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quinta-feira, junho 01, 2006 

Demónios à solta


Um colchão velho de sumaúma, uma bicicleta de criança, duas panelas, um saco preto de plástico com roupa e um rádio. Bens de um casal idoso que anteontem os transportou cuidadosamente para o complexo de apartamentos Casa Minha, situado na marginal de Díli, depois de ter pedido à gerente que os tomasse à sua guarda.
A marginal, a que se chamou depois da independência Avenida de Portugal, é a zona nobre da cidade. Zona protegida, especialmente na Praia dos Coqueiros, onde se situam as embaixadas, e no Farol, onde estão as casas do Estado ocupadas por grande parte da classe dirigente do país.
Na praia, de areia preta, em alegre vozearia,
os garotos brincavam descontraídos, nadavam, pescavam. Ao fim da tarde, a marginal transformava-se no ponto de encontro de populares para um dedo de conversa e animava-se com a venda de sassatis*, maçarocas de milho verde assado, peixe grelhado.
Nas traseiras da bela marginal de Díli, próximo do complexo militar australiano, a área é habitada por timorenses de poucos recursos. É ali que vive o casal de velhotes.
Ontem à noite ouviu-se a sineta. Mau presságio! Depois, foi o som do apito a dar por finda a tarefa tão rápida quanto meticulosamente executada.
A “força” retira-se.
Quatro casas foram incendiadas.

* Espetadas de porco ou cabrito com molho de tamarindo

Em 29 de Maio escrevi o texto que aqui envio. É que só hoje ganhei coragem de dar mais um grito a juntar a tantos que temos ouvido.

Ai Timor!


Gritos estarrecidos ecoam nos céus iluminados de vermelho pelas chamas galopantes que mãos criminosas ateiam sem pensarem que são seus irmãos, também, os que ali sofrem.
Lançam-se numa guerra fratricida alimentada vorazmente por um ódio acumulado de várias misérias porque onde nada há a perder, nem a dignidade se salva.
Tão grande é ainda a nossa inferioridade que nos permite agir como loucos trazendo para fora o pior que o homem tem ainda dentro de si, destruindo tudo à sua volta instigados por um rancor atroz àqueles que têm o poder, numa sede de vingança e inveja porque só querem acreditar que foram esquecidos e entregues à sua própria sorte, no desemprego, na fome e na miséria!
É preciso encontrar o caminho em que TODOS se sintam imbuídos pelo sentido do dever de trabalhar e caminhar em frente na construção de um País Unido, Livre, Trabalhador, rumo ao progresso que só é conseguido na união e pelo esforço centrado num objectivo comum.
Há que ouvir o bom senso dos líderes que governam este belo País. Esperemos que Xanana Gusmão, Ramos Horta e Mari Alkatiri levantem as suas vozes bem alto e digam que chegou a hora de nunca mais dizer: “Ai Timor!
29 de Maio de 2006

[b]odereii..

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