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quarta-feira, outubro 25, 2006 

Desordem!


Depois do desassossego da tarde, a situação manteve-se calma, silenciosa até à meia-noite quando, por um período mais longo que o normal, os helicópteros se encarregaram de emprestar agitação a este bairro onde, depois do pôr-do-sol e em tempos normais, os ruídos mais vulgares pertencem a grilos, tokés ou galos. Ou a música de um casamento, de uma festa.
De manhã, entendi o porquê de tanto alvoroço.
Eram oito horas quando saí de casa. A meio da rua encontrei o Jonhny que me pôs ao corrente da situação:
- A noite foi má… Nem dormimos! Há meia hora, houve confusão e muitas pedradas, mas as forças internacionais chegaram e todos sossegaram. Vá com cuidado. Mantenha os olhos bem abertos!
Realmente, ali na rotunda do aeroporto, o ambiente era desolador. As pedras, enormes!, enchiam a via, umas casitas, pequenas, estavam destruídas. E à entrada para o aeroporto estavam estacionadas as forças australianas, parecendo atentas ao movimento na zona. Aparentemente, havia segurança. Só não havia funcionários nem veio avião…
Lá mais para a frente, mesmo à entrada da ponte, estavam as forças malaias. Controlando o movimento do bairro de Bebonuk.
Prossegui o meu caminho e só no local de trabalho soube que hoje, a exemplo de ontem, era feriado. Fim do Ramadão.
De regresso a casa, a agitação e o movimento na rotunda já eram bem grandes, tendo-se alastrado à rua onde moro. Disse-me um transeunte que as coisas continuavam feias…
A via principal foi cortada ao trânsito e, precisando de voltar ao centro da cidade, fui pela ribeira. Durante todo o dia, manteve-se o alvoroço especialmente em Comoro, mas não só aqui.
Balanço de mais um dia de agitação na cidade de Díli:
Barreiras. Controlo do movimento dos carros. Incêndios de casas e tendas. Troca de provocações, pedradas e insultos. Atiraram-se culpas. Um homem morreu. Três elementos das forças internacionais ficaram feridos, com mais ou menos gravidade. E nós perdemos um pouco mais de amor-próprio. E também nos destruímos mais um pedaço.
Preparamo-nos para o dia de amanhã que, estamos quase certos, está mais próximo de ser igual ao de hoje do que um dia calmo. Até por isso, o segurança de serviço de uma casa particular se fez acompanhar de mulher e três filhos pequenos levando-os para o seu posto de trabalho, não vá o diabo tecê-las e alguém assaltar ou destruir a casa durante a sua ausência em trabalho nocturno.
Todos se mostram cansados. Todos dizem que o povo timorense não merecia isto. Alvitra-se que alguém estará por detrás desta desordem. E deixa-se, permite-se que o desordeiro continue a agir impunemente.
Não sei se poderemos considerar a violência como uma questão cultural, algo que herdámos dos nossos antepassados, avoenga… Se assim é, quanto tempo mais será preciso para extirpar esta característica menos boa da nossa cultura? Ou vamos aceitar que, sendo parte da cultura, é intocável e, sendo intocável, é vulgar, comum, fatal que nos destrua até que não tenhamos nada, até que não sejamos ninguém, até que deixemos de ser Nação?

Não acreditamos na sua sinceridade quando se interroga de quem estará por trás de tudo isto?
Será difícil ver que os generais indonésios nunca perdoarão o que lhes aconteceu em Timor-Leste?

Quase me apetece dizer que foi em vão que nos preocupámos e sofremos, aqui em Portugal, pelos destinos do povo de Timor-Leste durante a ocupação indonésia.

Porque uma boa parte dos timorenses não mereceram essa preocupação e sofrimento.

Estes timorenses não estarão a ser manipulados pelos mandatários dos senhores do gás e do petróleo (onde se devem incluir Xanana, Ramos Horta e a Igreja, para além de australianos e outros aliados)?

Não sabem que estão a destruir um sonho lindo, a cada dia que passa, ao criarem a violência nas ruas de Dili?

Depois da despudorada manobra que depôs antidemocraticamente Alkatiri, como muitos avisados e sérios jornalistas previam, foi criado, lenta mas eficazmente, o caos que há-de conduzir à vitória final dos senhores da guerra e do capital.

Ao Zé Lérias

Depois do que Alkatiri nos fez em 1975 e agora estes anos você devia era pintar a cara de preto se é branco e de branco seé preto como eu.
Alkatiri foi a maior desgraça que aconteceu aos mauberes e a Timor-Leste e não tem nada a ver com petróleo ou Austrália. Tem a ver com Moçambique, China e o Bin Laden. Sabemos que lhe custa muito ler isto mas a nós também nos dói o que o senhor escreve.

timor-deste.blogspot.com

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