Manda quem pode...
Quando, em Janeiro de 2000 regressei a Timor, ainda o ambiente estava impregnado do cheiro a cinza, as casas em bom estado contavam-se pelos dedos, a água escasseava, não se ouviam pássaros e as pessoas andavam um bocado perdidas ainda sem saber que fazer da sua vida...
Por essa altura, já os meus irmãos Manuel, João e Gabriela aqui se encontravam. O Manuel, regressado de Lisboa onde vivera escassos meses após o massacre de 17 de Abril de 1999, vivia em Comoro, num contentor transformado em quarto de hotel; a Gabriela, veio de Melbourne onde se encontrava há mais de vinte anos e partilhava uma casa em Taibessi com duas sobrinhas. E o João, que havia regressado em Outubro de 1999 vindo de Sidney - onde vivia desde 1977, onde trabalhava e lutava pela independência de Timor sendo um dos elementos activos da Resistência no exterior -, dormia numa tenda minúscula, no terreno que circundava uma casa incendiada e completamente em ruínas situada na Praia dos Coqueiros.
Um dia, um ser solidário cedeu uma caravana e o João passou a ter um tecto melhor; depois, João começou por desimpedir de escombros o espaço junto a uma parede que havia permanecido milagrosamente intacta da destruição indonésia; era o começo de uma casa, da “sua” casa; trouxe a mulher, ergueu de uma parede uma nova casa, construiu alguns anexos, deu guarida a uns quantos refugiados na crise de 2006, alargou a varanda porque havia de existir espaço para o convívio com familiares e amigos, plantou árvores e flores, fez a sua horta, criou alguns animais de estimação, enfim, criou um espaço aprazível!
A par das obras, João foi tratando de regularizar a situação com o objectivo de estabelecer um contrato de arrendamento com a UNTAET (quando Timor ainda estava sob administração da ONU) e os sucessivos governos pós-independência. As negociações com o Governo foram sendo adiadas e, de repente, caíram no esquecimento do Governo/Direcção de Terras e Propriedades.
Passados alguns anos, o Governo decide que precisa “daquela” casa. Envia, na ausência de João, uma carta que diz ter entregue a um empregado. E João, que se encontra actualmente no estrangeiro no exercício de um cargo oficial em representação do Estado timorense recebe – quando este ano aqui se encontrava de férias – a visita da poderosa Direcção de Terras e Propriedades acompanhada da comunicação social ( sim, porque estas coisas necessitam de ter cobertura televisiva!). Não veio a Polícia não sei bem porquê. João tinha de abandonar naquele mesmo dia a casa do Estado. Se estava doente, se tinha para onde ir, se havia de guardar os seus bens? Mas isso é importante? ... Bem, finalmente uma réstia de compreensão e o prazo de saída foi prorrogado; podia ficar mais uns meses, o tempo necessário para arrumar as suas coisas. João regressou ao país onde está em missão oficial acompanhado da mulher que umas semanas depois teve de regressar a Díli. Para arrumar os seus pertences. E um dia, logo nos inícios de Junho, a Rosinha deixou a “casa de Estado”. Oficialmente, alguém agradeceu à família o facto de o ter feito voluntariamente (alguém me pergunta se a família ficou na rua. Mas isso é importante?). Se as autoridades/Estado querem e decidem, só há que obedecer!
Triste e desencantada, apenas me ocorre assinalar o desprezo e a sobranceria com que o Estado timorense tratou um dos seus.
Por essa altura, já os meus irmãos Manuel, João e Gabriela aqui se encontravam. O Manuel, regressado de Lisboa onde vivera escassos meses após o massacre de 17 de Abril de 1999, vivia em Comoro, num contentor transformado em quarto de hotel; a Gabriela, veio de Melbourne onde se encontrava há mais de vinte anos e partilhava uma casa em Taibessi com duas sobrinhas. E o João, que havia regressado em Outubro de 1999 vindo de Sidney - onde vivia desde 1977, onde trabalhava e lutava pela independência de Timor sendo um dos elementos activos da Resistência no exterior -, dormia numa tenda minúscula, no terreno que circundava uma casa incendiada e completamente em ruínas situada na Praia dos Coqueiros.
Um dia, um ser solidário cedeu uma caravana e o João passou a ter um tecto melhor; depois, João começou por desimpedir de escombros o espaço junto a uma parede que havia permanecido milagrosamente intacta da destruição indonésia; era o começo de uma casa, da “sua” casa; trouxe a mulher, ergueu de uma parede uma nova casa, construiu alguns anexos, deu guarida a uns quantos refugiados na crise de 2006, alargou a varanda porque havia de existir espaço para o convívio com familiares e amigos, plantou árvores e flores, fez a sua horta, criou alguns animais de estimação, enfim, criou um espaço aprazível!
A par das obras, João foi tratando de regularizar a situação com o objectivo de estabelecer um contrato de arrendamento com a UNTAET (quando Timor ainda estava sob administração da ONU) e os sucessivos governos pós-independência. As negociações com o Governo foram sendo adiadas e, de repente, caíram no esquecimento do Governo/Direcção de Terras e Propriedades.
Passados alguns anos, o Governo decide que precisa “daquela” casa. Envia, na ausência de João, uma carta que diz ter entregue a um empregado. E João, que se encontra actualmente no estrangeiro no exercício de um cargo oficial em representação do Estado timorense recebe – quando este ano aqui se encontrava de férias – a visita da poderosa Direcção de Terras e Propriedades acompanhada da comunicação social ( sim, porque estas coisas necessitam de ter cobertura televisiva!). Não veio a Polícia não sei bem porquê. João tinha de abandonar naquele mesmo dia a casa do Estado. Se estava doente, se tinha para onde ir, se havia de guardar os seus bens? Mas isso é importante? ... Bem, finalmente uma réstia de compreensão e o prazo de saída foi prorrogado; podia ficar mais uns meses, o tempo necessário para arrumar as suas coisas. João regressou ao país onde está em missão oficial acompanhado da mulher que umas semanas depois teve de regressar a Díli. Para arrumar os seus pertences. E um dia, logo nos inícios de Junho, a Rosinha deixou a “casa de Estado”. Oficialmente, alguém agradeceu à família o facto de o ter feito voluntariamente (alguém me pergunta se a família ficou na rua. Mas isso é importante?). Se as autoridades/Estado querem e decidem, só há que obedecer!
Triste e desencantada, apenas me ocorre assinalar o desprezo e a sobranceria com que o Estado timorense tratou um dos seus.
Maria Angela, tens muita razao quando dizes, manda quem pode....mas sera que esse poder terrestre e eterno?
Que eu saiba, nos os timorenses somos catolicos e como tal acreditamos a que mais tarde ou mais cedo iremos dar contas a quem manda mais que nos, ao Pai Eterno. so quem nao quer saber que o Joao pela dedicacao e trabalho que sempre dedicou a causa de Timor merecia mais respeito, toma uma atitude destas.
Posted by maria alice carrascalao 2:40 da manhã