« Página inicial | O cinema é uma festa » | Textos antigos que vêm a propósito » | Uns são mais iguais que outros » | Correccao » | Orgulho... » | Desabafos » | O rei bicéfalo » | Paus e pedras em vez de pessoas » | Helicóptero no ar é sinal de perigo. Ainda agora p... » | Mais motins » 

sexta-feira, março 09, 2007 

Querida burocracia!


Um dos principais entraves ao desenvolvimento do país tem a ver com a máquina burocrática do Estado – ou o seu uso indevido - e, intimamente ligada a ela, as teias, o absentismo, os seminários e as reuniões constantes do senhor/a responsável de cada sector, bem assim como dos quadros intermédios.
Acrescente-se o gosto pelo autógrafo de quem pode/manda ou de quem ciranda quem pode/manda. Sempre necessário, implorado (do tipo, por favor, preciso tanto!), que prazer sente o autor do autógrafo em se fazer rogado! Faz sentido! Afinal, trata-se da assinatura de alguém importante, num cargo relevante!
Se um cidadão está muito necessitado de uma assinatura /autorização fundamental para a validação de um documento, pode muito bem acontecer ter de esperar horas a fio que o senhor/a responsável esteja liberto de todos os afazeres; enquanto espera, é melhor rezar para que não lhe falte a paciência. Pode bem acontecer que, às 17H00, já não haja ninguém por perto. Às 17H00, teoricamente, está bom de ver. Agora que os nossos dias são marcados pela expectativa de um acto de violência quando menos se espera, o mais certo é contar que nada ficará pronto depois das 16H00.
Quem precisa, dê-se por satisfeito por ter o dito documento sobre a secretária do senhor/a responsável.
Claro que também pode acontecer que, dois dias depois, ninguém saiba do paradeiro do dito documento. Pode ter sido roubado, desviado… Ou que, em vez de um documento seja preciso outro e depois mais uma fotocópia, e depois outra assinatura de outrem… E, se assim for, será o interessado que deve encarregar-se de nova organização ou adaptação do processo que precisa de validação do que quer que seja via assinatura de pessoa importante.
E volta tudo ao princípio…
Pode haver legislação que regulamente determinado procedimento. Pouco importa que assim seja. Se o responsável dos serviços interpretar de forma diferente o conteúdo da lei ou entender que lhe deve dar a volta, não há nada a fazer senão adaptar a lei vigente a gosto do responsável que passa assim a valer mais que a lei. É que podemos voltar a precisar…
Há outras questões adjacentes. Tudo depende da simpatia ou antipatia do responsável de um determinado serviço por quem precise de um documento. Se o responsável gosta de olhos verdes ou cinzentos e o interessado tem o azar de ter olhos pretos ou castanhos… nada a fazer. Ali, manda ele! Há uma variante: ele/a não queria nada fazer isso; só o faz, só age assim porque está a obedecer ordens de alguém…
Também existem os intermediários, os que estão a meia tabela da importância no sítio, sensíveis, muito sensíveis e contagiados pela cultura da “cunhite” que se mete de degrau em degrau até chegar ao topo. Por perto, convém sempre ter um primo, um amigo, o familiar de um amigo.
Nos tempos em que havia tranquilidade, quem quisesse tratar do passaporte tinha de estar na fila para onde deveria entrar antes da abertura dos respectivos serviços a fim de conseguir encaixar-se nos primeiros números previamente estipulados para serem atendidos nesse dia. A espera longa originava que se deixasse outra pessoa a marcar o lugar do interessado no passaporte. Depois, naturalmente, dependendo do sol, da lua, das estrelas, da disposição do momento, do sorriso, da falta de café da manhã, etc., etc., podia ser que o necessitado de passaporte tivesse, ou não, sorte…
Aconteceu a alguém que, entre a falta de sorte e o ter os tais olhos castanhos em vez de verdes ou cinzentos, ao fim de um mês, e depois de reunidos todos os documentos essenciais exigidos à vez
(esse já está, mas agora falta outro; ainda não deu aqueloutro…), viu ser-lhe exigida a apresentação da certidão de casamento dos pais. Como estamos num país em que nem sempre há casamento de papel assinado…
Há dias, lia-se num jornal diário, não havia ninguém no STAE. Os serviços não abriram as portas porque os funcionários não compareceram. Não obstante, havia – e ainda há - muitos cidadãos à espera do novo cartão eleitoral.
No Parlamento, anteontem, não havia quórum para debater e aprovar determinada legislação. Aliás, basta seguir atentamente os noticiários da televisão para se verem as cadeiras vazias … Não estando em campanha eleitoral, sendo as eleições de 9 de Abril presidenciais e não legislativas, alguém pode explicar onde páram os deputados eleitos pelo povo?
No aeroporto de Díli, onde algumas das regras em vigor são idênticas às da Austrália, os bens alimentícios têm de ficar em quarentena. Tudo bem, se houvesse equipamento que permitisse que, após o período estipulado, os géneros continuassem em bom estado de conservação. Mas não, não há e o mais certo é a sua deterioração em dois, três dias, devido à temperatura do ar, sempre elevada. Pelo que, na circunstância, mais vale lançar-lhes um derradeiro olhar e dizer-lhes adeus, até sempre!
Obviamente, também há excepções de que é exemplo o hospital nacional Guido Valadares. Mas, mesmo assim, não é suficiente para salvar a honra do convento!

Uma burocracia como temos em Timor e um impedimento ao desenvolvimento e ao crescimento economico do pais. Estar em bicha e esperar horas e horas ou mesmo dias para uma assinatura e uma afronta a paciencia e ao direito do publico. Os senhores chefes e funcionarios publicos deveriam ser ensinados de que a funcao publica e para servir o estado e o publico. Os meus contactos com os funcionarios publicos em Timor tem se limitado aos que trabalham no Aeroporto. Por mim deveriam ser enviados a frequentar um curso de boas maneiras e de aprender a como sorrir para nao estarem sempre carrancudos. Para quem visita o pais da logo ma impresao a entrada.

Os senhores que estão em funções públicas é para servirem o Povo. Sem arrogância ou julgarem-se cidadãos especiais.
A simpatia nasce com a pessoa e não com cursos de "boas maneiras".
Com "carrancudos" não se constroi uma nação... Timor necessita de ser construído!
Todos que vão a uma repartição pública devem ser atendidos por igual, com prontidão e não considerados por pessoas de terceira ou quarta classe.
Num país democrático todos são iguais sem "pontinha" que seja de segregação.l
José Martins

Enviar um comentário