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segunda-feira, março 12, 2007 

Ninjas

Ainda mal passava das 23 horas. Regressávamos da casa de um dos meus irmãos (sim, eu sei que os tempos não estão de feição para saídas a desoras !) Uns cem metros antes de chegar a casa cruzámo-nos com um carro da polícia que descia a rua em direcção à rotunda do aeroporto.
E, mal transpusemos o portão, percebemos pelo alvoroço que tinha acontecido algo.
O que eu pensava que era imaginação alheia ou que acontecia sempre bem longe de mim, acabou por se tornar realidade no quintal da minha casa: um homem, de cara encapuzada – os tais ninjas de quem toda a gente fala - entrou no quintal, arrombou uma janela mas, ainda assim, conseguiu saltar o muro escapando-se de uma dentada do Pé-de-Vento, do Flecha, do Liurai e da Dondoca que, embora ladrando furiosamente, não foram suficientemente lestos para lhe dar uma trincadela na perna!
Não vi, corrijo, ainda bem que não vi! Não sei se desta vez seria capaz de gritar como o fiz em Maio do ano passado quando consegui com uma sucessão de gritos estridentes espantar os malfeitores que se preparavam para assaltar a casa da minha irmã que se situa próximo da minha.
Mas sei pelo G. T. e J. que o homem tinha uma máscara negra e era relativamente alto. Para G. foi por uma questão de minutos “tentámos apanhá-lo, mas ele saltou o muro antes do Pé-de-Vento lá chegar!” T. explicou que esses encapuzados costumam andar armados com uma faca…
Um dia destes vamos ter de fazer um muro mais alto. Vamos deixar de ver a colina – a que eu e os meus irmãos chamamos a “colina da mamã” - defronte da minha casa onde se situava a antiga casa dos meus pais e onde vivíamos em tempo de férias sem sobressaltos destes! Ficaremos como dentro dos muros de uma prisão!
Confesso que não é solução que me agrade muito.
A propósito de muros altos, lembro-me sempre do meu ar de algum desdém sempre que se dizia que em Port Moresby os muros tinham de ser muito altos para evitar os roubos constantes… Então como hoje, pensava eu que só acontecia aos outros, na terra de outros porque, em Timor, nunca! E, para me convencer de que assim era, recordava que nos meus tempos de menina e moça, as portas estavam sempre abertas, quer de dia, quer de noite…
Hoje à tarde, uma senhora moradora em Culuhun contou-me do ataque a casa de um polícia durante a noite de ontem – chovia que Deus a dava! – levado a cabo por um grupo de ninjas armados de facas que mataram dois dos moradores da casa de uma só vez!
Lá fora, recomeçaram os voos nocturnos.
E, agora que passa da 1H45 da madrugada e as luzes estão todas acesas fazendo do meu quintal um canto feérico a contrastar com a escuridão das montanhas, enquanto conto esta aventura que me tocou de perto, faço de conta que estou sem muito medo, que até estou calma… e, repentinamente oiço ladrar furiosamente os meus cães…
Que arrepio!

Lamento que os estado das coisas em Timor-Leste continuem assim.
Bom, sempre, pensei e igual a mim milhares de outros que simpatizaram e se solidarizaram com o Povo de Timor-Leste que depois da independência tudo correria em cima de rodas.
O defeito das coisas de não ter corrido bem (como deveria) deve pertencer aos que tomaram conta do poder em Timor e se comprometeram fazer o seu melhor em favor daqueles que acreditaram nas suas pessoas e claro está (no nosso caso) não duvidamos das suas pretensões e os consideramos gente de bem.
Um país onde não há trabalho para todos e com isto dinheiro dos seus salários para comprar pão e arroz, não há ordem.
Igual: "na casa onde não há pão todos ralham sem ninguém ter razão..."
Porém houve, da parte dos governantes, desde o princípio, uma má organização na concretização de um sistema polícial que permitisse salvaguardar os cidadãos e os seus bens.
Ma segundo aquilo que lemos, na comunicação internacional, os governantes não se entenderam lá muito bem uns com os outros. Ambições,ambições a quanto obrigam e quando um país tem petróleo, os senhores do poder andam às "turras" em procura (não digo de quê) de qualquer coisa e menos o dar condições de vida ao povo com todas essas riquezas que Timor-Leste encerra.
Como admirador do Bispo D. Ximenes de Belo e da sua resistência em ter estado junto aos timorenses numa altura difícil a da ocupação da Indonésia, tenha saído de Timor.
Porque teria sido?
Alguém será capaz de me responder?
Cordialidade
José Martins

Cara Dra. Ângela Carrascalão,

Sei que a família Carrascalão sempre foi muito relevante, quer socialmente quer politicamente, em Timor.
Sei também que antes da independência desenvolveram esforços no País e no exterior para que tal acontecesse.
Só não entendo, e com todo o respeito, qual tem sido o papel da família Carrascalão nesta fase crítica de Timor.
Não seria altura de terem um papel mais forte e presente?

Henrique Albino Figueira

Sr.Henrique Albino Figueira

Só um esclarecimento: eu não sou Dra...
Sobre a outra questão, responder-lhe-ia de bom grado, mas não o devo fazer neste blog que não é meu -é do Público que fez o favor de me convidar para nele escrever - e, no meu entendimento, não deve servir para veicular o que quer que seja sobre a minha família. Mas, se me der o seu contacto, terei todo o gosto em lhe explicar.

Caro Senhor Jose Martins!
Existe muito boa gente em Timor que sabe a verdadeira razao porque o Bispo saiu de Timor, quando Timor precisava mais dele (?). Contudo todos optam por manter o segredo muito secreto. Dizem as mas linguas que foi por assedio............

Caro Senhor Albino Branco,
Não colocamos em dúvida que em Timor-Lesta não haja gente boa! Nós não dissemos que a gente de Timor era má!
Sempre simpatizei com ela desde os primórdios da luta para a autodeterminação.
Eu sei onde quer chegar com a frase assédio e mais os pontinhos a seguir.
Já alguém me tinha dado o "lamiré" em relação a isso.
Não me acreditei e como em política vale tudo (menos arrancar olhos), inclinei-me mais para o lado da intriga.
De casas de políticos (seja de que país for) com telhados de vidro está o mundo cheio!
Sabia disso?
Cumprimentos
José Martins

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