Ai, Timor Lorosa´e!
Vivemos num país de enigmas. De mistérios. De rumores.
Da verdade e da mentira, desconhece-se a verdadeira morada. Sabe-se só que andam de mãos dadas!
Ninguém compreende nem concreta nem totalmente o que está a acontecer. Estamos confusos.
Todos se sentem atingidos por algum desconforto, não obstante estarmos no nosso país que, de um momento para o outro, surge estranho, diferente aos nossos olhos.
O dia político esteve hoje muito agitado, quente! Quem de direito discute a demissão do Primeiro-Ministro. Mas o frenesim político morreu nas salas de reuniões. Cá fora, nas ruas, nas casas, a vida arrasta-se… Porque estamos em crise que se arrasta há quase dois meses. E a crise tomou conta de nós. A população está perturbada, inquieta, cansada.
A animação de outros dias não muito longínquos foi substituída por um clima de indisfarçada tensão. Há uma mistura complexa de sentimentos. Descrença, frustração, revolta, desalento. E medo, sobretudo, muito medo que perpassa em cada história contada.
Fala-se a meia voz. Alguns olhares de esguelha, desconfiados, passos de corrida, fazem-nos estugar o andar, acelerar o carro. Alguém que alie a uma aparência suja e desleixada o ar sisudo põe-nos em imediato alerta para o perigo que pode até ser inexistente, inverosímil.
Um ruído, um zumbido, uma coluna de fumo, muita gente, pouca gente, tudo confunde porque tudo são sinais de risco.
As repartições do Estado estão a meio gás, tal como o comércio.
Muitos escritórios privados estão fechados. As lojas atendem os clientes com as portas de ferro meio abertas, prontas a serem cerradas ao indício de um qualquer tumulto.
Nas lojas do bairro de Colmera, próximo do porto de Díli, onde se ouvia música com demasiados decibéis durante todo o dia – no que, aliás, eram bem imitadas pelas microlets* apinhadas de passageiros, de sacos e de animais que atravessavam a cidade de manhã ao fim de tarde - há muito que o silêncio se substituiu ao barulho.
Os refugiados dos diversos campos não escondem a sua inquietação. Repetidamente, confessam que não querem mais sofrimento.
Alguns ainda têm casa. É aí que estão durante o dia. À noite, regressam ao refúgio. Porque a noite feita ave agoirenta é tentadora e solta os demónios travestidos de jovens.
Quando nem a luminosidade dos dias de sol de Timor transmite qualquer brilho ao olhar do timorense, salve-se ao menos o riso das crianças!
Parece que voltámos aos dias sombrios do tempo da ocupação indonésia!
Sentimo-nos perdidos. Estamos na Vida; não desfrutamos da dádiva da Vida. Parece até que desistimos dela, que o país abdicou de viver, de ser país.
E nada deixa transparecer o brio, o orgulho dos timorenses pela sua independência materializada na bandeira nacional desfraldada ao vento ali, na fronteira com a província de Nusa Tenngara Timur, na Indonésia, o verdadeiro Loromonu da ilha de Timor.
Ai, Timor Lorosa´e!