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segunda-feira, junho 05, 2006 

Morrerá a culpa solteira?



De quem é a culpa deste terrível conflito que não deveria ter apanhado ninguém de surpresa?
Dos governantes, da inexistência ou da insuficiência de uma elite política, da natureza belicosa do povo timorense, da comunidade internacional, das circunstâncias históricas?
Longe de qualquer facciosismo ou até mesmo da tentativa de desculpabilizar os timorenses - e ainda que mal pareça - não posso deixar de perguntar que tempo sobrou a este povo para aprender a viver em liberdade e interiorizar os valores da Democracia?
Sem sequer ir mais atrás, bastam os vinte e quatro anos da ocupação indonésia para ilustrar o quotidiano timorense, sacudido com prisões, perseguições, desaparecimentos e mortes.
Mais de duzentos mil mortos, a sociedade timorense fraccionada, desagregada, o desemprego, a destruição e, claro, uma juventude que à violência respondia com violência, foi essa a herança deixada pelo ocupante.
No período de transição da ONU, sem emprego para os timorenses, surgiu uma nova classe. A dos garotos de rua que pedinchavam uma moeda pelo “trabalho” de segurança aos carros dos internacionais para o que tinham o aval dos pais desempregados para quem, afinal, uns cêntimos eram essenciais para a depauperada economia familiar. Hoje adolescentes continuam sendo de rua.
Semente da violência, a geração que hoje se envolve dia após dia nas lutas, nos incêndios, aterrorizando, criando o pânico, só conhece a violência. Desencantados, inadaptados, perdidos, sem dúvida mas, quem estará por detrás desses jovens?
Talvez se tenha invertido o valor das prioridades estabelecidas pelo governo para reerguer o país das cinzas.
Talvez tivesse sido importante reeducar aqueles a quem apenas foi permitida a luta pela sobrevivência da pior forma conhecida: a violência.
Talvez se tenha descurado a parte psicológica porque se quis acreditar que os timorenses estavam tão sedentos de liberdade e de paz e lutaram tão corajosamente pela independência que jamais iriam recorrer à violência para resolver os seus problemas.
Certamente que as soluções têm de ser encontradas pelos timorenses mas, nem lhes foi dado para curar as feridas de tão longo cativeiro!
Isto desculpabiliza os timorenses? Seguramente que não. Mas não só os timorenses.
Timor-Leste deixou de ser o caso de sucesso da ONU. Essa mesma a quem escapou que, saído de um conflito violento e com carências de todo o género, o país teria de ser, inevitavelmente, frágil e a precisar de mais e melhor apoio.
Reerguer Timor-Leste tem de ser trabalho dos timorenses a quem se deve depois exigir a responsabilidade pelo sucesso ou pelo insucesso do país.
Temos quatro anos de independência. Estamos em fase de aprendizagem. Tudo é uma aprendizagem. E bom seria que aprendêssemos depressa o valor de princípios como o respeito, a solidariedade, a tolerância, a responsabilidade. E como a humildade, também.
Talvez tenha chegado a hora de aprender e apreender que a unidade é um bem fundamental a não desperdiçar.
Bom sinal foi o desta manhã, quando, por unanimidade, os deputados presentes na 1ª sessão do Parlamento Nacional depois do início dos confrontos, aprovaram uma resolução apoiando as decisões do Presidente da República.

Já é um princípio!