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sábado, julho 02, 2011 

Há dias, em Aileu, distrito situado nas montanhas, onde o clima é quase sempre de Primavera – nunca chegando ao calor e à humidade de Díli - e a paisagem quase nunca deixa de ser verde, a inauguração de uma estação de água suficiente para suprir as necessidades de Díli (onde vivem quase 200 000 almas e é quase um luxo a água canalizada que cai pingo a pingo ou, pura e simplesmente desaparece das torneiras dias e dias seguidos nos bairros de maior densidade populacional e mais pobres!), levou à capital daquele distrito altas personalidades do Governo, diplomatas, jornalistas e muita população.
Era meio-dia, hora dos Rai-nain, dos verdadeiros donos da terra sagrada de Timor, quando a alta individualidade do Estado iniciou o seu discurso de circunstância.
Eis senão quando das profundezas da terra surgiu uma jibóia de uns bons metros que se deixou estar estiraçada ao Sol, de cabeça bem levantada... Algum desconforto, algumas vozes cochichando - é o Rai-nain e veio ouvir... agradam-lhe a obra e o discurso... veio dar a sua autorização... – o próprio governante comentando que “ é a natureza”, e em jeito de distante altivez qual soberano perante os seus súbditos, “percebido” o discurso, a jibóia escancarou a boca, deitou a língua de fora – não consta que alguém tenha ouvido as suas palavras talvez por não serem seres de eleição ou talvez também porque não percebiam o seu linguajar... - e recomeçou ondulando, retirando-se em direcção à sua morada.
Todos a viram, o jornal até mostra fotografias da distinta visitante displicentemente estendida por detrás das individualidades, mas ninguém a perseguiu nem quis bem saber onde fica o reino da poderosa e impressionante criatura. Certo é que ela apareceu para marcar o seu lugar e deixar o aviso de que nada em Timor passa incólume ou é ignorado pelos verdadeiros donos da Terra, os Rai-nain, sejam eles árvore, cobra, lafaik, pássaro ou pedra... E nós, simples mortais, só cá estamos e só usufruímos do que a Terra nos proporciona porque eles o permitem...
Acho que compreendi melhor o sentido da relatividade e da efemeridade do Poder. Mais ainda, da Vida!

Pois, e depois desta historia, da para cada vez acreditarmos mais quando se diz que Timor eh rai Lulic.

Obrigado pelas suas crónicas de Timor, que todos lemos deliciados e nos ajudam a matar as saudades.
É pena serem poucas.
Augusto Lança - Sines

Adorei ler todos estes comentários.
Penso que sei e nada sei.
Grata.

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