam-se, apesar de tudo, alguns seminários ou colégios da Igreja, que formavam elites que constituíram a base da classe política que actualmente dirige o país. Timor não tem ainda na fase actual recursos humanos nem capacidade de gestão para disponibilizar um ensino de qualidade para todas as crianças, mas precisa de formar elites de qualidade para tomarem conta da nação no futuro, e que possam ir estudar numa universidade em Portugal, na Austrália, no Brasil ou na China, e que consigam de facto terminar com sucesso os seus cursos. Creio que seria útil criar quatro ou cinco colégios internos com ensino de excelência espalhados pelo país, com critérios de admissão rigorosos baseados no mérito dos alunos. Não deveria ser difícil encontrar apoios internacionais para isso.