Tempo de Natal
Aqui e além já se vêem alguns presépios. A avenida do aeroporto tem iluminações alusivas à época. Desta vez, diferentemente dos outros anos, o Palácio do Governo vestiu-se a preceito. Um primor! Muitas luzes, um grande presépio e uma imensa árvore de Natal. Do outro lado da cidade, na Rotunda do Aeroporto, o “monumento dos açafates” vestiu-se de árvore de Natal. E quando há energia para estas bandas – o que acontece umas horas num dia -, o sítio enche-se de populares que não se cansam de a apreciar.
E, a propósito de ornamentações, por entre as luzes da noite ou em pleno dia, caía – ou ainda cai? - triste e rota uma bandeira partidária que não merecia tão triste sorte. Ninguém se atreveu a tirá-la do sítio e, só por isso, quem a colocou lá no alto deveria tirar daí as devidas ilações. Afinal, para que precisa um partido histórico de andar a semear bandeiras pela cidade?
O tempo é de crise, sabe-se. Mas faz muito bem ao ego que haja quem se tenha lembrado de que nós, timorenses, somos como os demais povos do Mundo: também gostamos do que é bonito, leve e colorido, mesmo quando a Vida é triste, cinzenta e dura. É bom que alguém se tenha lembrado de que até os pequenos nadas são fonte de alegria para aqueles que, durante anos e anos se habituaram a conviver com o discurso de que temos de preparar os tempos dos nossos netos…
E pronto, varreu-se-me o resto do raciocínio substituído por outro surgido ao arrepio de uma primeira qualquer letra que estava para ser teclada de tão pertinente que é e que tem a ver com a pergunta que me fazia sempre que ouvia o repetido discurso argumentativo das razões do contínuo aperto do cinto em prol do futuro e dos netos:
Se não houver quem cuide do nosso presente, se se mantiver a altíssima taxa de mortalidade infantil e materna, se os timorenses continuarem a sofrer de má nutrição, se a esperança de vida é tão curta, será possível que, as que não morram à nascença e comam uns pedaços de mandioca na única refeição de um dia inteiro ou, na melhor das hipóteses, arroz e “modo fila” todos os dias disfarçado de pedacitos mínimos de carne uma vez em dia de Quase-São-Nunca, perguntava eu de mim para mim: será que eles chegarão a ter netos?