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sábado, outubro 27, 2007 

O espanto da morte


Um último suspiro, um derradeiro olhar à sua volta… e a velha senhora deixou este lado da Vida rodeada dos dez filhos, dos mais de trinta netos e de outros tantos bisnetos.
O corpo desceu à terra entre prantos de dor e as recordações de uma vida debitadas em tom angustiado, chorado, gritado.
A sepultura encheu-se de flores molhadas de lágrimas e a alma partiu iluminada pelas velas que cada um deixou para lhe clarear o caminho distante até à outra Vida.
Na campa ainda sem laje, a saudade surge vestida primeiro de flores amargas, depois de flores doces e velas, sempre velas, não vá alma perder-se no caminho…
…Passou um ano. Justo tempo em que a amada matebian(1) percorreu o longo percurso até chegar ao destino. Até ao encontro marcado com Maromak (2) no além onde a esperavam aqueles que tendo partido antes dela a acompanharam no início da estrada suavizando-lhe a saída da vida terrena.
É ora tempo de kore metan, o desluto. Missa cantada. Mais recordações em choro sentido e sonoro. As vestes negras deixadas na campa marmoreada agora arranjada ao pormenor marcam o fim do luto. Flores, pétalas soltas, velas em sepultura embelezada são a evidência dos pecados expiados, da alma pacificada, da certeza de que ela chegou ao outro lado.
A grande família prepara-se, uma vez mais, para agradecer a generosidade dos que a acompanharam durante o ano da viagem.
A família fica bem. Ultrapassou a dor. Tudo agora é mais suave. A vida retorna à normalidade.
Já não se chora. Em fila disciplinada os convivas preparam-se para o banquete. Come-se, bebe-se, ecoam os risos, soltam-se as conversas.
E dança-se.
A morte já não mora, por agora, ali.
E Mãe Sedaliza repousa agora em paz!

(1) espírito, alma

(2) Deus