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segunda-feira, dezembro 04, 2006 

Luís reencontrou a paz

Razões de ordem particular, obrigaram-nos a perder o medo e a fazermo-nos à estrada, rumo a Venilale. Fizemo-lo ontem, de manhã cedo.
À primeira vista, tudo parecia igual ao que era de dantes, notando-se, contudo, menos movimento nas estradas, menos gente a pé e ninguém a acenar.
Em Hera/Metinaro, antes do quartel das F-FDTL, metade das tendas brancas da ACNUR foi substituída por casas de palapa cobertas de colmo. E aí, sim, havia muita gente. O campo de refugiados deu origem a uma pequena povoação, com quiosques, venda de legumes e muitos grupos conversando à beira da estrada.
Em Baucau, o mercado regurgitava de gente e a aparência calma das pessoas era o reflexo do sossego reinante e que há muito desapareceu de Díli.
A razão da visita nada tinha de agradável mas, em Venilale, aconteceu algo que nos deixou profundamente aliviados.
Logo nos primeiros dias de Junho, relatei aqui a história de um grupo de jovens trabalhadores rurais que tratavam de uma pequena horta, sem nunca se terem dado seriamente conta da divisão “Lorosae/Loromonu”, até ao eclodir dos conflitos de Abril e Maio. E lembro-me ainda de contar que, receoso da fúria da população maioritariamente de Loromonu, Marcos ajudara Luís, o trabalhador de Leste, a esconder-se e, posteriormente, a escapar-se em segurança, não fosse perecer às mãos de enfurecida gente.
No meio do ambiente de tristeza, lobriguei, por entre a multidão, a cara satisfeita de Luís quando nos viu. Abraços, naturalmente que os houve, para além de muitas perguntas e outras tantas respostas. E assim fiquei a saber que, três dias depois de se ter refugiado no Colégio D. Bosco, Luís partiu silenciosamente para a sua terra natal.
Voltámos para Díli já a madrugada ia alta e não se via vivalma no caminho. Tudo deserto. Menos no campo de refugiados-nova povoação de Hera/Metinaro onde se mantinha imensa gente na estrada.
Recordo as lágrimas de aflição de Marcos em Junho passado.
Desta vez, mal lhe dei a novidade, as lágrimas voltaram a rolar copiosas pelas faces de um Marcos muito aliviado!
Estou de acordo com o Marcos e, tal como ele, também eu fiquei com a certeza de que “Maromak tulun nia!”, ou seja, Deus ajudou-o, ao Luís.
E como, nestas coisas do destino, mais vale não desafiar a sorte, também concordo com o Luís para quem, agora, é ainda muito cedo para voltar pois “as notícias de Díli não são nada animadoras”.
É que, em Venilale, mesmo sem trabalho, Luís reencontrou a paz e não está disposto a prescindir dela! Por outro lado, mesmo acreditando na eterna e presente ajuda do Divino, Luís também acredita que a maldade humana se mantém, aparecendo cada novo dia vestida de nova roupagem


Ainda bem que nem tudo é mau. Pelo menos fora de Dili há mais calma. Realmente é preciso pôr a juventude a trabalhar para lhe dar ocupação e assim não pensar em andar às pedradas a quem passa.

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