Violência e Ignorância
A eclosão do conflito virou do avesso a vida da quase totalidade da população timorense que, face à desordem instalada, se viu obrigada a procurar refúgio seguro.
Os jornais e as rádios também não escaparam ao caos, não só porque os jornalistas também precisaram de proteger-se da loucura que varreu a cidade, como também deixou de haver condições de segurança para que pudessem fazer o seu trabalho.
Mas, se os jornais diários suspenderam a sua publicação, já as rádios locais foram adaptando a programação de acordo com as circunstâncias.
Na Rádio Nacional de Timor-Leste, ouvem-se os comunicados e os avisos oficiais e faz-se diariamente, pelo menos uma vez , a ronda pelas capitais de distrito. Porém, a maior parte do tempo é ocupada com música, que também varia de acordo com o clima político do momento.
Quando se ouve música cuja temática versa o amor, seja em tétum ou em português de Timor – com muito violino e muitos requebros na interpretação -, em português de Portugal, Brasil ou PALOP, em inglês ou bahasa indonésio, então o céu está azul, sem nuvens e adivinha-se um clima de serenidade na cidade!
Se, pelo contrário, a emissão diária é ocupada com música de intervenção timorense, aí, adivinha-se mudança brusca de clima. Temos tempestade, pela certa!
Nos casos menos graves, trata-se de simples avisos públicos mas, a maior parte das vezes, é sinal de que se segue um comunicado importante sobre a situação.
A rádio transmite o estado de espírito da população e procura cumprir bem a sua missão quando nos sucessivos apelos à paz e ao entendimento, emite canções sobre a unidade, nas quais se verte muito choro trinado à volta de Timor-Leste, da jovem nação independente, ou se grita pelo “povo maka terus” (1) e, por isso se conclui que “horas too ona (2).
Uma voz irada, exaltada, abafa a canção sobre a unidade para explicar a razão da sua zanga. Do seu desencontro com a Vida porque“ Timor-Leste precisa de paz. Mas há ignorância e violência. A violência é um mal, é uma doença que anda de mãos dadas com a ignorância. E eu sou um ignorante e por isso sou violento”.
(2) horas too ona –É chegada a hora