Oh, gente da minha terra!
Entre adultos e crianças são onze pessoas em casa. Há que guardá-la. O Hermenegildo vela pela família inteira e como é o único que tem emprego, tem de assegurar o sustento da mulher, do filho, dos pais e dos irmãos mais novos.
José é porteiro de um hotel. Já não é novo. Mas, desde que a crise começou, envelheceu visivelmente. Está preocupado com a família. Mora em Aimutin.
Maria, empregada de um supermercado, vive em Fatuhada. Vai dizendo que não aguenta mais a pressão. Está exausta. “Não durmo”, diz, porque “Na primeira semana, foram os tiros. Agora, todas as noites os oiço na rua, numa louca correria, amedrontando-nos, à espreita de um momento de distracção para queimar e roubar”.
O pequeno vendedor de tangerinas sorri, satisfeito por realizar, finalmente, algum dinheiro. E desabafa que perdeu a mercadoria toda que havia trazido de Lekidoi na primeira semana dos conflitos!
O Silvino não perdeu nada, conta, mas sente-se envergonhado pelo que está a acontecer. “Somos nós que estamos a matar-nos uns aos outros! Somos nós que queimamos, que roubamos! Quem irá, agora, acreditar em nós?”
O jardim à frente do porto alberga sob a sombra das suas árvores muitos deslocados. Muitas crianças adoeceram por dormirem ao relento. Mas sorriem, apesar de tudo! Ali, no jardim, tal como na Igreja de Motael, o gradeamento transformou-se num imenso estendal de roupa.
De repente, fica-se com a impressão de que se não se pode lavar a dor e a vergonha pelo desvario de outros timorenses, pelo menos, lava-se a roupa!
Díli é uma cidade diferente, mais suja, quase deserta, desordenada cheia de homens de camuflado, bem armados, fazendo a segurança a pé ou nos tanques de guerra.
Tudo isto intimida e entristece. E recorda-nos, a cada momento, que a sensação de sermos perseguidos na nossa terra, pela nossa gente não é apenas impressão. É a dura realidade.
O porteiro tem razão! É bom que os na´i ulun se entendam!
(1) na´i ulun –líder, liderança
(2) kiik – pequeno