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sábado, novembro 03, 2007 

Um país, dois sistemas

Um grupo de deputados de vários partidos da anterior legislatura –nascida da transformação da Assembleia Constituinte em Parlamento Nacional – que, recorde-se, não foi reeleito para a segunda legislatura constituiu-se em associação.
A organização visa defender os interesses dos ex-deputados e dos que se lhes seguirem; surge na sequência da movimentação de alguns novos deputados que querem agora rever a lei que regula as pensões vitalícias dos titulares de cargos públicos, em particular dos parlamentares , lei essa aprovada na anterior legislatura por a considerarem imoral.
Os fundadores da organização estão muito preocupados consigo próprios, com a sua sobrevivência. Na apresentação da organização e justificando a correcção da medida regulamentar e o merecimento pelo trabalho então desenvolvido, defendia Clementino Amaral - que com Manuel Tilman integrava a bancada do KOTA - que a lei não foi aprovada apenas pela FRETILIN; foi-o por unanimidade. Diria eu que só é pena que os deputados apenas tivessem conseguido unanimidade em defesa de causa própria...
Ao ouvir os defensores das benesses, de repente passou-me pela cabeça que eles, os deputados é que estão certos e nós, povo timorense, estamos todos errados. Ou andamos todos distraídos. Ou, então, estamos a dormir e não demos conta de que desde a nossa independência que temos vindo a conseguir mais depressa do que se pensava a concretização de todos os direitos consagrados na nossa Constituição!
É que nós, timorenses, somos quase um milhão de habitantes da mais nova Nação do Mundo e, na concretização dos direitos que a Constituição da República Democrática de Timor-Leste (aprovada pelos próprios deputados agora constituídos em associação) consagra, todos temos, já, uma excelente qualidade de vida com habitação, trabalho, saúde, segurança, paz, liberdade!
E só por não estamos acordados nem atentos é que ainda não percebemos que, da cidade às aldeias, todos os timorenses têm três refeições por dia, todos têm um hospital por perto, a mortalidade materna e infantil deixou de ser um flagelo, todos têm água canalizada, energia eléctrica, telefone, todos podem usar os vários transportes públicos ao seu dispor, todos podem comprar um carro se lhes apetecer, as vias de comunicação são dignas de um país de primeiro Mundo, todos podem importar bens sem pagar impostos, todos podem deslocar-se em máxima segurança, todos vivem em paz... Só por estarmos todos a dormir é que não vimos que crianças já não trabalham e vão todos à escola, brincam ou estudam, como é seu direito...
Se estivéssemos acordados, repararíamos que vivemos num país onde a pobreza foi erradicada logo nos alvores da independência mercê do afinco dos deputados da primeira legislatura; em Timor-Leste todos quantos trabalham, para além dos impostos pagos porque necessários para o desenvolvimento sócio-económico-político do país, descontam para a segurança social e muitos têm, já, direito a pensão de reforma! Os mais velhos, aqueles que já não produzem, que trabalharam de sol a sol, que viveram os dias negros da ocupação e não têm direito a pensão de Portugal por nunca terem sido funcionários da administração portuguesa, esses estão, agora - e devido ao fantástico esforço, empenho e trabalho desenvolvido pelos primeiros deputados de Timor-Leste em cinco anos de entrega a bem da Nação! - muito bem na vida e têm direito, também eles, a pensão de sobrevivência!
Infelizmente, este quadro de Timor-Leste desenvolvido e solidário diz apenas respeito a uma minoria ínfima do povo timorense. Precisamente dos que foram eleitos pelo povo de quem dizem estar ao serviço para que escrevessem uma Constituição com consagração de direitos e trabalhassem para a concretização desses mesmos direitos.
Mas os eleitos pelo povo pensam que foram eleitos para defenderem os seus interesses próprios, julgam que o povo continua adormecido e distraído e como povo que é só lhe resta esperar pacientemente que um dia chegue – se e quando chegar - a sua vez!
Os eleitos pelo povo são uma ínfima minoria virada sobre si própria e sobre o seu umbigo; esqueceram-se de que o povo timorense vive – na sua maioria – no limiar da pobreza e de que não são só eles, os senhores deputados bem como outros titulares de cargos públicos, que têm direito a uma vida digna.
Parecendo que vivem num outro Mundo, só mesmo o facto de se terem divorciado e distanciado do povo que os elegeu os pode levar a julgarem-se certos na defesa dos seus interesses particulares e da sua superioridade. Só assim – ou talvez porque estão, continuam, a dormir! - se compreende que não tenham vergonha de defender o que nem sequer em sonhos passa pelo comum dos timorenses!

Este comentário foi removido pelo autor.

Gostei de ler este artigo e como Timorense acho uma vergonha ter tido que aceitar essas pestes de deputados transferidos a bandeija pelas nacoes unidas e sem serem eleitos. Se tivessem um bocado de decencia teriam recusado esta reforma e cedido a aos servicos de assistencia social pois a muito povo que nao tem uma refeicao decente por dia pior ainda os velhos que muitos anos de vida deram em trabalho e nada recebem. Isto e mais um exemplo dos porque o pais vai muito lento no desenvolvimento com mentalidades dessas nao se chega a lado nenhum. Lembro me com saudade de todos os que deram a vida pela nossa Independencia sem esperarem nem reclamarem nada ao povo e ao estado.

5:11 AM
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Isto dos politicos aldrabões é uma praga, até o insuspeito Duarte Pio de Bragança se descobriu recentemente é mais uma fraude histórica www.reifazdeconta.com uma vergonha que vale bem a pena ler e reler!

Por favor não entre pelo populismo balofo, até porque não é uma timorense qualquer!

Na verdade ainda há muito que fazer e concordo com a opinião do autor mano fuick de que a grande mudança tem de ser a nível das mentalidades. Esperemos pois que despertem para a realidade os pensadores e sonhadores de uma sociedade que se pretende politizada, democrática mas ao mesmo tempo realista e social.

Convido todos os leitores a passarem no blog lorocae.blogspot.com - trata-de de um novo projecto pa Timor de um grupo de jovens que tentarão ajudar a mudar esta mesma realidade.

Cumprimentos

De facto parece haver um ponto comum entre muitos parlamentares em todo o mundo, com honrosas excepções como em tudo na vida: decretos lei que tenham como objectivo lhes proporcionar regalias são garantia de unanimidade. Não julgo, ao contrário do que foi dito num dos comentários, que a luta contra previlégios injustificados seja demagogia balofa. Exige contudo é disposição para os recusar quando nos toca a nós.

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