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terça-feira, novembro 13, 2007 

De boca aberta!

À chegada ao aeroporto de Díli, os passageiros dirigem-se a uma pequena sala para recolher a bagagem. Ali, já se encontram a postos e prontos para o trabalho os bagageiros – alguns já conhecidos - , cada um deles com um carrinho. Quem se despachar depressa das formalidades dos serviços de imigração, consegue um carrinho. E quem estiver disposto, ou prefira ficar ligeiramente afastado do amontoado de pessoas, ou ainda quem não queira ficar ainda mais suado, aceita a oferta de trabalho do bagageiro e espera que ele faça a recolha das malas.
Não sei que vínculo liga os bagageiros de ocasião aos serviços de Aviação Civil ou ao Ministério que tutela esses serviços. Não sendo funcionários, não sei como entram num espaço cujo acesso é ou deveria ser reservado, como aliás acontece na sala das partidas.
Estava eu à espera da minha bagagem, tinha até deixado a minha carteira a assinalar a posse temporária de um carrinho, os braços em descanso sobre o mesmo, quando um “bagageiro” mais ocasional que os outros embora com ar de quem estava em sua casa e sem pose de trabalhador antes de vadio provocador, vestido de verde escuro, barba por fazer, os óculos escuros sobre o boné, agarra nos meus pertences e, enquanto os atira para o carrinho de uma outra senhora, diz em tom sobranceiro de quem sabe que tudo pode porque nada lhe acontece que ele é rei e senhor das redondezas e todos devem obedecer-lhe que o Mundo Timor é dele e nós temos de ter cuidado antes que ele se vingue: este carrinho é para mim e para os meus amigos!
Estupefacta, ainda tive tempo para questionar “porque não posso ficar com o carrinho?” E lá veio pronta “elucidativa” resposta “Porque não!”
O “senhor” de ar vadiola afastou-se para o lado contrário, recolhendo umas malas, sempre com aquele ar de quem sabe que venceu.
Quem viu, ficou como eu. De boca aberta. A reacção ficou-se por aí. Senti-me impotente. Acredito que os outros também. O que, passado aquele pedaço, me deixa a inconfortável sensação de que estamos a ficar sem capacidade de reacção, com medo, sabe-se lá bem de quê! Sem dar por isso, estamos a pactuar com os vadios provocadores que pululam pela cidade. Sem nos darmos conta, estamos a aceitar como facto consumado o estado anárquico que, desde 2006 tomou conta do país. Não quero tornar-me cúmplice desse estado de coisas, menos ainda dos fabricadores da desestabilização. Nem tenho de aceitar a inversão de valores que os vadios provocadores querem continuar a impor. E por isso me incomoda tanto não ter conseguido reagir e ter-me deixado ficar, apenas, de boca aberta!

O que acontece e que por vezes ficamos tao estupefactos que nem conseguimos reagir. Que tristeza!

É o que acontece desde há um ano com Reinado que pôs todas as novas autoridades timorenses de joelhos, excepto a Justiça (mas não pode actuar) por se julgar ser ele próprio o povo e a lei. No fundo o que é um bagageiro ao lado do protegido Reinado, agradecia que nos respondesse um dia mas talvez não o possa fazer por razões familiares...

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