Semáforos na cidade
É normal em qualquer parte do Mundo mas, aqui em Díli, é notícia: os semáforos que estavam a ser colocados há bem mais de um mês, fizeram a sua aparição triunfal em algumas artérias da cidade!
Comentei o facto com um colega que, encolhendo, os ombros lhes vaticinou um período curto de vida. Dizia ele que o mais certo era serem partidos na primeira oportunidade. A primeira oportunidade, está-se mesmo a ver, resultará da loucura momentânea de alguém que, de imediato, criará moda. Espero que o meu interlocutor esteja enganado!
O trânsito na cidade é completamente caótico. Vai-se sempre pelo caminho mais curto e o interesse individual sobrepõe-se sempre ao colectivo. Por isso se ultrapassa quando, como e onde se quer, se faz inversão de marcha conforme o apetite, se pára no meio da via para conversas com o condutor do lado (seguindo ou não na mesma direcção); E como temos todo o tempo do Mundo, andamos devagar, muito devagar...
Um dia destes, ali para os lados de Fatu-Hada, com medo de apanhar uma pedrada (depois de ter sabido que uma amiga minha fora apedrejada e teve a sorte de ficar “apenas” com o pescoço completamente negro porque o vidro amorteceu a pancada) acelerei o carro e, achando que ia a uma grande velocidade, resolvi olhar para o mostrador: ia a 60km à hora!
O facto de andarmos devagarinho não significa que haja segurança. Pelo contrário, de tão devagar, as pessoas distraem-se, conversam, olham a paisagem, talvez até adormeçam e quando dão por isso, zás! Já está!!! Depois, é só esperar que a multidão que de imediato se junta não se ponha contra nós, que a polícia chegue depressa.
Se a coisa azedar, o melhor mesmo é ir à esquadra ou, quem esteja para aí virado, negociar umas notitas como indemnização pelos danos causados. A interpretação de “danos causados” varia conforme a hora e a disposição de cada um. Olha, remira-se a motoreta, o táxi, o automóvel à coca de um risco, uma mancha, qualquer coisa! A indemnização também depende do “estatuto” do causador do acidente. Se for estrangeiro, piora um bocado. Se for timorense, a forma como está vestido e o carro em que se faz transportar também conta.
Lembro-me de uma cena a que assisti em Comoro quando uma camioneta de mudanças transportando bens de um internacional teve o azar de se aproximar de meia dúzia de pés de milho. O dono da horta gritava desvairado contra a sua má sorte ao mesmo tempo que exigia a “módica” quantia de $400 USD de indemnização. Depois de duas horas, o senhor desembolsou $200 USD! No dia seguinte, o milho continuava verde...
Imagine-se se há o azar de alguém bater numa motoreta que transporte pai, mãe, filho, filha e ainda um saco com qualquer coisa lá dentro. Pode bem acontecer que, na queda, a família se suje, ficando cheia de poeira e o conteúdo do saco se espalhe...
Claro que o veículo de duas rodas não devia servir para transportar uma família de quatro pessoas e a obrigatoriedade do uso do capacete não deveria ser apenas para o condutor. Mas isso é outra história e não faz parte deste departamento!