O Diabo
Na esquina do que foi há uns meses o ponto de encontro de muitos timorenses, dois amigos encontraram-se. Já não se viam há tanto tempo que trocaram um longo abraço. De satisfação pelo reencontro e por ainda estarem vivos! Como bem se imagina, a conversa tinha necessariamente de resvalar para a crise que assola o país.
Dizia o José que, apesar de tudo, a cidade está mais calma, para logo acrescentar "mas nem vou fazer grande alarido, porque não quero espantar a sorte! Se o Diabo está a dormir, então é melhor deixá-lo sossegado!"
Carlos retorquiu que estavam ambos de acordo quanto à relativíssima estabilidade e foi acrescentando que a situação é tão volátil que já ninguém se atreve a vaticinar que a tranquilidade veio para ficar. Carlos esclareceu ainda que a calma, relativa, voltou apenas a algumas zonas enquanto noutras se mantém o clima de tensão, com a população em contínua vigilância, não vá o diabo tecê-las.
No entendimento de Carlos, o Diabo em vez de adormecido, está apenas silencioso, à espreita atrás da porta, à espera da primeira oportunidade para atacar. E justificava o que dizia com a leitura dos dois diários mais lidos. A maioria das notícias de primeira página falava de armas e de Justiça. De Reinado e de Rogério.
Argumenta Carlos que para haver armas, para estarem tão espalhadas e em tão grande número, alguém as deu. E, se Timor-Leste nem tem uma fábrica de armamento, donde vieram elas? Quem as comprou? Neste contexto, terá havido bom uso dessas armas? Contra quem e com que finalidade?
E se houve tanta vítima inocente e se o futuro do país está em risco, deve haver Justiça para os culpados, defende Carlos....
Tocado pelo discurso do amigo, José convenceu-se de que o Diabo continua à espreita. A ocasião faz o ladrão, dizia com os seus botões... Sem se atrever a falar alto, foi acenando que sim, muito ao de leve, não fosse ele o causador da ira repentina do Diabo!