terça-feira, janeiro 22, 2008 

Não desisti!

Não desisti! É só por falta de tempo que não tenho vindo aqui postar. Mas um dia destes volto!
Entretanto, deixo-vos uma foto de Díli vista do ar. Ao fundo, Taci Tolu, as três lagoas de que se diz ser o cemitério de muitas vítimas da ocupação, onde o Papa João Paulo II disse missa e onde os jovens se manifestaram em Outubro de 1989 e onde se realizaram as cerimónias da independência de Timor-Leste a 20 de Maio de 2002.
Ia ser o jardim da paz. Quando? Alguém saberá?

domingo, janeiro 06, 2008 

Os pés em terra firme!


Já não há muitas destas casas típicas de Lospalos porque os ocupantes indonésios se esforçaram por as fazer desaparecer na sanha de destruir a cultura timorense.
Das que sobraram e ficaram em muito mau estado, umas foram reconstruídas enquanto outras - como a da foto - se transformaram em jardins suspensos não de rosas nem da Babilónia, mas de fetos de Timor!
Milagre? Não! Dádiva da Mãe Natureza!
Mas, não obstante vivermos num país de encantamento, a quase ninguém sobra serenidade e tempo para contemplar e gozar as belezas naturais em que Timor-Leste é pródigo.
Porque o nosso tempo é de vigília constante. Porque, mesmo quando o tempo melhora, ainda que deixe de chover e o vento amaine - como aconteceu hoje -, a certeza de que existem nuvens (ainda que não se vejam…) bem cinzentas, escuras, carregadas de água, não traz descanso a ninguém.
Por vezes, como hoje, custa acreditar que a vontade de paz e de estabilidade seja real ou que os caminhos para se chegar à paz tenham sido bem escolhidos…
Quase parece certo que já ninguém sabe viver em paz… Uns dias de tréguas, com o espírito mais leve, mais em consonância com a época e rapidamente veio o cansaço, o tédio pela experiência, ainda que curta, de vida em paz; a violência fez a sua reentrada triunfal quando ainda mal começara o ano de 2008...
Os intervenientes da História recentíssima estão zangados. Todos se trocam de razões, todos se acusam e todos se encontram de costas voltadas.
Todos esperam; mas, antes que todos desesperem, desejável será que todos assentem os pés em terra firme e tentem levar a sério a reconstrução da Nação timorense.
Custa assim tanto?

quinta-feira, janeiro 03, 2008 

A fúria das águas

Era um lugar de venda de fruta bem arranjado, apresentando todo o ano algumas das muitas variedades de banana e papaia e, de acordo com a época do ano, atas, tangerinas, laranjas, anonas ou abacates. Situava-se à beira da estrada, um pouco antes da ribeira de Liquiçá.
Ontem, ao fim de três dias de chuva forte e vento intenso, a água galgou o leito da ribeira, levou tudo à sua frente e a venda de fruta desapareceu. A enxurrada encarregou-se de deixar um bom depósito de lama nas casas que não ficaram destruídas.
Dizia um popular que mais umas chuvadas como a destes dias e a ponte não vai aguentar.
O que não aguentou nem mais uma chuvada foram as estradas que serpenteiam as montanhas de Liquiçá, as de Ermera e as de Bazartete. As populações ficaram mais isoladas.
Em Ermera foi a ponte para Gleno; em Bazartete, a estrada não é mais estrada, antes se tornou um monte de calhaus, troncos e terra.
Em Ebeno, antes de Pahata, a terra ruiu, desta vez de forma mais brutal que nos anos anteriores - quando a estrada ficava reduzida a um pedacinho estreito autêntico caminho de cabras, obrigando as populações locais a esventrar mais um pedaço da montanha para alargar a via – e também deixou de haver estrada.
Aliás, aquele pedaço de estrada de Ebeno foi, desde sempre, um problema sério e nunca se conseguiu – desde o tempo português - arranjar-se uma solução capaz de aguentar a fúria das águas que, em enxurrada, levam tudo à sua passagem; todos os anos a montanha se vê menos montanha e mais terra descarnada, esventrada, com menos vegetação; cada vez mais a paisagem se transforma deixando de ser luxuriante para dar lugar as hortas de mandioca ou de milho; hortas de milho verdes enquanto o milho cresce, passando a amarelo e a terra castanha e nua depois da colheita.
Havendo quem precise de lenha para cozinhar, o abate de árvores tornou-se normal. E, sem árvores para segurar os terrenos, sem uma política correcta para novo plantio de árvores, a montanha não só se torna desértica como vai dando de si, soltando-se fácil a terra, piorando as já difíceis condições de vida das populações locais, obrigando a um repetitivo e cansativo recomeçar do zero.
Agora que o tempo é de esperança e os dias do novo ano que vivemos são ainda de estado de graça porque, lá diz o ditado, “ano novo, vida nova”, esperemos que haja vontade política para que , de uma vez por todas, a reparação das estradas se faça com qualidade e se construam boas vias de comunicação necessárias para o bem estar das populações e fundamental para o desenvolvimento do país!