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segunda-feira, dezembro 18, 2006 

Costumes

Não há paz na cidade. Os dias sucedem-se incrivelmente iguais, inteiros de ódio e de vingança.
Mas vi hoje um presépio de rua, precisamente na via onde ocorreram os conflitos destes últimos dias.
Oxalá o espírito de Natal ajude à reflexão e traga a paz!
O melhor é falar dos costumes…


O Barlake

Quando os noivos pretendem casar-se, dá-se início a uma série de rituais antes mesmo de se chegar ao barlake.
Primeiramente e antes de tudo, ainda que de forma discreta, as famílias sondam-se mutuamente com o objectivo de conhecer melhor os elementos dos dois lados.
Os representantes das duas casas às quais pertencem os nubentes desdobram-se em sucessivas reuniões nas quais se discute, a preceito, tudo quanto diga respeito à saída da jovem mulher de casa dos pais, da sua “uma lisan”.
De acordo com o costume tradicional, há uma troca de bens de valor idêntico entre as duas famílias.
A escolha da noiva obedece a regras precisas, com o intuito de garantir que a riqueza se manterá na região, entre dois clãs familiares.A criação de novas relações familiares entre grupos seleccionados, consoante a classe social, económica ou política é, ainda, uma factor a considerar.
Para além dos búfalos, cavalos e cabritos, a família oferece objectos de adorno e, de entre estes, o bem mais precioso, o belak -medalhão timorense em ouro - que simboliza a beleza e o valor da mulher fica religiosamente guardado na uma lisan, a casa de família de onde a noiva vai sair. Em troca, a família do noivo receberá porcos, tais, arroz e objectos de adorno. Isto surge como corolário de uma sucessão de rituais que se seguem aos contactos informais que entretanto se fizeram antes do pedido de casamento . E esse chega em forma de mensagem.
Os mensageiros do noivo e os familiares da casa da noiva reúnem-se e saboreiam em conjunto o bua malus, uma mistura que se masca constituída de cal, areca e betel e representa o lado social do encontro, contribuindo ainda para atenuar o ambiente naturalmente cerimonioso.

Estes encontros rodeiam-se de rigorosa preparação, num nahi biti, (estender a esteira e sentados sobre ela, conversar, negociar…) no qual tomam parte os elementos mais categorizados das duas famílias cujo objectivo é o de negociar as condições do barlake, em linguagem figurada de significado apenas entendível e conhecido pelos mais velhos e mais sábios.

A família da noiva (a quem vamos chamar Maria) denomina-se umane. O noivo (denominado Manuel) e sua família, agora ligados por novos laços familiares, serão os feto san.

Da união de Maria e Manuel surge uma nova família, que dá lugar a novo conceito parental, o “feto san umane”.

Continua amanhã