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quarta-feira, novembro 01, 2006 

Quer uma chávena de café de laco?

O animal parece um boneco de peluche. Em vários tons de castanho, do dourado ao mais escuro, o pêlo do laco é macio e brilhante. Tem uns olhos bem vivos, focinho comprido e uma cauda longa e felpuda e, sendo embora fugidio e até agressivo no seu habitat – o cafezeiro ou cafeeiro - , o laco torna-se meiguinho e dócil quando domesticado. Assemelha-se a uma minúscula raposa, talvez do tamanho de uma gato não muito grande.
Vive na mata, esconde-se por entre a folhagem espessa e alimenta-se de fruta. O café, quando o grão já está bem maduro, vermelho, em cereja, é o seu alimento de preferência.
O laco é um animal noctívago. Dorme durante o dia, acorda e espreguiça-se lá pelo cair da tarde e à noite, com alguma fome, lança-se ao prazer de se alimentar. De café, pois claro!
Depois, sobrevêm normalmente as necessidades fisiológicas e os grãos de café são expelidos inteiros, apenas sem a película outrora vermelha e doce que lhe dá o nome de “café em cereja”.
Presumo que do lado de lá do computador haverá quem esteja a torcer o nariz ou, pelo menos, esteja curioso em saber que história é esta do café do laco.
Bom, vamos então a explicar:
Expelido juntamente com as fezes do laco, o café fica o tempo que for necessário como que esquecido no solo atapetado de folhas até que, finda a colheita normal, chega o tempo de apanhar o dito café de laco, para o que se exige uma grande dose de paciência, devido à morosidade da tarefa. E, como se calculará, esta é uma tarefa que precisa de gente que não se deixe abalar com estas coisas das sociedades primitivas!
Transportado ao terreiro, antes ainda de qualquer outro tratamento, a primeira tarefa consiste em apartar os grãos das fezes ressequidas.
Seguidamente, é posto de molho e bem lavado após o que é posto a secar ao sol. Mais tarde, e dependendo das exigências dos apreciadores que não dispensam um bom lote de café, há que proceder-se à escolha e separação entre as três variedades de café: arábica, robusta e libérica (este já praticamente inexistente).
Se se pretender que o café dure mais tempo, guarda-se o grão em pergaminho. Se se pretender usá-lo a curto prazo, deve ainda executar-se outra tarefa, a de retirar em máquina própria - com cuidado para que os grãos se mantenham inteiros - a película transparente a que se dá o nome de pergaminho.
E, pronto, eis o café de laco, limpo, escolhido e preparado para ser torrado a preceito e saboreado a qualquer hora do dia, em qualquer lugar, em boa companhia! Rui Cynatti era um grande entusiasta de café de laco.
Não sei se o leitor ainda mantém o nariz torcido. Alguma repugnância, talvez… É natural!
Mas, o que posso afiançar é que este café é menos ácido e bem mais aromático e saboroso! Dizem os entendidos que isso se deve ao facto do “tratamento biológico” a que é sujeito no estômago do laco. Acredito plenamente nisso. Sou uma fã do café de laco e recomendo-o aos apreciadores desta bebida.
Mas, admitindo que possa haver alguma desconfiança, aconselho a leitura de artigos sobre isso. Há meses, a minha amiga Anabela do Centro de Documentação do jornal “Público” enviou-me o recorte de um jornal com um artigo sobre o café do laco. Fiquei estupefacta pois não imaginava que houvesse tanto interesse por esta variante do café e por o mesmo ser tão caro!
Daqui deste lado do Mundo, pergunto com simpatia de quem nasceu na terra do melhor café do Mundo:
Quer uma chávena de café de laco?

Tive a imensa alegria de conhecer uma fazenda de café em "Turiscai" pertencente a uma família portuguesa. Lá me deparei com as fezes secas deste bichinho lindo, em meio aos pés de café. É muito interessante mesmo.
Agradecida pelo texto informativo de excelente qualidade.❤️🌷

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