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sexta-feira, dezembro 22, 2006 

Assim vão os tempos!

Há alguma agitação na cidade. Nas lojas populares, agora que alguns comerciantes baixaram os preços das mercadorias tornando-as acessíveis à bolsa do cidadão comum, o movimento é razoável.As pessoas procuram a melhor fatiota para o “loron boot”, o dia grande, o Natal, mesmo sabendo que as festas terão uma duração mais reduzida. Embora haja alguma agitação, a azáfama da cidade está bem longe de ser igual ao que se via em anos anteriores. Os tempos não andam bons...
Até hoje, apenas vi quatro presépios em toda a cidade quando em anos anteriores havia pelo menos um em cada quarteirão. Lá na minha rua, no ano passado havia três, todos iluminados, guardados dia e noite pelos jovens que passavam o tempo tocando viola ou conversando fora de horas.
As figuras dos presépios de rua que se tornaram um sinal da identidade do povo timorense durante os tempos da ocupação são pintadas em cartão. Em cada cabana coberta de colmo, atapeta-se o chão de relva, plantam-se umas flores à volta e, se a contribuição das gentes do bairro tiver sido boa, colocam-se balões e luzes alindando o espaço que se quer ponto de veneração a Jesus e também de convívio.Vale o empenho, a imaginação e a arte de cada grupo.
O único presépio da Aldeia 30 de Agosto ( o nome a recordar o referendo que permitiu a independência de Timor-leste) foi desta vez feito uns metros depois do campo de futebol junto à Igreja de D. Bosco.
Mas, ali mesmo, ontem, a meio da tarde, dois grupos rivais resolveram – uma vez mais – manifestar-se violentamente, deitando abaixo o princípio de que tempo de Natal é tempo de Paz até porque,cmo diz a D. Marta já não há respeito por nada nem ninguém! Apareceu a polícia e deteve alguns jovens. O presépio, contudo, manteve-se intacto!
Nos mercados, o movimento não aumentou muito até porque grande parte da população foi de férias para a montanha.
O Natal em Díli não tem muito o cariz comercial a que estamos habituados no Ocidente. Não é hábito a troca de prendas. Por uma questão cultural, provavelmente, mas também porque não há dinheiro para se despender em prendas. Dá-se mais realce ao lado espiritual, sendo importante a participação de cada família nas cerimónias religiosas.
Na rádio ouve-se muita música de Natal cantada em tétum, em português, indonésio e inglês.
A família reúne-se, melhora-se o rancho. Come-se carne - um luxo na mesa dos timorenses! – e, como diz o Januário, cozinha-se o que não é hábito fazer-se nos outros dias do ano. É ainda Januário que comenta “não sei como vai ser este ano, as pessoas estão fora de suas casas!”
Ainda não vi ninguém sentado à beira da estrada fazendo as cestinhas de folha de palmeira onde se introduz o arroz que depois de bem temperado e regado com leite de coco é cozinhado e se transforma nas célebres e saborosíssimas “catupas”. Provavelmente estarão sendo feitas no sossego do lar, onde sempre há mais segurança que na rua...
Há quem tenha visto ontem uns quantos homens mal cuidados vestidos de camufaldo passeando e olhando displicentemente as bancas junto ao antigo Mercado Municipal e quem assevere que os antigos combatentes vão descer à cidade.
Pois... os tempos não estão mesmo de feição...

Este comentário foi removido pelo autor.

Oi!
Eu gostei muito do seu blog.. Não me canso de ler todos os posts que você anda fazendo em relação ao Timor.
Eu espero que vc veja esse comentário neste post mais antigo, mas é pq não consegui postar comentários na sua última postagem "Timor 2006".
Eu sou de Belo Horizonte, Brasil e estudo Relações Internacionais e Direito. Eu estou fazendo um trabalho em relação ao Timor e creio que você poderia me ajudar.
Não achei seu email neste blog, mas se pudesse me contactar, meu email é:
lidinha_lage@yahoo.com.br

Feliz Ano Novo e que Deus a abençoe. E abençõe também o povo timorense que tanto já sofreu...
Beijos

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