O ressurgir dos meios de comunicação social
Não reapareceram todos, é certo, mas a maior parte dos jornais e rádios já aí está e cada um noticia à sua maneira o que acontece no país, sempre com muito pormenor, sempre com a ideia principal repetida três e quatro parágrafos seguidos. Mas fazem falta porque nos dão conta do ambiente em Díli e nos outros distritos.
Na rádio Timor Kmanek (1) de inspiração católica, o tempo de intervenção inflamada contra o governo anterior passou, tal como o preenchimento do tempo com longas horas de música com muito sotaque brasileiro sobre Jesus.
Agora, o tempo é outro. Noticiário a horas certas - entendem uns contra a falta de rigor nas horas ou sem horas, no entendimento de outros - para além de programas em que se dá a voz ao ouvinte nos quais se sucedem os apelos à paz, à concórdia, à reconciliação, ao perdão, havendo também espaço para um conto… e até sobra tempo para as “músicas pedidas”, em que se destacam a amizade, a lembrança dos refugiados dos vários campos de acolhimento ou de alguém longínquo, aí a três ou quatro bairros de distância…
E o amor, claro, bem destacado, no topo! E é assim que a qualquer momento do dia, numa arrebatada declaração de amor, lá surge o assédio à “secretária” de um cantor brasileiro muito na moda aqui no país.
Nos dois diários mais lidos e que reapareceram há algum tempo, o Suara Timor Lorosa´e, mais à direita, e o Timor Post, mais à esquerda, abordam-se temas diversos, sem grandes preocupações de agradar ou desagradar quem quer que seja, em tétum mas também e infelizmente em bahasa indonésio.
Na semana passada ressurgiu o situacionista Diário onde se vislumbra alguma, ainda que ténue, mudança. É justamente no Diário que leio sobre os insultos, ontem, em plena sessão parlamentar, entre dois deputados, do Partido Democrático e da FRETILIN. O jornalista chama a atenção para a falta de respeito e explica as razões dos insultos. Falta de tempo para discussão de um tema assuntado – segundo a versão do homem do partido da “minoria” - mas não agendado, de acordo com o ponto de vista do deputado da “maioria”.
Por sua vez, o STL relata o aparecimento em Baucau de uma Comissão Nacional de Refugiados e Vítimas que defende e abrange as vítimas dos acontecimentos violentos de Abril e Maio e exige a criação de um tribunal que julgue os criminosos. Sempre e sempre a Justiça …
E, se a comunicação social estrangeira nos dá conta da verdadeira parada de estrelas que, de Portugal, Moçambique, Malásia, Austrália, Indonésia e Macau, vêm integrados na equipa de defesa de Mari Alkatiri e Rogério Lobato, não deixa de ser curioso o destaque dado pelo Timor Post à disponibilidade de um advogado timorense ligado aos Direitos Humanos – Adérito de Jesus, da FRETILIN-Mudança - para defender o grupo de Rai Los. O que, na actual circunstância, convenhamos, é um gesto de coragem!