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terça-feira, janeiro 30, 2007 

Desalento

No Bairro Pité arderam umas quantas casas. E há quem assevere ter ouvido tiros. As forças internacionais apareceram muito depois de terem sido chamadas, mas não intervieram.
A população nem dormiu.
De entre os vários comentários ouvidos da gente mais jovem, não há dúvida de que são os "vadios" que se prestam a esta tarefa de amedrontar, queimar, matar...e, quem está por detrás dos destruidores, sabe muito bem que os jovens vadios são sensíveis a uma gorgeta... mais claramente, são comprados por quem possui meios suficientes para os esbanjar na compra de tanto bandido. E, tendo em conta que esta situação de permanente instabilidade dura há quase um ano, deve ser alguém com muitos meios!
Dizia uma jovem que é uma pena que os vadios-incendiários-vândalos-selvagens não consigam compreender que "estão a destruir o que é nosso" e que "somos todos pobres mas atacamo-nos e destruimos o pouco que outro pobre tem".
Num desabafo, vou dizendo que este povo que destrói e mata, o nosso povo, pouco tem a ver com o povo da minha infância. E recordo que então era possível deixar coisas na varanda, deixar a porta apenas fechada no trinco, que toda a gente se cumprimentava na rua, que havia respeito pelo próximo; ainda lhes digo que também havia alguns bandidos, mesmo sabendo que os daquele tempo eram meninos de coro quando comparados com os bandidos de hoje...
Os jovens olham-me de soslaio. Custa-lhes a crer que essa tenha sido a realidade timorense ainda que muito recuada. A experiência deles é diferente da minha. Eu sou fruto da colonização portuguesa, eles são-no da ocupação indonésia. Nos dias da ocupação indonésia, dizem-me, as portas tinham de estar fechadas a sete chaves!
Grande parte dos jovens que hoje se perdem nas ruas criando o terror, tem pouco mais de doze, treze anos. São a geração UNTAET, que cresceu na rua, arranjando facilmente dinheiro com a lavagem de carros, ou a "securitie"... Outros, são os meninos da independência, que sabem tirar partido das suas simpatias "clubísticas", fazendo mal ao parceiro do lado pertencente a outro clube...
Mas um dos jovens com quem conversava, fez questão de me dizer que nem todos os jovens são bandidos e, depois de se distanciar dos vândalos que "não querem fazer nada senão vadiar e fazer asneiras" deixa no ar uma triste constatação:
"Portas abertas, respeito? Isso era no seu tempo! Hoje, até o conceito de família desapareceu e os pais nem se atrevem a chamar a atenção aos filhos porque podem levar uma bofetada, para além de serem violentamente insultados!
Acabo a conversa. É demasiado frustrante e nem sempre me sinto com capacidade para aguentar de cara alegre as histórias tristes que nada mais ilustram senão traços de carácter menos bom do povo a que pertenço.

Extraordinária análise, do antes, do depois e do agora, ou seja do tempo colonial, do tempo Indonésio e do tempo presente que é o resultado de tudo o que para trás ficou.
Estive aí há relativamente pouco tempo (1 ano atrás). Gostei Muito de Timor e de um modo geral do seu povo, gostei fundamentalmente do contacto com aqueles que tinham conhecido e convivido com os portugueses que os houve certamente de todas as qualidades, bons e menos bons, com certeza muitos que pertenciam a um país colonizador mas que não se sentiam colonos mas sim peças de uma máquina a que eram obrigados a pertencer. Convivi também com outros que já pertenciam à fase Indonésia mas que não senti serem os monstros em que agora se tornaram. Será que foi apenas aquilo que viveram no tempo Indonésio ou será isso mas também um profundo desagrado por não vislumbrarem melhores dias? Não teria sido possível criarem mais emprego? Há tanto para fazer em Timor que algum do possível dinheiro eventualmente recebido do petróleo ou de ajudas externas que foram certamente chegando que daria para criar algum emprego. É certo que os governos não estarão especialmente vocacionados para os criar, mas não os criando deveriam dar mais auxilio àqueles que os pretendem criar. "Cada macaco no seu galho" Os políticos não devem de pensar apenas neles mas também naqueles que os elegem.

O seu post é chocante, para mim, quando penso em quanto sofrimento os timorenses tiveram, e no seu relato do antes de pois e durante, as realidades são tão diferentes, numa união de todos os esforços Timor tem tudo para mostrar ao mundo como se renasce das cinzas, mas há quem n queira, infelizmente, mas eu ainda acredito que Timor pode ensinar o mundo a acreditar que a n violência existe, quem dera que fosse já hoje

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