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domingo, junho 25, 2006 

Mas, as crianças, Senhor...

No dia em que o Comité Central da FRETILIN se reuniu para decidir sobre a continuação, ou não, de Mari Alkatiri no Governo.
No dia em que Ramos Horta se demitiu dos cargos de Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação e da Defesa, no que foi seguido pelo ministro das Comunicações e Transportes, Ovídeo de Jesus Amaral.
No dia em que afluíram à cidade de Díli milhares de manifestantes contra o Governo de Mari Alkatiri e em que a RTTL transmitiu um concerto musical pela paz, apelando à unidade nacional e a um Timor novo.
Nesse mesmo dia, realizava-se uma outra cerimónia, mais discreta, menos participada, que não teve honras de televisão e primou pela ausência notada de entidades oficiais timorenses.
Justamente há um mês, um militar abriu fogo sobre uma coluna formada por 80 agentes da PNTL, a Polícia Nacional, que se dirigia desarmada e a pé para as instalações das Nações Unidas.
De imediato, morreram sete agentes e 16 ficaram feridos, dos quais três viriam a morrer no hospital nacional Guido Valadares.
Não vale a pena dizer que “poderia” ter sido um massacre. Para os familiares, amigos e colegas foi, realmente, um massacre.
Hoje, em sua memória, houve missa no local onde tombaram. Quem assistiu, refere o ambiente de indescritível tristeza e dor em que decorreu a cerimónia religiosa, com o pranto incontido dos familiares e das criancinhas que traziam nas suas mãos as fotografias dos pais desaparecidos.
Ao ouvir a descrição desta triste história a somar a tantas outras ocorridas neste dois meses de conflito, recordei-me de um grupo coral constituído por criancinhas órfãs, se não me falha a memória, de Oécussi. Os pais haviam sucumbido à fúria assassina das milícias pró-indonésias.
Um rapazinho talvez de uns cinco anos, magrito, com umas pernitas a perderem-se nos calções largos que lhe chegavam quase ao tornozelo, de olhos bem escuros e tristes fixos no tecto alto do Ginásio repleto de delegados ao Congresso do CNRT realizado em Díli em Agosto de 2000, cantava com voz choramingada, amargurada, sobre a dor de não ter pais.
Esse era bem o tempo das nossas esperanças! Na altura, confiei que a independência de Timor iria acabar com todas as injustiças e, por isso mesmo, aquelas criancinhas iriam finalmente conseguir ultrapassar a dor de se sentirem sós. Acreditei – dir-se-á que ingenuamente - que o Estado iria torná-las felizes. Sê-lo-ão? Onde estão e o que fazem essas criancinhas?
Passaram seis anos. É curta a nossa história como país independente. E dela vivemos hoje, porventura, o momento mais complexo, mais grave e de consequências totalmente imprevisíveis.
As crianças de Timor-Leste, apesar de tudo e embora esteja longe o cumprimento dos seus direitos, conseguem sorrir, brincar. Mas, entre as que sorriem e brincam, não estão incluídas as criancinhas órfãs daqueles dez agentes que a morte surpreendeu! Mortes escusadas de timorenses às mãos de outros timorenses! E em nome de quê, senhores?
Passados quatro anos sobre a nossa celebrada independência, porque não perguntar, gritar em voz magoada “mas, as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor?”

E o Ramos Horta queria ser Secretário-Geral das Nações Unidas... Se nem na sua terra consegue resolver os problemas!

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