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sexta-feira, outubro 13, 2006 

Ei-la, a chuva!

De repente, ouve-se um barulho ensurdecedor. Não é do gerador, não estamos a ser sobrevoados por nenhum helicóptero... e ei-la, a chuva, faz a sua entrada triunfal, sem cerimónia!
A chuva de ontem à noite desabou sobre a cidade à vontade durante uma hora. A época das chuvas começou, pois, em tempo oportuno.
O ar impregnou-se do cheiro da terra que, tão ressequida, embebeu sofregamente a água em menos de um ai; as folhas das árvores livraram-se da poeira; o ar tornou-se mais límpido; a ribeira de Comoro continua seca, sinal de que ainda não choveu bastante nas montanhas. Mas nos campos de refugiados espalhados um pouco por toda a cidade, a chuva deve ter inundado tudo!
Daqui a duas semanas, se a chuva continuar a cair diariamente, as montanhas castanhas que abraçam Dili estarão atapetadas de verde!
Nas montanhas, onde já deve ter sido preparada a terra para as sementeiras, vamos a ver se haverá tranquilidade suficiente para que os agricultores possam aproveitar a dádiva da Mãe Natureza!
E depois, sem paragem, irão suceder-se os pequenos sinais de um novo tempo. Um desses sinais é o da chegada de novos insectos, alguns deles ocupantes nocturnos e inoportunos das varandas, fascinadas pela luz que irradia dos candeeiros.
Nos meus tempos de menina e moça, bem garota, quando vivia na montanha, e quando ainda a energia eléctrica não fazia sequer parte dos nossos sonhos, as noites eram iluminadas pelo “petromax”, candeeiro a petróleo que difundia uma luz razoável.
Na cozinha, quando o petróleo não chegava a tempo de Díli, a iluminação era muitas vezes conseguida pelo uso do camim. O miolo da noz da árvore do camim, de cor amarelada,era reduzido a uma pasta com o qual se envolvia a extermidade de um pedaço de pau de café mais ou menos comprido ao qual se pegava fogo. Resultava, garanto!
Na varanda, de um momento para o outro, o petromax ficava rodeado por formigas voadoras, bem grandes, gordas! O espaço era delas! E nós sacudíamos o ar que esbofeteávamos como a nós próprios, desesperados, impotentes... e elas, ali, senhoras donas volteando, saracoteando.
Devo acrescentar que, nesses tempos, também não havia insecticida e, ou convíviamos amigavelmente com elas, ou nos batíamos, ou nos desesperávamos, ou arranjámos forma de as retirar do nosso sítio.
Optava-se sempre pela última hipótese.
No chão, colocava-se um recipiente cheio de água, precisamente por baixo do petromax, reflectindo a sua luz. E era vê-las, loucas e fascinadas por mais um elemento de luz e brilho, em delírio pela certa, mergulhar de cabeça na água! Daí a pouco, a bacia estava repleta de formigas.
Deitavam-se fora? Claro que não! O seu destino era outro e os habitantes da montanha sabiam bem que fazer com elas.
Então, era assim:
Retirava-se totalmente a água das formigas, fritavam-se ligeiramente em banha, com ou sem sal, e servia-se!
Eram um petisco de comer e chorar por mais, digo eu enquanto recordo e imagino que ainda guardo na memória o sabor deste petisco apenas experimentado em outros dia bens longínquos!
Hoje, não sei se seria capaz de as comer. Também comi muita cigarra grelhada sobre as brasas e agora, só gosto mesmo é de as ouvir cantar...

Pena aqui, na Europa, não haver monções. (;) há quem diga que ainda chegaremos lá em três décadas!).
Esta descrição da "entrada triunfal" e do "barulho ensurdecedor" da chuva fez-me ter saudades desses climas, que para mim, são climas de infância.:)

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