Esperança
Há alturas em que quase perco a esperança na humanidade. Como hoje, quando ao passar na zona de Ai-Mutin (zona de Comoro) um vidro do carro em que eu seguia foi atingido por uma pedra disparada com uma fisga. Faziam parte dos passageiros da viatura um bebé de tres meses e uma rapariga quase a completar nove meses de gravidez. Ninguém ficou ferido. Um pequenino estilhaço de vidro atingiu o rosto do bebé, ao de leve apenas, como se tivesse sido esfolado por uma unha descuidada. Os restantes ocupantes do veículo, todos timorenses, comentaram a forma como Deus protege as criancinhas.
Depois racionalizei as coisas. Talvez o autor do crime não tivesse visto quem estava no carro que se deslocava com alguma velocidade, talvez não estivesse num estado de barbarie tal que pudesse realmente considerar um bebé e uma mulher grávida como alvo.
Todos vamos vivendo o dia-a-dia com altos e baixos. As noites começam a ser menos agitadas, mas ainda sou acordado de vez em quando pelos telefonemas de amigos a pedir que de o alerta para que os australianos aparecam porque há gente a querer queimar as suas casas. Parecem considerar que um alerta transmitido por um malai será mais facilmente ouvido pela tropa australiana...
Durante o dia recebo SMSs de alunos a perguntar, por esta ordem, (1) quando chega a GNR, (2) se os portugueses vão embora, (3) se vamos poder retomar as aulas... O Timor pelo qual todos trabalhamos é o das pessoas que sonham com o retorno da normalidade e da paz.
Hoje estive em Liquiça (as coisas pareciam calmas por lá...), eu e a minha noiva fomos falar com o padre para mudarmos o casamento da tarde para a manhã. Vamos fazer uma cerimonia discreta e um almoço com a familia mais chegada, em vez do banquete e baile que de acordo com a tradição duraria a noite inteira. A situação não está propicia para grandes festas. Mas o amor floresce mesmo na adversidade e a esperança renova-se em cada sorriso de uma crianca...
Depois racionalizei as coisas. Talvez o autor do crime não tivesse visto quem estava no carro que se deslocava com alguma velocidade, talvez não estivesse num estado de barbarie tal que pudesse realmente considerar um bebé e uma mulher grávida como alvo.
Todos vamos vivendo o dia-a-dia com altos e baixos. As noites começam a ser menos agitadas, mas ainda sou acordado de vez em quando pelos telefonemas de amigos a pedir que de o alerta para que os australianos aparecam porque há gente a querer queimar as suas casas. Parecem considerar que um alerta transmitido por um malai será mais facilmente ouvido pela tropa australiana...
Durante o dia recebo SMSs de alunos a perguntar, por esta ordem, (1) quando chega a GNR, (2) se os portugueses vão embora, (3) se vamos poder retomar as aulas... O Timor pelo qual todos trabalhamos é o das pessoas que sonham com o retorno da normalidade e da paz.
Hoje estive em Liquiça (as coisas pareciam calmas por lá...), eu e a minha noiva fomos falar com o padre para mudarmos o casamento da tarde para a manhã. Vamos fazer uma cerimonia discreta e um almoço com a familia mais chegada, em vez do banquete e baile que de acordo com a tradição duraria a noite inteira. A situação não está propicia para grandes festas. Mas o amor floresce mesmo na adversidade e a esperança renova-se em cada sorriso de uma crianca...
Caríssimo ilhavense, amigo, espero que tudo melhore rapidamente, e desejo que o teu casamento seja também iluminado pelo regresso da tranquilidade a Timor. Um abraço com muita força!
Posted by Ângelo Ferreira 2:20 da manhã