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domingo, julho 02, 2006 

História de Galos



Um passeio pela marginal até à Areia Branca e quase se poderia dizer que estávamos perante um fim de tarde de domingo normal, não fossem as colunas de fumo que se vêem aqui e ali, bem no interior dos bairros, a deixar no ar a desconfiança de que pode ser fogo posto.
A cidade parece calma, com pouca gente nas ruas, com excepção da Praia da Areia Branca e do Cristo Rei, cheia de estrangeiros a apreciar a praia, fazendo footing e até em animado piquenique.
No regresso, olhei para o galódromo de Díli. Vazio. Todas as tardes, o galódromo enchia-se de uma multidão bem diversificada que gritava, aplaudia e apostava forte no galo da sua preferência.
Duvido pois que na cidade ainda haja disposição para o jogo do galo. Com a crise, os habitantes da capital estão muito mais preocupados com a sua sobrevivência do que em praticar o jogo mais em voga de Timor-Leste.
Em tempos mais recuados – e na montanha ainda assim deverá ser – era no bazar, no mercado, que se realizava o jogo. Especialmente aos domingos, dia de descanso e em dias de festa, o jogo do galo atrai verdadeiras multidões.
Criar um campeão não é fruto do acaso. É certo que o galo porque é de raça tem estirpe e é corajoso, o que não quer dizer que não se deva melhorar a performance!
Muita coisa mudou em Timor-Leste mas, a mudança não chegou aos aficionados do jogo do galo. É usual ver-se o galo transportado cuidadosamente ao colo! Mas os cuidados não se ficam por aí. Por exemplo, há que alimentá-lo com cautelas, tratar da penugem do animal, dar-lhe um banho cuidado, amaciar-lhe a pena, retirar uns minúsculos vermes parasitas que lhe atacam os olhos e lhe toldam a visão. Também há quem lhe corte a crista. Confesso que não gosto de ver um galo de crista cortada. Perde a elegância!
Há galos de várias cores. Brancos, pretos, vermelhos, mesclados. Os brancos só devem lutar de manhã. Os vermelhos são campeões na hora do calor. Os pretos levam a melhor ao fim da tarde, quando o sol se põe. Os mesclados são mais versáteis e não estão sujeitos a estas limitações horárias impostas pela cor.
Tal como há pessoas que têm, entre o cabelo negro, um fio de cabelo branco, também os galos podem ter, entre as penas, bem escondido, uma peninha de outra cor a que se chama sikat ( estar entalado, metido no meio de). E o galo branco, preto ou vermelho deixa de ser branco, preto ou vermelho e passa a mesclado, mascarado! Natureza adulterada!
Os entendidos utilizam precisamente esta variável para defraudar o parceiro. Assim, quando se combina a hora do jogo e cada adversário puxa a brasa à sua sardinha procurando a hora que melhor se adapta ao seu galo, o dono do galo disfarçado arranca a pena sikat. A este estratagema chama-se sikat subar que é o mesmo que dizer, pena escondida. Ora quando o dono do animal ostenta o galo, finge um ar ingénuo ao aceitar a hora proposta pelo outro concorrente.. E o galo branco que só deveria jogar de manhã, entra no jogo a uma hora qualquer.
Ganhará todas as apostas, será um campeão! Deve ter magia o galo branco vencedor de horas desacertadas com a sua natureza!
Valha ao dono do galo que a sua fraude seja descoberta pelo adversário! Adeus, campeão! Terá de repor tudo quanto ganhou, será castigado…
Quando, na sua simplicidade , o povo quer ilustrar algum acto enganador, alude imensas vezes a esta história de galos, dizendo que , tal como o sikat subar não apagou a verdadeira natureza do galo – o sikat voltará a crescer - , também a essência e a história do homem não se apagam apenas porque se escondem os seus contornos ou se mascara a natureza dos actos praticados. Numa linguagem mais popular, a verdade é como o azeite. Vem sempre ao de cima! E também, mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo…



Qual a razão de armar os galos com facas afiadas ? e não com esporões artificiais semelhantes as esporas naturais. As lutas com facas terminam bastante rápidas. No Brasil os galos são armados com esporões artificais (material em fibra de carbono. Como importar de raças de aves combatentes e/ou ovos galados do Timor Leste? Se possivel fornecer locais de venda ou criadores.

A identidade entre o homem e seu galo revela o culto aos sentimentos inatos da natureza irracional que todo ser humano conserva como animal em diferentes graus de intensidade

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