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quinta-feira, setembro 20, 2007 

Ensinar português em Timor II

«Posso ter a minha opinião sobre muitos temas, sobre a maneira de organizar a luta; de organizar um partido; uma opinião que se formou em mim, por exemplo, na Europa, na Ásia, ou ainda em outros países da África, a partir de livros, de documentos, de encontros que me influenciaram. Não posso porém pretender organizar um partido, organizar a luta, a partir das minhas ideias. Devo fazê-lo a partir da realidade concreta do país.»

Amílcar Cabral (citado no livro “Cartas à Guiné-Bissau – Registo de uma experiência em processo”, de Paulo Freire, [p. 9])


O ensino do português em Timor andaria melhor se fosse organizado ouvindo as opiniões de quem está no terreno e conhece a situação real do país, mas muitas vezes os apelos e sugestões dos professores que lá labutam há muitos anos caem nos ouvidos moucos de técnicos de gabinete agarrados em Lisboa às rotinas que criaram noutras eras e noutros cenários (como p.ex. Angola e Moçambique, que são contextos muito distintos) e mais preocupados com o protagonismo das suas instituições do que com o futuro dos timorenses. As declarações do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, João Gomes Cravinho, que esteve recentemente em Timor em contactos com o actual Governo do país, parecem indicar que as autoridades portuguesas estão empenhadas em que isso mude. O governante referiu-se nomeadamente, de acordo com os jornais, à necessidade de os professores aprenderem tétum, o que parece demonstrar intenção de promover a aquisição de competências específicas para o labor docente destes e para uma melhor integração na sociedade timorense.

Um dos maiores obstáculos à eficácia dos esforços de ensino da língua portuguesa em Timor tem sido o paroquialismo das instituições envolvidas, o arreigado hábito lusitano de “cada um puxar a brasa para a sua sardinha”. Quando cheguei a Timor há seis anos, ao serviço de uma instituição lusa para dar aulas na universidade nacional pública, o “rival” era o Ministério da Educação português, que tinha uma centena e meia de docentes no terreno e se tinha disponibilizado para ceder alguns para darem aulas aos universitários. O Instituto Camões (ICA) é que em Portugal tem a responsabilidade de promover o português no ensino superior no estrangeiro, pelo que houve que recrutar rapidamente aqui um grupo de professores para irem dar aulas para a UNTL, a recibos verdes. Pouco depois o “adversário” passou a ser a Fundação das Universidades Portuguesas (FUP), que arrancou com um conjunto de cursos superiores leccionados por docentes idos de universidades daqui, por períodos de dois meses, incluindo um curso de formação de professores de português. Como o Instituto Camões também apoiava um curso com os mesmos objectivos, passaram a existir ao mesmo tempo, na mesma faculdade, dois cursos superiores apoiados por Portugal e leccionados por portugueses para formar docentes timorenses de português, que funcionavam em portas contíguas, mas de costas voltadas. Esta caricata situação só terminou alguns anos mais tarde quando alguém no Governo, em Lisboa, decidiu que só haveria financiamento para um curso e que as instituições tinham que se entender umas com as outras. A coordenação científica do novo curso foi entregue à professora Mariette Bolina da FUP, que trouxe uma inovadora e bem-vinda postura dialogante para as reuniões, e que conseguiu uma coisa nova importante: exames de selecção de candidatos que permitem excluir os piores, mas mantendo a possibilidade de os jovens que não dominam ainda o português poderem frequentar um ano propedêutico, onde adquirem as bases que lhes permitirão depois passar nas provas para ingresso na licenciatura. Actualmente as cadeiras de língua portuguesa do curso são leccionadas por docentes do ICA, e as restantes (linguísticas, literaturas, didácticas,...) por professores da FUP. Ah!, e entretanto ao longo destes anos, deixou de haver “veto” sobre a presença de docentes do Ministério da Educação português a ensinar na universidade. Agora há finalmente uma boa cooperação entre as instituições, mas muita energia foi inutilmente desperdiçada antes de se chegar a este ponto.

Situação actual da língua portuguesa e do seu ensino

Em Timor a situação real da língua portuguesa é bastante melhor do que dizem os australianos e pior do que gostam de pensar os portugueses (a wikipédia em português diz que 25% da população fala a língua! hahaha!). Todos os timorenses têm pelo menos algum grau de conhecimento passivo do idioma da lusofonia devido à grande quantidade de empréstimos lexicais do português que entraram para o tétum e para as outras línguas timorenses através dos séculos, mas há uma diferença entre compreender vagamente o assunto de um discurso e ser capaz de ler um livro. É um facto que se fala agora muito mais português do que quando lá cheguei, mas oito anos depois da saída dos indonésios os sucessos estão muito aquém do que seria de esperar tendo em conta o investimento que foi feito. Como diz Flávia Ba no editorial de um Várzea de Letras recente, há uma realidade nova que é o “o aparecimento de jovens que falam a língua portuguesa e que a aprenderam já depois do fim da ocupação indonésia” e “uma geração nova nas escolas primárias timorenses que, principalmente na montanha, não fala já fluentemente a língua dos ocupantes”, uma vez que “no interior do país há muitas crianças que fizeram toda a escola primária em tétum e português e que da língua da integrasi e da otonomi não sabem mais do que algumas palavras”. Porém, esses jovens são em percentagem ainda muito reduzida (boa parte deles alunos nos cursos da FUP e do ICA na UNTL). Poderiam ser mais se não tivesse havido durante bastante tempo nos cursos de formação de professores uma aposta clara (e a meu ver inadequada) num público-alvo de velhos lusófilos. Muitos destes timorenses mais idosos são pessoas extraordinárias (mesmo que o aproveitamento de alguns nas diferentes disciplinas deixe frequentemente bastante a desejar) que mantiveram a língua portuguesa viva em Timor apesar de todas as pressões dos indonésios. Bastantes deles têm até um certo prestígio nas suas comunidades por serem os que sabem português, e sentem-se particularmente embaraçados quando ao voltarem à escola como alunos depois de trinta anos ou mais acabam por não conseguir passar de ano, porque não basta falar razoavelmente um idioma para tirar um curso superior. Talvez a solução fosse preparar cursos especiais de reciclagem para estes aprendentes, com objectivos distintos dos outros. Parece-me que se deveria olhar seriamente para as estatísticas do corpo discente dos diversos projectos de formação de professores que Portugal patrocina, uma grande percentagem dos formandos estará reformada daqui por cinco anos. Todos os graduados até agora como professores nos dois cursos abertos em 2001 pelo ICA e pela FUP são, com uma única excepção, pessoas de idade madura, todos já falavam português antes de entrarem para a UNTL, e a grande maioria já dava aulas desse idioma antes de iniciar esta formação académica. Serão agora talvez melhores docentes, e fizeram um percurso de valorização pessoal importante, pelo que merecem ser elogiados. Mas em relação ao problema global de escassez de professores a sua graduação não resolveu muita coisa. Não seria boa ideia apostar preferencialmente na formação de jovens, mesmo que entrem para os cursos sem saber nada de português? O currículo teria que ser adequado para esse público. Um aluno em Portugal pode entrar para um curso superior que forma professores de italiano, por exemplo, sem saber nada desse idioma; a ideia é que o aprenda durante o curso.

Elites culturais, cena literária, livros e bibliotecas
Os graduados que mencionei fazem parte de uma elite cultural e intelectual leste-timorense, a mesma a que pertence grande parte dos principais líderes políticos actuais, uma geração de quadros cuja formação de base é lusófona. O curso não foi desperdiçado neles, já que vários estão na linha da frente do combate pelo português, acumulando empregos e ajudando a formar novas fornadas de falantes. Mas há outra elite em Timor, que vêm da geração educada sob influência indonésia e que vai controlar as rédeas do país a curto-prazo, à medida que forem desaparecendo de cena os líderes históricos. Alguns portugueses não confiam neles, acham que eles estão só à espera de uma oportunidade para tirar o estatuto oficial à língua portuguesa. Alguns líderes timorenses da velha-guarda também não os apreciam muito, o ex-Primeiro Ministro Mari Alkatiri referia-se a eles nos jornais como “sarjana super-mi”. O super-mi é uma massa instantânea indonésia a que basta juntar água quente, é muito barato e também se consome imenso em Timor, portanto a expressão pode traduzir-se mais ou menos por “licenciados massa instantânea”. Os adversários de Mari Alkatiri retorquiam que o ensino universitário em Moçambique – onde ele se formou – também não prima pela excelência. De qualquer maneira, a razão porque ele lhes chamava isso tem a ver com a má qualidade e corrupção que existe nas universidades indonésias, onde esses quadros se formaram. Mas nem tudo é mau no ensino superior indonésio, também aí há gente bem formada, e existem instituições onde muitos docentes têm doutoramentos feitos em algumas das melhores universidades dos Estados Unidos, Austrália ou União Europeia. E há a vivência académica fora das aulas, que teve um papel importante na formação política e pessoal de muitos jovens quadros timorenses. Recordemos que esses eram os tempos da militância em organizações como a Renetil e a Impettu, e de concertação de estratégias com o movimento indonésio pró-democracia que veio a varrer o país, e principalmente as universidades, numa mobilização sem precedentes contra o regime de Suharto.

Contrariamente ao que alguns portugueses pensam, a Indonésia não é um deserto cultural. Antes tem uma cena artística e literária pujante, onde coexistem colectivos e grupos literários alternativos que organizam sessões públicas de declamação de poesia e leitura de contos ou representação de peças teatrais com cadeias de edição, distribuição e venda de livros que cobrem o país, como a Gramedia (do tipo FNAC). Ofereci a amigos em Timor vários exemplares da tradução indonésia de “O Nome da Rosa” de Umberto Eco, que de resto são vendidos a um preço bastante inferior ao da edição portuguesa. Também ofereci dois exemplares da tradução indonésia do “The Da Vinci Code”. Escritores indonésios como Ayu Utami chegam a vender mais de 100.000 exemplares de um livro. Alguns jovens timorenses que estudavam na Indonésia durante a ocupação moviam-se nesses meios de activistas políticos apreciadores e produtores de literatura alternativa, e viveram nesse país o equivalente do que foi a experiência da geração da Casa dos Estudantes do Império para os movimentos independentistas dos PALOP. Alguns vieram a congregar-se em Díli em organizações como o Sahe Institute for Liberation, a Yayasan HAK, a (entretanto extinta) revista Talitakum, e o partido PD. O Instituto Sahe publicou em língua indonésia alguma literatura política ligada aos países lusófonos, nomeadamente uma tradução de uma obra de Samora Machel sobre poder popular e uma outra de um livro de Ronald H. Chilcote sobre Amílcar Cabral. Na mega-Feira do Livro que o Instituto Camões organizou em Díli em 2003, que foi um enorme sucesso, encontrei um destes jovens activistas à procura de livros. Trazia na mão para comprar um exemplar do “Creole” (tradução inglesa do “Nação Crioula” de José Eduardo Agualusa) e um do “The first global village – How Portugal changed the world” de Martin Page. O moço não falava português e por isso o evento tinha pouco para lhe oferecer. Parece-me que os esforços portugueses na área da educação lusófona e da cultura se têm concentrado principalmente na terceira idade e, a um nível diferente, nas crianças. Esta geração foi bastante esquecida, e é bom lembrar que eles serão os próximos líderes de Timor.

Havia estudantes timorenses na Indonésia que faziam de vez em quando coisas como dizer orações em português um ao outro em ritmo de conversa para fazer crer aos colegas indonésios que dominavam a língua. O objectivo era marcar a diferença cultural. Vários tentavam aprender alguns rudimentos de português com recurso a velhos catecismos ou qualquer outro texto a que deitassem as mãos. Esses jovens davam uma grande importância simbólica à língua de Xanana e dos seus comunicados. Hoje em dia muitos são adultos com menos disponibilidade do que nos tempos da mocidade, sem tempo para frequentar assiduamente e com aproveitamento os cursos de língua portuguesa que aparecem, e consomem principalmente produtos culturais indonésios, porque a lusofonia não coloca à sua disposição produtos culturais oriundos da CPLP em formato que possa ser consumido por eles. Falo de filmes e telenovelas legendados em tétum (ou mesmo em indonésio, formalmente destinados à divulgação no país vizinho mas disponibilizados também em Timor), de literatura lusófona traduzida… Por isso compram parabólicas para ver os canais indonésios, e a elite lê livros de autores de língua inglesa, espanhola, etc… traduzidos para indonésio. Os filhos e sobrinhos deles andam na escola primária, onde muitos já não aprendem indonésio, e falam mais português do que eles, mas quando chegam a casa toda a família se senta a ver a telenovela venezuelana dobrada em língua indonésia.
De vez em quando o programa da RTP Internacional “Timor Contacto” mostrava umas reportagens sobre peças de teatro em português organizadas por portugueses ou brasileiros em Timor, e era deprimente ver como o público era quase inteiramente constituído por malais, com uma ou outra entidade timorense a marcar presença. Eram literalmente “para malai ver”. E nos eventos organizados por timorenses em tétum também era raro aparecer público português. Uma excepção a isto era o jornal literário “Várzea de Letras”, que publicava textos originais em português e tétum e traduções de excertos de obras lusófonas para tétum. Foi fundado por Sóstenes Rego como um jornal de parede para publicar trabalhos dos seus alunos na UNTL, e depois deu um passo em frente sob a orientação de Flávia Ba e, com patrocínio do Instituto Camões, passou a ser publicado em papel como jornal literário do Departamento de Língua Portuguesa da UNTL. Sinto-me orgulhoso de ter contribuído também com textos para o “Várzea” enquanto por lá andei. Creio que a Flávia Ba está de partida, espero que isso não signifique a morte do projecto. Quando estava prestes a vir para Portugal fui contactado por um investigador galego que queria saber mais sobre a cena literária local, sugeri-lhe que conversasse com o poeta timorense Abé Barreto, que frequentemente está ligado à organização de eventos como noites de declamação de poesia, e com a Mara do Instituto Camões, uma das poucas pessoas da comunidade portuguesa que frequenta habitualmente estes meios.

Faltam livros em Timor. Livros em português são necessários e úteis, mas é preciso também um investimento sério na publicação de livros em tétum. Urge um Plano Nacional de Leitura para Timor, bilingue, com uma forte componente em tétum, com livros escolhidos por quem tem experiência no terreno, com base não nas leituras preferidas dos organizadores mas sim naquilo que os aprendentes são capazes de ler. E faz muita falta uma biblioteca em Díli. Uma biblioteca de qualidade, não os muitos quase depósitos de livros que por lá há. Numa área de poucas centenas de metros quadrados no centro da capital timorense há duas bibliotecas do Instituto Camões, uma mediateca do BNU/CGD, a biblioteca da Faculdade de Ciências da Educação da UNTL com livros oferecidos por Portugal (e que passa uma boa parte do tempo fechada)… porém nenhuma delas tem bibliotecários. Há vários funcionários zelosos, que têm normalmente outras responsabilidades na área da gestão e contabilidade, mas seria desejável formação específica de biblioteconomia. A pessoa que na prática toma conta da biblioteca pode ter sido contratada, por exemplo, para fazer limpezas e falar muito pouco português, apesar de noventa e nove por cento dos livros estarem nesse idioma. Quando um utente entra na biblioteca não há um apoio adequado para o orientar (e note-se que a maior parte dos utilizadores não tem experiência prévia nenhuma a lidar com livros e bibliotecas). A minha sugestão? Fechar estas bibliotecas todas (estão a três minutos a pé umas das outras!) e concentrar todo o acervo numa única grande biblioteca da Cooperação portuguesa, num edifício suficientemente grande, transferindo para lá os funcionários administrativos, de limpeza, motoristas, etc… Depois contratar bibliotecários ou dar formação adequada a alguns dos que já existem. Dado que mexer em livros é uma vocação, que não nasce de repente só porque há uma vaga para trabalhar numa biblioteca, poderia ser feita a selecção de candidatos entre os finalistas dos cursos que a FUP, Ministério da Educação português e ICA mantém em Timor, e poderia preparar-se um curso intensivo de biblioteconomia de um semestre a ser leccionado pela BAD (Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas) ou pela própria FUP (muitas universidades portuguesas têm hoje cursos de biblioteconomia). Depois era só dar-lhes um salário suficientemente atractivo para eles não terem que acumular empregos e para não irem rapidamente trabalhar para alguma outra instituição.

Falar com todos ou só com alguns?

Procuro habitualmente falar português com os meus alunos, mesmo fora das aulas (há alguns que são excepção a isto porque nos tornámos amigos antes de eles aprenderem português e agora é estranho mudar da língua doméstica para um idioma mais formal – uma questão de hábito), porém nas aulas de iniciação à língua portuguesa repetia as explicações em tétum e quando eles me abordavam nos corredores com alguma dúvida esclarecia-os nessa língua quando o português impedia a comunicação. Acontecia-me com alguma frequência haver estudantes que me vinham pedir que lhes explicasse em tétum alguma coisa que um colega meu tinha acabado de leccionar em português noutra disciplina e que eles não tinham compreendido. Falo em tétum com os taxistas, e com as tias que vendem no bazar, e com as empregadas de mesa (a não ser que eles tomem a iniciativa de usar o português) – o que me evita muitos mal-entendidos. As moças que trabalham nos restaurantes são um dos grupos de jovens que mais rapidamente aprendem a desenrascar-se na língua de Camões (só são ultrapassadas pelos putos que vendem CDs e isqueiros nas ruas), por necessidade, porque uma percentagem grande da clientela é constituída por gente lusófona. A aprendizagem do português é necessária para a estabilidade no emprego, ou para poder mudar para um estabelecimento com mais nível, e com melhor salário. Assim, é perfeitamente correcto que os portugueses se dirijam a elas neste idioma. Menos correcta é a atitude intolerante e mesquinha a que infelizmente se assiste de vez em quando nos restaurantes de Díli quando algum “cooperante” pouco disposto a cooperar provoca cenas constrangedoras repreendendo alarvemente em voz alta as empregadas por não compreenderem um pedido, esquecendo-se de que não está num restaurante chique de Cascais (ou quiçá de Freixo de Espada à Cinta) e de que o português que as raparigas sabem tem vindo a ser aprendido numa de formação contínua “on the job”, como agora se diz. Invariavelmente a moça acaba por se retirar resmungando entre dentes palavrões em tétum contra a arrogância do malai. Nos Correios de Díli falo normalmente português porque há lá umas senhoras simpáticas que dominam a língua, mas uma vez em que lá estava entrou um americano do “Peace Corps” a falar tétum pelos cotovelos e a senhora que me estava a atender começou a dizer que todos os malais aprendiam a língua nacional timorense menos os portugueses, de forma que continuei a conversa em tétum para lhe mostrar que há excepções. Mas na vez seguinte que lá fui continuei a usar o português, claro. Como falo bem tétum e não tenho aspecto de australiano nem faço os “r” esquisitos da pronúncia deles, os timorenses costumam perguntar-me se sou brasileiro – não estão habituados a que os cooperantes portugueses aprendam a língua daqueles com quem cooperam…

Os professores portugueses, principalmente os que labutam nos distritos fora da capital, devem ser louvados pelo seu sacrifício e esforço. Trabalham frequentemente em lugares de difícil acesso, a muitas horas de viagem da capital, fazem muitos quilómetros por más estradas para cobrir as diversas escolas da sua zona de actuação, não têm acesso fácil a bibliografia adequada… Além de tudo isso, quando a situação se torna mais complicada, como aquando dos confrontos do ano passado, não reagem com pânico histérico e não fazem evacuações relâmpago, como fizeram os australianos e os americanos. Os timorenses em geral gostam deles. Para melhorar mais ainda o seu desempenho, creio que será útil dar-lhes as condições para que aprendam tétum e incentivá-los a que o façam. Não apenas porque isso tem reflexos nas competências profissionais específicas para o exercício da sua função em Timor (ainda que haja às vezes uma tendência para o ensino do português no estrangeiro privilegiar o professor-turista em vez do professor-especialista, o volume de investimento em Timor justifica que as coisas sejam feitas com uma abordagem diferente), mas também porque isso os tornará pessoas mais felizes. Muitos dos docentes portugueses são jovens e é normal que gostem de fazer amigos entre pessoas da mesma faixa etária, ora, se não souberem tétum não poderão facilmente socializar de forma normal com timorenses que tenham menos de cinquenta anos. Saber tétum promove uma melhor integração. E ninguém gosta de viver sozinho numa ilha. Um professor de línguas, como um tradutor, é um construtor de pontes entre culturas.

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Interessantíssimo post, parabéns!

Um abraço da Espanha

ruypster - Blog
Là où je passe, je laisse ma trace.

O seu texto eh um bocado comprido mas parece que sabe o que diz. Como timorense tambem espero que o portugues seja mais falado aqui e espero que os portugueses se entendam para nos ajudar da melhor maneira. E tambem espero que respeitem o nosso povo e as nossas outras linguas, como o tetum.

JP e a voz da esperiencia. Sabe da materia e conhece bem os Timorenses desde os tempos de Jamor. E interessante ler o que foi escrito no jornal NT News sobre a extincao das linguas aboriginas sendo uma das principais causas o ingles. Afinal o linguistico George Hull sempre tinha razao em dizer que o ingles era uma lingua que inpedia o crescimento das linguas indiginas.

O professor Geoffrey (n�o George) Hull foi correcto acerca do mau tratamento dos aborigines na Austr�lia, mas isto � por causa da coloniza�o europeia, e o feito que a popula�o ind�gena � agora uma minoria min�scula. Podemos dizer exactamente o mesmo acerca do tratamento dos �ndios no Brasil.

Este malai sabe o que diz. Mandem mais como ele

A discussão sobre o que o tipo escrevu está toda em outro blog. Copio para aqui.
Margarida disse...
Achei piada a este texto. Começa o JPE por sentenciar que em TL o “ensino do português em Timor andaria melhor se fosse organizado ouvindo as opiniões de quem está no terreno” e começa desancando nas Instituições Portuguesas que estão a formar professores em TL.

Depois sobre a situação do Português e do ensino aproveita para vender o peixe do costume: desvalorizar, omitir ou criticar as prioridades do executivo da Fretilin no que toca ao ensino e aprendizagem do Português. Assim critica a formação de professores na casa dos cinquenta anos (obviamente os que já tinham bases da língua), passa como cão por vinha vindimada sobre o ensino nas escolas primárias e omite totalmente os esforços para o ensino da língua aos actuais funcionários (incluindo militares e polícias). E tudo isto para nos “vender” que importante, importante era “apostar preferencialmente na formação de jovens” na “outra elite” a que “vêm da geração educada sob influência indonésia e que vai controlar as rédeas do país a curto-prazo”, os que “serão os próximos líderes de Timor”, nos que davam “uma grande importância simbólica à língua de Xanana” antes da independência.

Parte então para o rosário das queixas habituais, a falta de “produtos culturais oriundos da CPLP”, a falta dos livros, a falta de uma “biblioteca em Díli. Uma biblioteca de qualidade, não os muitos quase depósitos de livros que por lá há”, porque “nenhuma delas tem bibliotecários”. Sugere “fechar estas bibliotecas todas” e “concentrar todo o acervo numa única grande biblioteca”, e depois “contratar bibliotecários ou dar formação adequada a alguns dos que já existem”, obviamente com “um salário suficientemente atractivo”.

Sobre a sua experiência de falante diz que procura “habitualmente falar português com os meus alunos, mesmo fora das aulas”, diz que fala “em tétum com os taxistas, e com as tias que vendem no bazar, e com as empregadas de mesa”, que nos “Correios de Díli falo normalmente português porque há lá umas senhoras simpáticas que dominam a língua, mas uma vez em que lá estava entrou um americano do “Peace Corps” a falar tétum pelos cotovelos e a senhora que me estava a atender começou a dizer que todos os malais aprendiam a língua nacional timorense menos os portugueses, de forma que continuei a conversa em tétum para lhe mostrar que há excepções. Mas na vez seguinte que lá fui continuei a usar o português”. Claro que perdeu uma boa oportunidade para explicar às senhoras simpáticas que o Português a par do Tétum são as línguas nacionais, mas o JPE estava mais inclinado a mostrar que “falo bem tétum”.

E acaba com os elogio aos “professores portugueses”, com a recomendação de “dar-lhes as condições para que aprendam tétum”, também “porque isso os tornará pessoas mais felizes”, “promove uma melhor integração”.

Isto é, nem o JPE fez aquilo que começou por recomendar que se fizesse, que se ouvissem “as opiniões de quem está no terreno”. Ficou-se pelas generalidades, simpatias e antipatias que já lhe conhecíamos e nem sequer se referiu que agora a língua a que os amigos de Xanana dão importância já é outra.

23 de Setembro de 2007 0:03


Luís disse...
Se este autor pensa mesmo que as moças portugueses para namorarem os Timorenses precisam de saber Tétum, nunca foi ao Algarve! Mas se as moças estão aí para ensinar português a mim parece-me que se elas apenas falarem português é mais um incentivo para os moços aprenderem a outra língua nacional. Acho é que quantos menos obstáculos se levantarem a quem quiser ensinar e a quem quiser aprender tanto melhor.

23 de Setembro de 2007 4:57


Ita Timor Oan Sira Hotu disse...
Concordo no geral com o que diz este senhor, apesar de escrever textos muito compridos. Uma pessoa cansa-se de ler e tem que fazer um intervalo.
A Margarida continua a espalhar so veneno. Mas desta vez nao percebi o que ela quer, quase so copiou o texto do homem e nao disse mais nada. Da maneira que eu percebi ele diz que deviam ouvir alguns professores que estao aqui em Timor e que sabem o que fazem em vez de deixar tudo na mao dos chefes dessas instituicoes que estao em Lisboa e so inventam.
E como sempre a Margarida aproveitou para gabar so a FRETILIN, porque so a FRETILIN eh que sabe e mais nao sei que... A lingua portuguesa em Timor nao eh da FRETILIN minha senhora, a lingua portuguesa em Timor pertence a nos os timorenses.
Alguem neste blog sabe quanto eh que a FRETILIN paga a Margarida por mes?

23 de Setembro de 2007 7:28


Anónimo U.S.A disse...
Parece evidente que os conhecimentos, sobre a questão, que JPE tem demonstrado possuir devem ser levados em conta. E muito a sério.
É sabido que o vício do ME em Portugal é decidir em gabinetes, provavelmente recorrendo a técnicos antigos do tempo das colónias...
Não me admirava nada, pois até os PIDES ainda hoje são peritos em segurança e funcinários do Estado!

O que há a fazer é recolher opiniões de professores interessados em participar no ensino em Timor-Leste. Esse participar inclui entender os timorenses na sua língua nacional, caso contrário não fará sentido estarmos a querer ensinar a nossa. Ensinemos aprendendo... ou ensinemos sendo também ansinados. Um professor é isso mesmo.

23 de Setembro de 2007 7:54


Margarida disse...
Vamos lá a ver se percebemos que de facto TL é um país independente e que compete ao seu governo definir todas as suas políticas incluindo a política do ensino das línguas nacionais. Obviamente no que diz respeito ao ensino do Português - e como não se pode fazer tudo ao mesmo tempo - o governo Timorense definiu – como lhe compete exclusivamente – as suas prioridades: apostou na formação dos professores, no ensino nas escolas primárias e na formação dos funcionários. E obviamente os antigos falantes da língua – a geração dos cinquenta e mais – aproveitou a oportunidade e inscreveu-se nos cursos de formação dos professores. O JPE discorda, acha ele que o governo devia ter dado prioridade aos jovens intelectuais formados na Indonésia, não liga muito ao ensino primário e nem menciona o ensinos aos funcionários. É livre de emitir as suas opiniões mas nada acrescente à questão nem traz qualquer achega pensada quanto a isso.

E como professor de português nem me parece que se empenhou muito no ensino e na divulgação da língua pois que me parece bem mais que quer nas aulas quer fora delas o que aproveitou foi para exercitar o Tétum esquecendo que estava em Timor primordialmente para ensinar o português e não tanto para ele aprender o Tétum.

Além de que sabemos todos que há também em Timor bastantes professores brasileiros e ele nem os menciona. Os professores de português que aí estão têm por missão principal o ensino do português e as instituições estrangeiras de ensino de português estão aí a desenvolverem programas que acordaram com o governo Timorense que definiu os objectivos e as prioridades da sua missão. E mal dos professores e das instituições que em vez de desempenharem a missão para que foram contratados se metem noutro tipo de actividades descurando a sua missão principal que é repito o ensino e a divulgação da língua portuguesa.

23 de Setembro de 2007 8:30


Anónimo disse...
"os timorenses costumam perguntar-me se sou brasileiro – não estão habituados a que os cooperantes portugueses aprendam a língua daqueles com quem cooperam…"

23 de Setembro de 2007 9:38


Anónimo disse...
Ó Luís, olhe que eu estive em Timor e lá não é o Allgarve. A maioria das professoras portuguesas não estão interessadas em namorar com os nativos, preferem dar umas cambalhotas com os GNRS. Eu tinha amigos timorenses e tinha uma amizade bastante próxima com um rapaz que me visitava de vez em quando, pois olhe que de cada vez que ele aparecia lá em casa os meus colegas (homens e mulheres) olhavam para ele como se ele fosse um extra-terrestre. Quando eu tentava dizer-lhes que era a mesma coisa que ter visitas de cubanas ou Internacionais como eles e elas tinham, eles diziam com um ar de babacas "ó tu francamente, olha que não é a mesma coisa!"
A comunidade portuguesa é pior que um ninho de ratazanas, adoram dizer mal uns dos outros, e uma rapariga que anda com um timorense passa a andar falada por toda a gente.

23 de Setembro de 2007 10:05


Breno Santana disse...
A coisa é assim mesmo Margarida, na hora de pedir ajuda os timorenses sempre lembram dos brazucas mas na hora de agradecer aí a nossa ajuda já não conta, nós não existimos, como você pode perceber neste texto só os portugueses estão ajudando no ensino da língua portuguesa. E olha que historicamente o Brasil não possui ligação nenhuma com Timor-Leste, além apenas de ambos terem sidos colonizados por Portugal, acho que seria uma boa idéia o governo brasileiro parar de mandar dinheiro pra essa gente mal agradecida e Portugal também. Deixem eles nas mãos dos "aussies", eles vão ver o que é bom pra tosse.

23 de Setembro de 2007 12:22


Anónimo disse...
As guerrilhas sem sentido entre instituições são infelizmente uma realidade e a análise que o João aqui faz é bastante sóbria e realista (felizmente, pelo que ele diz, a situação parece ter melhorado desde o tempo em que eu lá estive). Há anos que o João se bate pela melhoria do ensino do português e pelo reforço dos laços de Timor com o resto da lusofonia. As críticas dele neste texto são bastante moderadas, e deveriam ser tidas em conta por quem de direito. Também há anos que nos habituámos a que o João diga aquilo que muitos de nós pensamos, mas não temos coragem de dizer por receio de represálias (não é fácil ser professor em Portugal e a possibilidade de não renovarem os contratos a quem precisa deles é uma poderosa arma de dissuasão).
Para quem se interessa por Timor (e eu vou continuar sempre a interessar-me porque, apesar de a minha passagem por aquela terra tão sofrida e tão bela ter sido breve, vivi lá momentos muito importantes da minha vida) algumas das questões que ele levanta são até já familiares. Por exemplo a questão das bibliotecas foi levantada pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos na revista Visão, onde ele dizia:
"O segundo problema é institucional. A duplicação de serviços internacionais é kafkiana e significa um enorme desperdício de recursos. Para além do Instituto Camões, temos os gabinetes de relações internacionais dos ministérios da Educação, da Cultura e da Ciência e Tecnologia. Entre eles não existe qualquer articulação e as sobreposições são óbvias. Aliás, o mesmo acontece no interior do próprio Instituto Camões, onde há duas divisões significativamente chamadas “serviços de língua e intercâmbio cultural” e “serviços de cultura externa” com pouca articulação entre si. Em Díli há duas bibliotecas portuguesas distanciadas 500 metros uma da outra. Este caos burocrático não permite repensar os leitorados nem questionar por que razão somos o único país sem institutos de línguas que gerem receitas próprias. Tão pouco permite ver que quinhentos livros escolares nas escolas plurilingues de BA teriam mais efeito de futuro que uma dispendiosa exposição em Genebra ou outra capital europeia.”
http://www.ces.uc.pt/opiniao/bss/129.php

23 de Setembro de 2007 12:29


Margarida disse...
O JPE tem todo o direito de expressar as suas opiniões sobre as questões da cooperação portuguesa, tem com certeza muitos palcos para o fazer, mas parece-me desajustado fazê-lo num blog do Público sobre Timor. Isto é, aproveita um espaço que foi criado na sequência da crise (obviamente para falar desse país) para ajustar contas com instituições portuguesas e para promover as suas ideias e os seus amigos (os jovens letrados indonésios, o PD) e isso no meu ponto de vista nada ajuda nem ao ensino do Português nem à melhoria desse ensino em TL.

E insisto que a principal missão dos professores de Português em TL é o ensino e a expansão da língua.

23 de Setembro de 2007 16:33


Anónimo disse...
Tenho lido comentários que me estão a fazer perceber existir algum distanciamento da parte dos portugueses em Timor-Leste em relaç«ao aos timorenses. Talvez até umas résteas de racismo.

Gostaria de fazer recordar como acho que funcionava o convivio dos portugueses do exército colonial com os timorenses, pelo menos sempre vi e vivi assim enquanto estive em Timor.

Se é certo que dos milhares de militares que lá estavam só uma minoria se dava abertamente com famílias e amigos timorenses, não mé menos verdade que muitos faziam uma vida absolutamente intensa com os do país, então colónia.

A maior parte dos clubes de futecol eram integrados por portugueses e timorenses, desde o Café, de Ermera, do Casimiro, ao Benfica, de Díli, do capitão Sezinando - um antifascista de primeira água. Também no teatro se verificava o mesmo, principalmente no teatro fomentado por esse Sezinando - em que Natália Carrascalão chegou a participar.
Se é verdade que também não era uma generalidade, não é menos verdade que nunca notei críticas por parte de outros em relação à integração que muitos portugueses procuravam em relação às pessoas e quotidiano timorense.
O tetum aprendia-se naturalmente. Eram os timorenses que nos ensinavam e portugueses havia que sabiam escrever e ler em tetum. Lembro o caso do semanário militar A Província de Timor, que publicava todas as semanas textos de lendas em tetum com a respectiva tradução em português.
Ora isto queria significar que não se via aquilo que mais acima é dito num comentário, presumo que de uma professora, preconceitos, racismo em relação a receber em nossa casa timorenses!
Bom será não considerarem as "bocas" e quebrarem os tabus.
Não conheci pessoas mais capazes de perservar uma amizade que os timorenses e não podem ter mudado tanto assim.
Tenho amizades timorenses de cerca de 40 anos, permanentes.
A minha vida seria muito menos interessante sem esses amigos e amigas.
Experimentem e ficarão mais ricos.
Além disso há as minhas amigas timorenses, que são excepcionais, bonitas por dentro e por fora, impares. Sobre os homens não posso pronunciar-me. Mas sei de quem tem muito boa opinião.

Os detratores que quebrem os tabus e vão para Timor não só para ganhar mas sobretudo para aprender e ensinar... mas principalmente para viver com os timorenses. É uma estupidez viver como um europeu em Timor!
Por lá devem viver como os timorenses!

Manuel

23 de Setembro de 2007 18:54


Anónimo disse...
Por acaso a Margarida tem razão quando fala do blog do Público apenas servir para promover as ideias destes dois, o Esperança e a Carrascalão, e não informar com o mínimo de objectividade sobre o que se passa em Timor.

23 de Setembro de 2007 19:02


Anónimo disse...
O blog do Publico tem dois colaboradores que sao a Maria Angela e o JPE e sao colaboradores para escreverem a sua opiniao e a sua leitura do que se passa em Timor. Sei que nao sao pagos e por isso sao independentes e pensam com a sua propria cabeca e nao sao como a Margarida, que nao tem opinioes proprias e eh paga pela FRETILIN para ser so eco do Mari. As unicas vezes que ela nao se limita a repetir a cassete da FRETILIN eh quando fala do Tibet que entao repete a cassete do PCP

24 de Setembro de 2007 2:38


Anónimo disse...
Ó Margarida, então mas o Boaventura SOusa SAntos não é lá da sua área política? E o Amílcar Cabral também?

24 de Setembro de 2007 2:51


Margarida disse...
Eu não ponho em causa nem o direito do Público contratar (e de pagar, insisto o Público paga-lhes) quem lhe apetecer nem esses dois escreverem também o que lhes apetecer. O que acho é que não está bem o nome do blog para aquilo que muitas vezes eles escrevem, estados de alma, simpatias e antipatias sem o mínimo de objectividade.

Ainda esta semana esteve por aqui o texto da Àngela sobre a discussão do programa do governo e se relerem o texto verão que nem uma frase tem sobre o assunto que esteve em discussão, o próprio programa do governo. E neste texto do Esperança apontem-se só s.f.f. que “subsídios para o ensino do português em Timor” é que lá encontram? Francamente? Má-língua à farta sobre as tricas paroquiais portuguesas bastante, mas tudo espremido o que é que de lá tiram? Muito pouco não é verdade?

Eu nada tenho contra nenhum deles, nem os conheço sequer, mas francamente não gosto de ver um espaço sobre Timor desaproveitado desta maneira para promover dois fulanos e muito menos gosto de ver por lá escrito rumores, boatos e difamações como tenho visto, acho mesmo de muito mau gosto.

Quanto às referências ao Boaventura Sousa Santos e ao Amílcar Cabral foram escolhas do autor, legítimas, como podiam ter sido outras ou nenhumas. Como se lembram o Amílcar foi um grande patriota guineense e um grande africano assassinado pela ditadura e bastante falta fez ao seu povo e o Boaventura é da área do BE e normalmente nem concordo com o que escreve. Mas parece-me que nem sequer o Esperança percebeu o que queria o Amílcar dizer com “Devo fazê-lo a partir da realidade concreta do país», pois essa prática não a aplicou ele no seu escrito.

Eu costumo não tanto atacar, defender ou citar pessoas mas as acções ou ideias dessas pessoas. E francamente nisso ambos exageram e pior ainda neste texto faz o Esperança ao decretar – por mais de uma vez! - que o Estado Timorense não devia ter apostado na formação de professores na casa dos cinquenta. O que é que ele queria que o Estado fizesse a essa geração que tem ainda tanto para dar e que principalmente tem muito amor pela língua Portuguesa? Uma injecção atrás da orelha? E demonstra esta insensata opinião do Esperança algum conhecimento da realidade concreta do país?

24 de Setembro de 2007 4:01


JT disse...
No fundo a tamagoshi até sabe que o JPE tem razão, mas como ele foi convidado pela UDT para estar na convenção de Peniche, automaticamente é inimigo e logo, tem que estar errado.

Assim como é óbvio que nenhum dos dois é pago para escreverem no blog do público. Só a mesquinhez dessa imbecil lhe permite dizer esses dislates.

Cada vez me apetece menos participar neste debate contra tamanha pobreza de espírito.

É o mesmo que tentar argumentar racionalmente contra um reprodutor de cassetes.

24 de Setembro de 2007 4:50


Anónimo disse...
Figurão! Como habitual já a senhora Margarida fala sem saber o que diz. A preocupação com idade idosa dos poucos professores que desenrascam em português não foi o autor deste texto que descobriu. Foi um problema que preocupa a gente desde o início. Nas SMP e nas SMA quase não temos professores de português e na escola primária a maioria são velhos por isso estamos muito preocupados. Já estavamos preocupados no governo anterior e continuamos preocupados agora. Eu trabalho com educação e a senhora está enganada porque o governo FRETILIN não pediu os portugueses para formar velhos pediu para formar professores que é diferente. Porque nós queremos professores que ensinam muitos anos e não professores que estão quase no tempo de morrer. A gente aqui precisa de uma escola como Canto Resente antigamente para ensinar os jovens a sair professor.
Eu sou da FRETILIN e acho que a senhora é amiga do Mari Alkatiri. Ele é muito cabeça dura e estraga o partido. A gente na base gosta mais do Lugo.
Viva Timor-Leste!
Viva Fretilin mudança!

24 de Setembro de 2007 4:52


Margarida disse...
Mas há alguma mesquinhez em receber-se por se escrever? É o nornal, ninguém trabalha para o boneco, francamente nem percebo porque é que insiste na tolice de querer convencer alguém que o Público não paga aos seus colaboradores.

Obviamente que a formação dos professores vai continuar e que mais alguns vão ter a sua oportunidade mas faz-me impressão essa falta de respeito pelas pessoas que aguentaram todos os 24 anos da luta e que chegados à independência querem afastar apenas por causa da idade. Parece-me que isso nada tem de saudável e que nem sequer se coaduna com a vossa cultura nacional de respeitar os mais idosos.

Em África onde eu vivi havia um genuíno respeito pelos mais velhos e parece-me muito estrangeirada essa vossa maneira de reagir perante os que apesar das dificuldades guardaram e mantiveram o amor pela língua portuguesa.

24 de Setembro de 2007 5:07


Anónimo disse...
Fui dar uma olhada ao blog do JP Esperança e agora já não compreendo nada. Então esses tipos do PD também são comunas? Samora Machel e tal!

24 de Setembro de 2007 5:51


Anónimo disse...
Penso que o que o senhor de Timor aí em cima quiz dizer é que o sistema de ensino deles precisa de professores jovens para ser sustentável. A minha filha está em Timor a dar aulas e também diz a mesma coisa. Os professores mais velhos são merecedores de todo o respeito das novas gerações mas não chegam para as necessidades, e terão poucos anos mais de vida profissional activa. E tem que haver maneiras de inverter essa situação seja o governo comuna ou não comuna. Não me parece que o povo Português vá mandar eternamente professores para lá. Apesar de a minha filha e muitos dos colegas dela que lá estão gostarem muito de Timor e dizerem muito bem dos Timorenses que são muito hospitaleiros, respeitadores e simpáticos. Mas tem que começar a haver professores Timorenses para aguentar o sistema.
E não concordo que seja preciso falar tetum para dar aulas em Timor, mas a rapariga diz que sabe meia dúzia de frases e dão muito jeito quando vai ao mercado lá na montanha.

24 de Setembro de 2007 6:03


Margarida disse...
Estou de acordo consigo, claro que fazem falta também professores novos, mas é preciso tempo para se formarem e apenas desde o ano passado o governo começou a receber os rendimentos do Fundo do Petróleo que fora estabelecido anteriormente. E antes, sem ovos não se podiam fazer omoletas e pareceu-me correcta a maneira de aproveitar o que já havia - falantes de português - para de emergência formar os professores possíveis. Mas uma certa arrogância dos formados na Indonésia a quererem simplesmente afastar os que resistiram e lutaram criou rupturas na sociedade como esta crise bem mostrou e isso ninguém de bem pode aceitar.

Em Timor-Leste faltava tudo; depois do Referendo em 1999 as milícias destruiram mais de 80% das ibfra-estruturas e deixaram centenas de milhares de refugiados e Dili a arder, além de mais de 1400 mortos. E a chegada de todos esses internacionais trazidos pela ONU só armou confusão com ordens e contra-ordens disparatadas. É bom lembrar que apenas para formar a polícia havia polícias de cinquenta e tal nacionalidades e não havia sequer uma orientação clara e cada um ensinava o que sabia com sistemas diferentes e muitas vezes opostos uns aos outros e foi a ONU que recrutou as polícias começando por recrutar os que antes tinham trabalhado para os Indonésios como foi o caso do ex-comandante Paulo Martins.

Foi esta confusão toda que herdou o I Governo Constitucional, sem aparelho administrativo, sem leis, sem instituições. Do nada e da confusão deixada pela ONU teve que erguer um aparelho de Estado, teve que refazer e construir infra-estruturas,teve que pôr a funcionar um sistema de educação e de saúde, teve que repor a economia a funcionar e sempre com um PR e uma igreja às canelas, a morder, a sublevar, a exigir, a criticar, a difamar, a exagerar. E tudo foi feito sem ter havido um único preso político, sem um caso de tortura, tudo dentro do máximo respeito pelos direitos humanos, com a maior tolerância, sem dinheiros desperdiçados, sem corrupção e sem comprometer o futuro do país.

E quando havia projectos, dinheiro e estava na hora de lançar obras, o programa de uma refeição quente em todas as escolas primárias, quando já havia médicos em todos os sucos - pela 1ª vez na vida de TL - os malandros soltam os polícias contra militares e arranjaram a crise com quase 200 mil deslocados, mais de 6000 casas, negócios, instalações públicas - até tribunais! - apenas em Díli, e a entrada intempestiva das tropas australianas que desde há 3 semanas esperavam dentro de barcos no alto mar para entrarem.


Claro que foram os cooperantes portugueses, brasileiros e cubanos os que se portaram à altura, os que aguentaram nos tempos difíceis, os que persistiram no trabalho, os únicos que não fugiram como os outros fugiram incluindo o pessoal da ONU. Todos nós sabemos isso e se não falamos mais é por um certo pudor. No meu entender o que é preciso é eles continuarem, terem orgulho no trabalho que estão a fazer, empenharem-se no ensino e divulgação da língua, insistirem em falar o português e não interferirem nas questões como têm feito. Eles estão lá principalmente por serem bons profissionais e é de bons profissionais que TL precisa, não é de conselheiros de pacotilha como a ONU para lá levou e os actuais PR e PM estão a importar.

24 de Setembro de 2007 8:38


Anónimo disse...
"Mas uma certa arrogância dos formados na Indonésia a quererem simplesmente afastar os que resistiram e lutaram criou rupturas na sociedade como esta crise bem mostrou e isso ninguém de bem pode aceitar." - Tu estás a brincar, ou tomaste demasiados drunfos??!!!! Queres dizer que os formados na Indonésia não resistiram e lutaram??? Quem é que morreu em Santa Cruz??? Se considerarmos que os formados pela Indonésia são os que tinham menos de 10 anos em 75 ou que nasceram depois disso, ou seja, todos os que hoje têm menos de 42 anos, isso significa que os "arrogantes que não resistiram e não lutaram" são mais de 70% da população!!!!!
O JPE tem toda a razão (força JP, a malta tá contigo!) quando diz que é preciso apostar em formar professores jovens. Quer por razões demográficas e biológicas (ninguém vive para sempre) quer porque os professores mais velhos, que frequentam o nosso bacharelato (os timorenses chamam-lhe baixarelato!!!!), já sabem falar português e já são professores de língua portuguesa nas escolas deles. Frequentam o curso mas isso não aumenta o número de professores de português nas escolas timorenses. E os tais 70% ou mais (49% dos timorenses têm menos de 14 anos) vão continuar a ver a língua portuguesa como uma coisa dos velhotes e dos saudosistas do tempo dos portugueses, se não forem formados com muita urgência professores jovens. Gosto muito do que faço em Timor e fico muito aborrecida se for trabalho deitado para o lixo.
E que história é essa do dinheiro do petróleo? Um ano??!! Tenho colegas que estão a dar aulas em Timor há sete anos! Não me digas que em sete anos não dava para ter formado jovens para ensinarem a língua portuguesa. Era só dar-lhes um curso decente!!!! Sabes quantas horas por semana é que os nossos alunos têm de aulas? Margarida
acho que devias fumar menos charros!!!!

24 de Setembro de 2007 10:05


Margarida disse...
Alguns formandos da Indonésia podem ter resistido e lutado mas apenas o começaram a fazer no princípio dos anos 90, estiveram na luta menos de uma década enquanto que os outros estiveram 24 longos anos.

E quanto ao dinheiro do petróleo apenas ficou disponível em 2006 e antes não se podia gastar o que não existia e mesmo assim o governo deu prioridade à formação de professores.

O que eu tenho tentado dizer é que fazem todos falta, novos, velhos, geração dos cinquenta e geração dos quarenta e sendo natural que o Esperança “puxe” pela geração dos amigos (os tais formados na Indonésia, geração dos 40), erra quando o faz em detrimento dos da geração dos 50. Timor-Leste é suficientemente grande para aí caberem todos e ninguém deve ser marginalizado apenas pelo factor idade.

24 de Setembro de 2007 19:17


Anónimo disse...
São uns traidores esses gajos, porque não começaram a resistir logo em 75 com a desculpa de terem só quatro ou cinco anos!

25 de Setembro de 2007 8:10


Sakoko Nakar disse...
Feto nee beik duni. Jovem sira mate mohu iha tempo ocupasaun maibe agora nia mai dehan katak katuas Mari e sira seluk husi Moçambique deit mak terus e resiste.

25 de Setembro de 2007 8:54

Não gostaria de provocar polémica.
Em minha opinião,quem for ensinar português para um país estrangeiro,terá que dominar mìnimamente a língua predominante do país acolhedor(ao que leio,em Timor será tetum).

adorei o post e a discussão nos comentarios. Este blog é dos mais interessantes da net. espero que continue sempre a levantar estas questoes importantes. Um abraço

Conheco o Joao desde que fui para Timor dar aulas em 2004 e tenho muito orgulho em te-lo como amigo. Devo, no entanto, aqui emitir a minha opiniao (e fa-lo-ei) com imparcialidade. Mais do que destrutivamente, parece-me que o unico objectivo do JP e fazer uma critica muito construtiva a forma como se esta a conduzir o processo de reintroducao da lingua portuguesa em Timor. O problema e gritar-se sempre no meio de quem apenas faz ouvidos moucos e ignora o que e realmente essencial. Parece-me obvio o que o JP aponta como falhas obvias que precisam de ser revistas. Bem sabemos que, a par do Tetum, o Portugues e tambem lingua oficial em Timor e que podemos e devemos utiliza-lo no nosso dia-a-dia. Ora o Joao fe-lo sempre. No entanto, e falando de uma forma relativamente tecnica, qualquer falante ao aprender uma lingua segunda e/ou estrangeira estabelece pontos de ligacao com a sua lingua materna. Ora, ha certos itens lexicais e gramaticais que nessa ligacao se tornam pouco claros. Sera nessas ocasioes que o professor de Portugues fara uso dos seus indispensaveis conhecimentos de Tetum para esclarecer o seu aluno e para o fazer evoluir na aprendizagem da L2 ou LE, neste caso, o Portugues. E absolutamente necessario que quem ensina Portugues em Timor (bem como quem produz manuais dessa lingua para este territorio) tenha conhecimentos basicos (melhor ainda se forem avancados) de Tetum. Eu, como professora em Timor, senti por diversas vezes essa necessidade profunda. Concordo, sim, Joao, que tudo precisa de ser repensado e reavaliado quanto ao ensino da lingua em Timor. Absolutamente!!! A postura dos professores portugueses, os seus conhecimentos, os meios de contacto dos alunos com a lingua, o sub-aproveitamento dos materiais que estao a disposicao (como apontaste no caso dos livros nas diversas bibliotecas). Enfim...tens toda a razao. E pena que haja tanta gente com tamanha falta de conhecimentos in loco do que e a realidade do ensino da lingua em Timor e ainda assim se lembre de abrir a boca... Parabens Joao. Manda vir mais textos destes...

Fico contente que o meu texto tenha motivado este debate todo e agradeço especialmente as opiniões dos colegas que têm experiência no terreno.
Sugiro a todos a leitura deste texto muito interessante sobre o português na Guiné:

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