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sexta-feira, junho 23, 2006 

Decepções


Quando em Timor-Leste a situação está ao rubro, com o país suspenso das decisões do Presidente e do Primeiro-Ministro com vista a que se chegue a uma solução pacífica que nos tire desta crise grave, o que menos interessa agora é ouvir críticas aos timorenses quando estas se afiguram inoportunas, demasiado ligeiras, para não dizer levianas.
Quero com isto dizer que não caiu bem a afirmação do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, quando disse em Genebra onde assistiu à abertura das sessões do novo Conselho dos Direitos Humanos e a uma reunião da Conferência do Desarmamento que "o que se passou em Timor-Leste foi uma grande decepção para todos".
Um dia escrevi que não se pretende desculpabilizar os timorenses pela má condução do problema político-militar de que resultou a crise grave que assola o país. Menos ainda pela condução da política interna do país e até mesmo pelo recurso à violência como meio de resolução de qualquer tipo de adversidade.
Mas os timorenses têm algumas desculpas: herdaram um país saído de um conflito violento, não tinham experiência de governação e nunca viveram em democracia, nem no tempo da colonização portuguesa nem durante a ocupação indonésia.
Kofi Annan disse que "A ONU ajudou a criar uma nova Nação". Pois foi, ajudou, mas fê-lo de forma insuficiente e superficial; ajudou pouco pois esteve dois anos em Timor-Leste e apressou-se a sair mal surgiu a hipótese de se tornar presente noutro teatro de crise.
Timor-Leste deixou muito rapidamente de ser um país a “ajudar”. As razões, só mesmo a ONU poderá explicar.
Mas sempre se pode perguntar se Kofi Annan acha que dois anos era o tempo suficiente para apagar todas as consequências nefastas resultantes da ocupação violenta a que Timor-Leste esteve sujeito durante mais de duas décadas. Também se pode perguntar se em dois anos é possível democratizar um país que viveu sempre sobre dominação estrangeira de países onde a democracia era considerada o pior dos males.
A aprendizagem da Democracia não é fácil e até nos países com anos de experiência democrática, bem interiorizada, há problemas, quanto mais num país construído literalmente a partir das cinzas!
O secretário-geral da ONU considerou ter "havido uma má gestão, incluindo da polícia, e um choque de personalidades".
É verdade tudo isso.
Mas, se a ONU tivesse apostado mais na construção da Nação que ajudou a criar, talvez não tivéssemos chegado a este ponto.
E não apostou mais e melhor porque também geriu mal a administração e a construção da Nação da qual foi poder transitório, ficando-se pela má e atabalhoada reorganização física do país e descurando totalmente a reestruturação psicológica da sociedade que passava, necessariamente, pela conciliação, pelo entrosamento de personalidades para evitar os tais “choques” entre as diversas sensibilidades.
E isto é suficiente para que se diga que também nós, timorenses, ficámos muito decepcionados com a atitude administrativa da ONU em Timor-Leste.

Ó nu.
Para mim existem 2 hipóteses.
1- Na UNO trabalham uma cambada de incompetentes, por isso fizeram mal o trabalho, e aí está o resultado.
2- Na ONU trabalham pessoas competentes. Então deixaram o trabalho feito de para que isto que está a acontecer acontecesse.
A ONU não pode alegar ignorância em relação ao petróleo e gás natural que Timor tem, que gera a cobiça das potencias vizinhas. Existem exemplos por este mundo fora das actuações desastrosas da ONU. Ainda não aprenderam? Todos sabemos que convenientemente não vão aprender e vão continuar este tipo de trabalho.
Os Timorenses também têm culpa. Calma, vamos devagar e distinguir entre os que governam e o povo simples. O povo de Timor quer, o que qualquer outro povo quer, sopas, descanso e uma vida sem grandes sobressaltos. Dos governantes (não só de Timor), já não se pode dizer o mesmo (tirando algumas muito raras excepções), a vaidade, a ganância, o poder (qual ópio) ... a carne é fraca! E o espírito de muitos, ainda mais fraco é!
É com tristeza que vejo que estamos no século XXI, e não há meio do homem evoluir.

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