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quarta-feira, novembro 08, 2006 

Homens e bichos


Anteontem, ao postar sobre a cidade de Díli, referi-me aos porcos e cabritos que se passeiam pelas ruas da capital que utilizam da mesma forma que os humanos. Nalgumas zonas, para além destes, também se vêem patos, patas, galos e galinhas, com a ninhada seguindo obedientemente os progenitores. Pensando melhor, é mais rigoroso mudar o tempo do verbo: viam-se, passeavam, utilizavam, seguiam. É que, devido à crise tudo faz parte do nosso passado recente! E se hoje os animais domésticos ainda se passeiam, fazem-no muito à socapa, não vá serem desviados para a panela de alguém.
Aqui na minha rua havia um búfalo que, uns meses mais tarde foi substituído por uma vaca. As minhas lindíssimas buganvílias serviam de pasto ao animal que depois ficava a ruminar pachorrentamente no descampado defronte da minha casa. Mas, nem alimentando-se de lindas buganvílias vermelhas e brancas, a vaca se tornou mais bela e mais airosa! Manteve-se um autêntico mastodonte que não me ligava nenhuma, nem quando eu procurava enxotá-la com um vigoroso “xut xut, sai daqui! Nunca saiu; até que um dia reparei que ela já aqui não andava…
Conta-se que ,no tempo da ocupação, se um militar visse um animal no meio ou na berma da estrada, perseguia-o, atropelava-o e só deixava a perseguição depois de se ter certificado de que o animal estava bem morto! E o dono do animal nem se atrevia a sair de casa para cobrar o preço do bicho atropelado!
Nos primeiros tempos, os da transição da ONU, quase não havia cães e os que havia, desapareciam rapidamente, sendo utilizados na cozinha numa inovação gastronómica introduzida pelos ocupantes. Ainda há alguns restaurantes onde se serve carne de cão mas parece que (felizmente!) estão em declínio!
Já depois da independência, um homem descobriu uma forma de fazer dinheiro facilmente. Tinha uns quantos franganitos raquíticos no quintal que não lhe davam lucro nenhum. Vai daí, o homem entendeu que devia dar-lhes outro fim. Frango debaixo do braço, escondido por detrás de um arbusto, mal divisava um carro a aproximar-se, o idiota lançava o franganito para debaixo das rodas e ao pobre bicho nem lhe sobrava tempo para revirar os olhos! Depois, era só saltar para a via, vociferar contra o desgraçado do condutor e exigir-lhe pelo frango uma indemnização estabelecida de acordo com o estatuto que transparecia do aspecto do condutor e do tamanho do carro. Assim foi juntando uns cobres até que alguém descobriu a marosca e o idiota não teve outro remédio senão mudar de modo de vida…
Quando ainda era possível ir à praia dos portugueses, que fica do lado de lá do Cristo-Rei, muitas vezes me cruzei com um rebanho de cabritos. Não sei se iam tomar banho à praia. O que sei é que alguns deles se deixavam ficar sob a sombra das árvores, quietos a olhar o mar, como o comprova esta fotografia que já publiquei noutro sítio mas que, sendo tão sugestiva, não resisto a republicá-la!

Mas afinal, não há nenhuma autoridade na matéria para pôr ordem na cidade? Pelos vistos não há. E é uma pena que num país tão bonito se deixe a cidade ao Deus dará, quando há tanta coisa por fazer.
Porque é que não põem os desempregados a limpar as ruas, a tirar o lixo, enfim pôr um bocadinho de ordem na confusão. Eu sei que é dificil, mas não impossível. Há que dar trabalho a essa gente para o país ir para a frente e não andar só a dar passos atrás.

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