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sábado, novembro 18, 2006 

Timor-Leste, a língua e a identidade nacional

O desmembramento da União Soviética e a queda do Muro do Berlim ditaram o esbatimento de fronteiras e das questões suscitadas pela divisão Leste-Oeste. Sobreveio uma nova ordem mundial.
No Mundo, agora com fronteiras mais atenuadas e com o surgimento do novo fenómeno da globalização que tudo abrange - surgindo como uma imenso guarda-chuva onde se abrigam países grandes e pequenos, todos pugnando com armas cada vez mais sofisticadas por um lugar de charneira no painel dos países desenvolvidos e consequente supremacia sobre os mais fracos -, torna-se imprescindível marcar a diferença.
E, nesta competição selvática pela conquista de um lugar cimeiro no contexto do mundo desenvolvido, são justamente os países mais pequenos e mais fracos que têm cada vez mais dificuldades em afirmar-se. Têm de o fazer mas assistem, a maior parte das vezes, como simples espectadores, à luta travada pelos mais fortes na tentativa de esmagamento e consequente desaparecimento dos mais fracos, ou seja, deles próprios.
Nesse contexto - e quando se sabe que, sem identidade um Estado não sobrevive ou sobrevive mal, em particular quando se trata de países com fragilidades existentes por circunstâncias várias -, cada vez se torna mais premente a defesa e a consolidação da identidade nacional que passa pelo aprofundamento da consciência nacional, para o que é indispensável a interiorização e consciencialização dos traços identitários comuns. Até porque, no Mundo globalizado de hoje, assiste-se já ao despertar de uma outra identidade poderosa, a colectiva, a querer ocupar o lugar da identidade singular de uma Nação.
A identidade nacional está intimamente ligada à figura de Estado-Nação, característica dos tempos modernos, na qual instituições como o exército, as instituições políticas democráticas ou o ensino público sustentam uma cultura nacional e congregadora. Contudo, também o conceito de Estado-Nação parece estar a sofrer uma metamorfose, precisamente como resultado das transformações trazidas pela queda do Muro de Berlim e pelo advento do fenómeno da globalização, sendo urgente a criação de novas formas de sustentabilidade das características de uma Nação.

É indispensável que os países pequenos engendrem formas de sobrevivência e de manutenção da sua soberania de forma a não serem facilmente absorvidos, trucidados pelos países grandes, poderosos e economicamente mais fortes. Traços como um passado comum, a História, a língua, a cultura e a etnicidade, qualificativos essenciais do conceito de identidade nacional, devem ser cada vez mais aprofundados e enraizados em países pequenos, frágeis e pobres como é o caso de Timor-Leste.
Todos sabemos que a língua constitui uma das ferramentas fundamentais de um país, da representatividade de um povo, da identidade de uma Nação e, por outro lado, ninguém ignora que as atitudes neocolonialistas de hoje se manifestam de uma forma bem mais subtil. Por outro lado, um país sem identidade, sem carisma nem História, um país que se limita a ser uma cópia de outros, um país sem alma, será um país submisso, permeável a ser colonizado, assimilado e transformado numa extensão de outro país.

Os timorenses estão comummente ligados pela história da Resistência. Mais recuadamente, estão-no pela perseverança com que defenderam a manutenção dos seus traços culturais imemoriais ao mesmo tempo que beberam do país colonizador experiências que, gradualmente, o tempo se encarregou de integrar como novas características culturais, sem, contudo, prejudicar a cultura autóctone. A par da religião católica, a língua portuguesa é disso exemplo.
Compreende-se que Timor-Leste, país independente e com vincadas tradições culturais mas situado geograficamente junto de países fortes como a Austrália e a Indonésia, com os quais partilha fronteiras territoriais e marítimas, tenha colocado extremo cuidado no tratamento de questões consideradas determinantes para a consolidação da sua identidade, como foi a escolha corajosa da língua portuguesa como idioma oficial a par do tétum.
Se atentarmos na dificuldade da reintrodução do português devido à utilização abusiva do inglês e do indonésio em detrimento das línguas oficiais, podemos concluir que a existência das duas línguas oficiais – português e tétum – servindo os interesses dos que defendem a língua como traço identitário de Timor-Leste, é, por outro lado, um sério entrave a quem pretende, precisamente, o enfraquecimento desse traço, logo, do esbatimento da identidade timorense.
O português foi a língua utilizada pela Resistência durante a luta pela independência e a sua utilização marcou a diversidade timorense da dos ocupantes. Etnicamente parecidos com os indonésios do outro lado da ilha que também falam tétum – tendo em conta ainda que a Indonésia se pauta pela “unidade na diversidade” -, aos timorenses afigurava-se importante cultivar a desigualdade. A existência do traço marcante de total dissemelhança reside no português.
A Austrália é um país anglófono e é prática dos países de língua inglesa que o uso desta língua se sobreponha às línguas locais e dite o seu desaparecimento. No caso timorense, o tétum e os outros dialectos desapareceriam. Disso mesmo avisou o linguista australiano Geoffrey Hull quando, no Congresso do CNRT realizado em Díli em 2000, aconselhou os timorenses a escolherem o português em vez do inglês como língua oficial, dizendo claramente: “Eu sei que o Tétum, para sobreviver, precisa do Português".
E se tivermos em conta o panorama dos aborígenes da Austrália, facilmente concluiremos que seria um desastre para o tétum caso o inglês fosse adoptado.
Timor-leste é um pequeno país e vive uma incipiente democracia e não lhe é fácil, por si só, afirmar-se no Mundo; precisa, naturalmente, de se rodear de uma boa estratégia para se defender das novas colonizações que, todos sabem, são hoje mais aprimoradas. Nesta linha está a política de alianças, com países ou organizações com os quais haja pontos em comum e a integração do país no espaço cultural da CPLP, a comunidade dos países de língua oficial portuguesa, constituída por oito países soberanos falantes do português.

Parafraseando alguns dos nossos políticos para quem a escolha do português pouco tem de afectivo e não se baseou no enraizamento da herança histórico-cultural portuguesa, antes constituindo uma escolha político-estratégica, pautando-se a sua preferência pela disposição de assinalar a identidade nacional timorense, parece-me, contudo, importante sublinhar que, aliada ao pragmatismo da necessária selecção político-estratégica está, sem dúvida, subjacente - mesmo que no mais profundo da nossa consciência - o afecto resultante de séculos de prática e de convívio com outros falantes do português.
A dispersão actual de timorenses por vários continentes, bem como o regresso ao país de muitos timorenses exilados no estrangeiro em virtude da luta interna de 1975 e da ocupação indonésia, veio enriquecer o conceito de identidade nacional timorense.
Na verdade, a Nação timorense estende-se hoje para além dos seus limites territoriais. Ela está presente em Timor-Leste como em Portugal, na Austrália, em Macau ou na Indonésia. Se, em qualquer um destes pontos se viver Timor e a sua cultura, se se enriquecer a cultura ancestral timorense de outras particularidades – em que se inclui obviamente a miscigenação - , a identidade nacional timorense, longe de se ater aos limites do tempo português e dos que lhe precederam, sairá favorecida, mais rica e mais consolidada e Timor-Leste ganhará nova dimensão e outra visibilidade no Mundo.

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