quarta-feira, fevereiro 27, 2008 

Querídissima RTP!

Faço parte do grupo de pessoas que vê a RTP-Internacional, em particular os programas que passam no horário nobre de Timor-Leste, entenda-se, à hora do jantar. Mas, também acompanho a emissão um bocado antes e um bocado depois do jornal das 13 horas que aqui passa ora às 21H00, ora às 22H00, conforme a mudança da hora em Portugal.
Quase sou levada a acreditar que deve ser especialmente para mim - que gosto de cozinhar e sou apreciadora da gastronomia portuguesa - , que se repetem os programas de culinária num só dia, a horas diferentes! E tantas e tão repetidas vezes vi e ouvi - às vezes até com intervalos bem curtos! - que não vou esquecer tão depressa que a mãe da Sofia Aparício é médica e daí tê-la habituado a alimentar-se bem, já aprendi que se comem flores, que é melhor retirar a casca às favas, que o vinho branco a acompanhar determinados pratos voltou a estar na moda; também sei que Capote tem um cão que ladra durante a gravação do programa e pode ir a qualquer parte do Mundo ensinar cozinha portuguesa, como e quando se junta a cebolinha, a batatinha, o alhinho, limpar as mãozinhas, etc., etc... Sei isso tudo!
Estou quase a ficar agricultora! E já aprendi muito! Seria útil, claro, se os produtos de que fala a menina apresentadora de cabelo preto e liso e de olhos verdes se dessem nesta zona dos trópicos.
Aos sábados e domingos à noite não há febre, nem música nem dança! Há descanso, mais Alma da Gente para além do que passa durante a semana e Parlamento.
Sim, aqui deste lado do Mundo, o que mais nos interessa é saber as pequenas coisas do Parlamento, quanto mais não seja porque todos queremos ser políticos!
E porque é preciso conhecer de fio e pavio a Alma da Gente, dos sítios de Portugal e dos portugueses dados a conhecer pelo Prof. Saraiva, nada como acompanhar o programa em duas edições do mesmo passadas no mesmo dia com intervalo de duas horas, mostrando o historiador vestido com o mesmo sobretudo e cachecol cinzento!
Ia-me esquecendo de dizer que reconheço à légua algumas caras, campos de refugiados, campos de milho... e até sou capaz de repetir o tom de voz da locutora!, tantas e tão repetidas vezes têm surgido no intervalo do noticiário das 13 horas em programa propagandístico das benfeitorias da ONU pelo Mundo!
É verdade que há algumas excepções. Mas, são tão poucas que uma mão chegaria para as contabilizar! A título de exemplo, o “Conta-me como foi” perdeu o lugar de programa nobre à hora certa, em dias certos. Mas, vá lá, do mal o menos, pelo menos continua no ar uma vez por semana! Estamos, pois, com alguma sorte!
E também é verdade e é claro que eu podia sintonizar outra estação. Podia ver a cubana, por exemplo. Ou a espanhola. Ou a chinesa ou outras tantas mais. Mas, sou teimosa, e quando não vejo a RTP, vejo a RTTL timorense que, dado ao excelente trabalho e ao empenho de José Alberto de Sousa no apoio à divulgação da língua portuguesa conseguiu que fossem substituídos os programas em inglês e indonésio pelos programas portugueses. Isto significa que a televisão nacional dos timorenses está quase sempre conectada à RTP-Internacional. O que seria muito bom, não fosse a qualidade e o desinteressante da quase totalidade dos programas, para além da repetição dos mesmos!
Não gostaria de concluir que haja quem entenda que quem vive fora do país ou que os falantes estrangeiros da língua portuguesa têm dificuldades de aprendizagem ou que andam desmemoriados. E menos ainda que alguém pense que tudo serve para nos entreter, até porque “para quem é, bacalhau basta!”
É claro que a culpa é da diferença horária! Porque haveria Timor-Leste de estar situado nos antípodas de Portugal? É claríssimo que a culpa também pode ser nossa. Afinal, quem nos manda termos insuficiente e pobre produção própria? Ou ainda, porque teremos escolhido a língua portuguesa como um de dois idiomas oficiais? Ou ainda, ou ainda, ou ainda...
... Bom, já sei! Se eu quiser acompanhar um bom programa de informação ou de entretenimento emitido pela RTP-Internacional, terei de me manter acordada noite adentro. Sim, eu sei: não deverei dormir!

quinta-feira, fevereiro 21, 2008 

O tempo em Timor-Leste reflecte o estado de espírito dos timorenses.
Céu cinzento, águas turvas, deprimente...
E o ruído da água das chuvas, ora forte, ora em sussurro, tal como o rumor de que estamos em risco de perder as nossas referências, torna-se incomodativo.
Estamos inquietos. Receosos. Contudo, continuamos à espera, sempre à espera de que melhores dias virão... E assim vamos vivendo!

sábado, fevereiro 16, 2008 

Em persistente desconcerto mas, ainda assim, independente!

Estão calmas as ruas da cidade que, a partir das cinco da tarde, começam a ficar desertas mas, bem antes disso, há muitos estabelecimentos comerciais que fecham as portas. Quando terminar o estado de sítio, será tempo de medir as consequências e o impacto causado na já debilitada economia timorense.
Serena, mas com medo e estupefacta com a facilidade com que atiraram contra o seu Presidente, assim anda a população.
Há muitas teorias e muitas perguntas sobre o atentado de segunda-feira e as questões que os timorenses se colocam são diferentes das dos internacionais.
Questiona-se o cidadão comum: se nem ao Presidente da República, primeiro magistrado da Nação timorense, as forças internacionais guardaram como deviam, quem pode sentir-se seguro e qual a garantia da segurança prestada pelas Nações Unidas?
E como se explica que Reinado tivesse chegado tão facilmente, à luz do dia – sim, reconheça-se que a luz das seis horas da manhã não é difusa para os timorenses mas é ainda alta madrugada para quem tem outros hábitos - sem que ninguém, de entre os que têm a responsabilidade da segurança do país, desse por isso? Admitindo que Reinado veio nessa madrugada de Ermera, como pôde atravessar a cidade de ponta a ponta? Se dormiu em Díli, como o não viram sair de Gleno?
Há certamente muitas preocupações das forças internacionais, mas há uma que sobressai de entre elas: a de saírem incólumes deste imbróglio. Entende-se. Há que defender, apesar dos falhanços, a teoria do país de sucesso construído em dois anos sobre mal alicerçadas fundações… E quando há necessidade de auto-defesa, nada como alijar a culpa para cima de outrem…
Talvez, por isso haja tanta preocupação em frisar que os homens do Presidente foram os primeiros a atirar. Mas não deveria ter sido assim? Ou os guardas deveriam ter ficado à espera de serem também eles baleados?
Comentava alguém que “quando há sucesso, o mérito é deles, das Nações Unidas; quando as coisas dão para o torto, a culpa é nossa, dos timorenses."
Integro essa mole imensa que constitui o povo timorense e
, a exemplo de muitos dos meus compatriotas, pergunto que mais precisará de nos acontecer para que as Nações Unidas em Timor-Leste desçam do pedestal em que se colocam e reconheçam que falharam?

Dos amigos que nos rodeiam há os que se mostram interessados em nos prestar ajuda e se preocupam, não sei se genuinamente, com a viabilidade do Estado timorense; desta última, convém dizê-lo, nós próprios nos temos descuidado, preocupados que andam alguns timorenses em defender os seus próprios interesses.
De entre os amigos, um dos nossos poderosos vizinhos já nos visitou duas vezes em dois meses. Na segunda visita “nesta difícil hora para Timor-Leste”, o Primeiro-Ministro Ruud, declarou as forças australianas em Timor-Leste continuarão aqui enquanto o Governo timorense quiser e enquanto forem necessárias.
Espero que essa presença contribua, como disse o Brigadeiro-General Taur Matan Ruak “para a solução dos problemas no território e não para o agravamento dos problemas” e “não sejam um cancro ou uma úlcera”.
Por meu lado, acrescentaria ainda que seria bom que não se esquecessem de que Timor-Leste é um país independente! Depauperado, em persistente desconcerto, instável, frágil, mas, ainda assim, independente!

terça-feira, fevereiro 12, 2008 

Sedentos de poder, deuses de coisa nenhuma

Somos quase um milhão de timorenses. Muitos? Alguns. Mas, sendo alguns, como dizia pessoa amiga, não tantos nem tão bons que possamos permitir-nos ao luxo de prescindir de quem quer que seja. De ninguém. Menos ainda de duas personalidades chave para a construção da nação timorense, que, goste-se ou não se goste, concorde-se ou não com eles, constituem a nata da política timorense e são, por direito próprio, incontornáveis no panorama político de Timor-Leste.
Quem atentou contra a vida de personalidades com o peso político e a representatividade de Ramos Horta e Xanana Gusmão só pode tê-lo feito por interesse próprio ou de terceiros (e vá lá adivinhar-se de que terceiros!); fê-lo certamente animado da convicção de superioridade humana sobre outro seu igual; fê-lo prenhe de auto-convencimento, alcandorado a imortalidade única, elementos quiçá incutidos ao longo do tempo por algum “brilhante” mentor a quem, de tão fraco espírito, se deixou embalar pelo canto da sereia, pela ideia de que se tornara deus, sem perceber que não servia sequer para deus de coisa nenhuma; fê-lo quem, alcandorado a falso trono e do alto do atrevimento que a ignorância sempre confere se deixou convencer e acreditou que seria fácil tomar o Poder e transformar Timor-Leste numa quintarola não sei se para destino de férias se para campo de tiro de alguns.
Não acredito que haja um timorense que se preze que esteja interessado em subir ao Poder espezinhando, esmagando, matando outro timorense.
…Nem sequer me apetece questionar o papel das Nações Unidas em Timor-Leste…
E assim…me fica sobrando em tristeza e em vergonha o que me vai faltando em palavras.

Apenas me ocorre perguntar: a quem interessa o desaparecimento de José Ramos Horta e de Xanana Gusmão?

segunda-feira, fevereiro 11, 2008 

Ai,Timor-Leste!

Atiraram contra o Presidente e feriram-no, atacaram o carro do Primeiro-Ministro mas, felizmente, não o atingiram.
Sinto uma imensa tristeza e uma vergonha ainda maior!