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quinta-feira, setembro 21, 2006 

Outros tempos!



Já lá vai o tempo em que a resposta à sacramental pergunta “de onde é?” e consequente resposta “sou timorense”, suscitava um olhar de admiração do perguntador de Bali que assim começava a entabular conversa com o forasteiro.
A causa da admiração tinha a ver logicamente com a independência de Timor-Leste, fruto da coragem do povo sofrido que havia conseguido livrar-se do “imperialismo” javanês. E logo se sucediam os adjectivos qualificativos sobre gente comum, sobre os líderes … Oh!, Ah!, eram exclamações que acompanhavam as adjectivações em crescendo até atingir o grau máximo do superlativo, superior, super, colocado lá no cocuruto da montanha em que certamente moram as qualificações mais elevadas e atribuídas apenas a seres e povos de eleição. E tudo sobre os timorenses! Destes haveria quem se mantivesse indiferente a tanto superlativo? Duvido… Pois é, presunção e água benta…
É preciso dizer que a admiração balinesa não tem nada a ver com a vontade de Bali se apartar do país. Os balineses não são um povo que se interesse pela política. Gostam de estar assim. Contemplativos, naturalmente artistas, para além de praticar intensamente a sua religiosidade, estão muito mais interessados em desenvolver o seu pendor artístico daí resultando notória melhoria de qualidade de vida. Mas, assistir ao longo penar dos timorenses, ao culminar de uma luta difícil e testemunhar o fim glorioso de “tanto sofrimento para tão pequeno povo” - como dizia o título de uma notícia do Público escrita há muitos anos pelo António Marujo -, provocou, naturalmente, reacções de positiva apreciação e de justificado respeito.
Hoje, o olhar é de indisfarçada comiseração. E, sem cerimónia, surgem as inevitáveis perguntas sobre a situação, a crise (sempre elas!), não faltando também o comentário “é uma pena… como foi possível!...”
Bem queria, mas não consigo disfarçar a irritação surda que sinto quando me vejo perante a inevitabilidade de ouvir e ver a lástima das pessoas, mantendo a educação e o decoro necessários até porque sei que a razão não me assiste, pelo que nem tenho de refutar a justeza da sua comiseração, nem a irritação tem a ver directamente com o autor de incómoda questão!
No fundo, a irritação é contra nós, povo timorense. Porque custa ter de reconhecer que, por nossa teimosia, pela leviandade dos actos de alguns, pela compulsiva apetência pelo poder de outros tantos, permitimos que à admiração tivesse sucedido a comiseração… E depois, em reflexão e não tendo ninguém por perto, tenho de engolir em seco quando me ocorre aquele dito sobre a queda ser maior e mais rápida quanto mais rápida e maior for a subida! Mas, porque também é humano que me ponha a questão, era necessário que o tombo fosse tão grande?