Sábia velhice!
O meu amigo Tomás, um senhor sábio “ainda não muito idoso” , como gosta de frisar, e falante de bom português é um excelente contador de histórias. Há dias presenteou-me com esta:
Josué, o filho mais velho radicado há uns anos na cidade, atravessou montanhas e vales e, ao fim de um dia de viagem, já muito cansado, estirou-se no lantém da casa de palapa do seu velho pai. Construída num socalco, ladeada de arequeiras, buganvílias e ibiscos e um pequeno jardinzito minúsculo cheio de cravos da Índia amarelos a contrastar com o azul do céu, a casa do pai era o refúgio ideal para quem quisesse “estar mais perto de Deus”.
Bebeu um café, mordiscou um pedaço de talas cozido ao qual juntou uma nico de piri-piri e olhou o pai de soslaio, ao mesmo que lançava um longo suspiro de quem não sabe como começar…
A mensagem não era muito fácil de transmitir e ele conhecia o carácter do pai… Mas, precisamente porque o tema era algo incómodo, havia que passar depressa a mensagem e assim acabar com a inquietação que a mesma lhe provocava.
Magro, de olhar profundo, com a serenidade habitual nos velhos sábios da montanha, de quem tem muito tempo para pensar e meditar nas coisas da Vida e dos homens, o velho pai esquadrinhou cuidadosamente o rosto do filho procurando-lhe os olhos, desconfiado de que ali havia coisa!
E a “ coisa” soltou-se mais depressa do que esperava:
- Oh, Pai. Como sabe eu fui baptizado no ano passado. Eu estou muito satisfeito, pai! Mandaram-me cá ter consigo para lhe dizer que teriam muito gosto em fazer de si um das ovelhas do rebanho. O pai tem de ser baptizado!
O velho pai imprimiu invulgar rapidez à arte de mastigação da masca, arremessou vermelha cuspidela para bem longe, tossicou para aclarar a voz e sentenciou:
- Olha, filho, fico muito satisfeito que te sintas bem na tua nova condição. Vai dizer aos teus amigos que agradeço muito a atenção. Mas aproveita para lhes lembrar que o Pai do Filho também não foi baptizado! Portanto, porque hei-de eu desobedecer à lei Divina?